22 de out. de 2007

ELES TÊM MEDO DO LOBO MAU

ABRAHAM SHAPIRO

Se você pedir a opinião de um funcionário sobre uma situação qualquer, o que ele dirá? Depende do tipo de líder que você é.

Um chefão jamais conseguirá obter a opinião sincera e confiável de qualquer membro de sua equipe. Pode ser que consiga na primeira vez. Da segunda em diante, as pessoas dirão somente o que ele deseja ouvir. É fácil entender. “Gato escaldado tem medo de água fria”.

Da Revolução Industrial até a Era da Informação a liderança evoluiu desde o estado autoritário absoluto ao democrático participativo. A pregação que os gurus mais repetem é: “O líder autoritário morreu; hoje, só sobrevive o líder carismático”. Portanto, segundo este quase-preceito, conhecer a opinião da equipe é uma prerrogativa do verdadeiro líder, o líder inspirador. A esse respeito, estamos conversados.

Um dado não aferido, mas percebido, mostra que os “chefões” continuam sendo o tipo mais comum no comando da assustadora maioria de empresas deste país.

Como identificá-los? Eles nem sempre gritam, nem têm um bigodinho retangular colado a um nariz fino, olhar penetrante e cabelo liso levemente caído em ângulo sobre a testa. Parecem bonzinhos. Muitos são cultos, graduados e se mantêm bem informados sobre negócios e temas afins. Mas no campo das pessoas são uma verdadeira negação. Eles oprimem, mostram-se rancorosos e vingativos, assumem a postura de “sabe-tudo” e acreditam ter razão em todas as circunstâncias. São perseguidores e se orgulham assumidamente de sua “experiência de vida” que, em quase todos os casos se resume no ganho de algum dinheiro em circunstâncias não claras e nada mais.

Um importante ponto a ser destacado é o caráter “barraqueiro” dos chefões. Eles têm facilidade em transformar as situações mais simplórias em lamentáveis e vergonhosos escândalos envolvendo os que divergem de seu ponto de vista. Gostam de alimentar competição entre as pessoas, de promover confrontos e de jogar um contra o outro nas ocasiões menos necessárias. Eles têm um prazer que beira o sadismo em chatear ou deixar marcas negativas profundas nas pessoas cujos papéis poderiam ser desempenhados de modo proativo em processos com que estão envolvidas na empresa.

Mas todos estes atributos são camuflados e nunca admitidos. O chefão jamais assumirá uma fraqueza própria. Caso isso aconteça, ele estará negando sua natureza ou dando passos na sua cura ou retificação. Ele é um camaleão. Deseja e exige reconhecimento de todos – reconhecimento que não sabe dar de modo apropriado a ninguém. Quer ser notado como o salvador messiânico da vida das pessoas. Um de seus discursos mais acalorados e repetidos fala sobre as grandes oportunidades que está “dando” aos que necessitam de emprego e de um salário digno. Já ouvi um dizendo: “Na minha empresa eu sou o gestor dos recursos humanos”. Isso me lembra “L´état c’est moi” – “ O estado sou eu”, dito pelo absolutista francês Louis XIV, patriarca de todos os chefões da história.

Por tudo isso é possível imaginar do que um chefão não é capaz.

Do lado dos colaboradores, a experiência de conviver com um ser dessa categoria produz a percepção única de que nunca haverá condições propícias para expressarem suas convicções, opiniões ou impressões a respeito do que quer que seja. Falar o que se pensa só irá produzir desgastes. O risco de acidente com vítima é garantido. Então, por quê abrir a boca? Todos se deixam passar por fantoches. Falam, mas não o que pensam; agem, mas não com suas atitudes.

A pergunta que emerge deste cenário é: num mundo cujo principal atributo é a comunicação e a liberdade, o que se ganha com a dominação pela força? Mais fácil seria listar o que se perde. Perde-se inovação, produtividade, desenvolvimento de habilidades e competências e muito mais. Isto é só uma breve lista de prejuízos. Tudo em função de uma ilusão de ordem, disciplina e soberba.

Mas enquanto os chefões rendem todo este sacrifício em favor de falsa disciplina e ordem, no outro prato da balança estão o ódio, o permanente desejo de se “dar um troco” na primeira oportunidade, além de uma ampla variedade de sentimentos primitivos cuja insalubridade e periculosidade acabam punindo tão somente a empresa - sem contar os crescentes processos e condenações por assédio moral. Conclusão, vida é vida – empresarial, social, familiar ou pessoal. E a base de sua manutenção é uma só: colhem-se os frutos daquilo que se semeia!!!

P.S: Louis XIV morreu em 1715. Deixou uma França empobrecida e cheia de problemas. O povo o odiou e acabou se vingando em seu neto, Louis XVI, morto na guilhotina durante a Revolução Francesa.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473