10 de ago. de 2008

SEJA FRANCO, SE QUISER PROSPERAR

Álvaro Oppermann

A transparência virou uma questão de sobrevivência para as empresas


O professor e autor Warren Bennis é um dos monstros sagrados da administração. Em 1961, obteve a façanha de inaugurar o campo de estudo da liderança empresarial ao escrever um artigo sobre esse tema - cuja literatura então engatinhava - que foi publicado na Harvard Business Review e se tornou um clássico. O Financial Times elegeu sua obra "Líderes", de 1985, "um dos 50 livros de negócios mais importantes da história".

Aos 83 anos, Bennis não pára. Em fins de junho lançou, em parceria com Daniel Goleman - de Inteligência Emocional - e James O'Toole, um novo livro, Transparency - "Transparência"-, composto de ensaios independentes.

É bom estar preparado: Bennis é um daqueles raros autores de radar infalível para identificar e sinalizar novos rumos e tendências de escala global; no caso, os da liderança e da gestão corporativa. Recuando um pouco no tempo, sua obra Os Gênios da Organização: as Forças Que Impulsionam a Criatividade das Equipes de Sucesso colocou em circulação a idéia, hoje em voga, do fim do gênio solitário nos negócios. "Transparência" deve seguir a mesma trilha inovadora.

O subtítulo do livro, sem meias palavras, dá o recado na hora: "A criação de uma cultura de franqueza nas empresas". Numa época em que a reputação de uma organização ou de um líder pode ir por água abaixo num clique de mouse, a transparência se tornou questão de sobrevivência, e a miopia quanto a esse ponto se tornará suicídio corporativo - eis o alerta de Bennis.

No mundo da transparência, o alto escalão das companhias irá conhecer uma profissionalização sem precedentes, e a pressão sobre a presidência e o conselho aumentará. "CEOs terão cada vez mais de prestar contas aos grupos de interesse, e terão de ser muito mais cautelosos", diz. "O lado positivo disso será a maior transparência. O lado negativo é o aumento da aversão ao risco entre os presidentes na questão da liderança." Bennis aposta igualmente na separação crescente entre as funções executivas e não executivas na direção da companhia, algo típico do modelo inglês de gestão. Ou seja: aumento da fiscalização corporativa.

Sobre este ponto, aliás, Bennis é incisivo e não mede palavras em sua crítica a muitos conselhos de empresa. "Foi-se o tempo em que o presidente tinha uma relação camarada com os seus membros", constata o autor. "É muito importante que estes não sejam mais escolhidos por serem velhos amigos de fulano ou sicrano, ou colegas dos tempos de faculdade de alguém. Um membro de conselho não precisa ser necessariamente uma pessoa da qual somos íntimos. Ele deve ser escolhido, isso sim, pelo currículo."

Como dá para ver, o leão ruge. Para desconforto de alguns, e esclarecimento de muitos. O bom e velho Warren Bennis ainda tem muito a nos ensinar.