2 de ago. de 2007

O CAPITAL HUMANO E A EQUAÇÃO DO LUCRO

ABRAHAM SHAPIRO
No início da Revolução Industrial a teoria do capital declarava que a riqueza era alavancada por meio de investimentos em ativos tangíveis. Fábricas e máquinas eram os geradores e indicadores da riqueza.

A teoria sustentava que os trabalhadores tinham direito à remuneração somente pela contribuição de sua mão-de-obra, visto que os fatores que originavam o lucro eram provenientes dos equipamentos. Não houve, naquele momento, nenhuma iniciativa que assumisse o desafio de demonstrar de forma conclusiva o valor relativo ao elemento humano na equação do lucro.

Nos anos 80 a liderança do mercado era conseguida pelas empresas que tivessem o poder da informação. A ordem era investir em informática e equipamentos de automação. Esta fase foi seguida pela Era do Conhecimento, atualmente em curso. Uma forte e crescente evidência foram dadas ao termo “recursos humanos” a partir de então.

É curioso observar que até algum tempo atrás as empresas não se davam conta de que ao contratar pessoas para suprir necessidades de mão-de-obra elas agregavam gratuitamente à organização os seus ativos intangíveis: inteligência, atitudes positivas, confiabilidade, responsabilidade, habilidade em aprender, criatividade e sensatez. Estes traços acompanham o ser humano por onde quer que vá. Além da força ou mente de trabalho, todos estes elementos estão presentes no homem convergindo em forma de desempenho profissional, afinal, uma pessoa não tem como desvincular-se de sua alma, suas emoções e coração quando dedica-se a seus afazeres, sejam quais forem.

Assombrosamente, cada vez mais os produtos se assemelham entre si. Tendem a ser todos iguais. Os programas de padronização da qualidade se encarregaram de estabelecer parâmetros máximos e mínimos em que tudo o que se produz acaba de uma forma ou de outra se enquadrando em uma mesma faixa de características e materiais. Os sistemas gerenciais seguem a mesma regra. Todas as outras variáveis como dinheiro, crédito, materiais, infra-estrutura, equipamentos e energia não tem nada a oferecer além de seus potenciais inertes. Pela sua natureza nada agregam até que um ser humano – seja ele um alto executivo, um profissional liberal ou um operário da mais baixa qualificação – promova a utilização desse potencial, colocando-o em operação. Isso pode constituir um simples apertar de botão.

Como entender, então, o quadro que acaba de ser exposto? O mundo vive hoje uma contraposição à teoria do capital que definia riqueza e lucro no início da industrialização. As pessoas passam a ser consideradas o grande diferencial para as organizações. O capital humano é, definitivamente, o mais novo elemento na equação do lucro e, na verdade, aquele que passa a ponderar o resultado final.

Em razão disso, o processo de capacitação passa a ter a missão de ensinar o indivíduo a recontextualizar o seu significado e a aprender a fazer uma efetiva autocrítica. O novo modelo em ascensão irá inverter a questão dos valores que foram considerados pela administração até agora. Talvez um ótimo começo seja observar que as pessoas, ao saírem da empresa, levam consigo a racionalidade do “como fazer” além de todo o capital investido em treinamento e desenvolvimento desta habilidade.

Desta forma, o segmento produtivo carece, urgentemente, de interlocutores capacitados a comunicar ao empresário que, apesar da dificuldade de avaliar o retorno sobre o investimento realizado sobre o capital humano, este é, no final das contas, o único componente econômico que pode agregar valor à organização.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473