10 de ago. de 2007

DESISTIR: VERBO PROIBIDO

ABRAHAM SHAPIRO
O maior erro de um ser humano é desistir. Erro pior se ele for um líder. Aceitar as limitações de si mesmo ou de sua equipe como status quo e deixar de acreditar no potencial de cada um para a grandiosidade é, intrinsecamente, um fracasso.

É fato que, com o passar do tempo, todo otimismo vai dando lugar ao realismo e facilmente as pessoas acabam se acostumando com a depressão e expectativas desanimadoras. Como resultado deste cenário, surge a desistência. Os sintomas aparecendo, principalmente, na comunicação. É quando se aceita que já não é possível comunicar tudo o que é necessário às pessoas envolvidas nos processos.

Observe a fala típica de alguns pais a seus filhos: “Quando você tiver minha idade, vai entender”. Cabe aqui uma pergunta que ninguém faz: “Entender o que?” Talvez queiram dizer : “Quando tiver minha idade você terá desistido, da mesma forma que eu o fiz”. A liderança tem situações similares. Já ouvi líderes dizendo à sua equipe: “No meu lugar, vocês não resistiriam”. Desistir de crescer e começar a se preparar para a “morte” não é atitude de um pai. Menos ainda de um líder verdadeiro.

Poucos têm a percepção de que esse exato momento é uma imensa oportunidade para a renovação dos ideais, dos propósitos, das metas e de tudo o que a equipe – as pessoas – podem vir a ser. É a hora do retorno ao desejo original de ser inspirador e de exercer o seu potencial.

Liderança – como a vida – é uma situação que depende de um significado, de um sentido. O futuro – e o sucesso que virá com ele – dependerá do que for feito a partir de agora e, principalmente, de como for feito. Portanto, depende da atitude a ser tomada no presente. O que for empreendido no tempo atual será colhido amanhã.

Portanto, se você ocupa uma posição de liderança, todo o seu esforço para crescimento pessoal e o de sua equipe são as sementes que, amanhã, se converterão em uma colheita farta. Como justificaremos um futuro sem resultados? Pois, se desistirmos – seja de nossa equipe ou de nós mesmos – teremos condenado nosso futuro a ser um vazio sem propósito

Se, hoje, tudo o que você tem diante de si são dúvidas, isto é um aviso. A mensagem é: chegou o momento de avaliação e reorientação. Qual era a proposta original? O que, hoje, precisa ser reconhecido em relação à trajetória até aqui? Há erros acumulados? É tempo de corrigi-los! O que saiu errado com suas boas intenções?

Recorra ao conceito de arrependimento. Arrepender-se não é ter culpa nem vergonha. Arrependimento é o reconhecimento realístico de um prejuízo. Culpa, por outro lado, resulta em danos e até em auto-destruição. A culpa leva a pessoa a esquivar-se da responsabilidade. Já o arrependimento é uma percepção de que houve perda de oportunidades e conduz a um rearranjo das condições para se prosseguir na busca do alvo. Quando cai dinheiro de meu bolso, lamento a perda, costuro o furo e a continuo a viver. Isto é arrependimento. Não se deve perder tempo com culpa. Erros são caros demais para repeti-los. Nossos erros nos alienam e nos expulsam de nós mesmos, nos separam das outras pessoas.

Imagine um profissional autônomo e outro assalariado. Ambos trabalhando duro. Há uma enorme diferença entre eles. Normalmente, o assalariado não tem maiores interesses particulares na empresa em que trabalha, com exceção do fato de que lhe remuneram.

Se a companhia não prospera, ele fica apático e perde o seu estímulo pessoal. Já o autônomo, por outro lado, coloca toda sua energia no trabalho que desempenha. Ele é sua própria empresa. Ele vibra nos momentos de triunfo e sofre com as dificuldades. Quase nunca tem falta de estimulo porque sua visão contínua é de esforço em busca de prosperidade.

Ao contrário do assalariado – cuja remuneração é fixa desde o início, com lucros de eventuais e limitados bônus – o autônomo sabe que o céu e o limite. O sucesso é o seu sucesso.

Liderança é ter a mesma motivação que o trabalhador autônomo. O benefício de todos é o benefício do líder. Por isso, ele luta e insiste até atingir os objetivos da equipe. Ele planeja, faz, estuda, age, corrige os planos, realiza as mudanças, estuda novamente e o ciclo não pára nunca. A cada giro desta roda, uma nova energia é adicionada ao processo. E todos desfrutam disso e recarregam-se desta energia.

Vejamos de um outro ângulo: um ser humano se cansa de respirar? Por que não? Porque inconscientemente ele entende que a vida depende de respiração. Monotonia, cansaço e possibilidade de desistência só ocorrem naquelas áreas em que a pessoa vê como opcionais.

Respirar não é opcional, é obrigatório. Assim, também, quanto mais o líder encara sua liderança como uma missão a ser desempenhada com igual dependência à que o corpo tem do ar, ele estará eliminando definitivamente a palavra “desistir” de seu dicionário.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473