8 de fev. de 2008

COMO CONTROLAR A RAIVA

Rabbi Kalman Packouz

Certa vez ,estacionei em frente a uma pizzaria para comprar pizza para a minha família. Quando saí, havia um homem encostado em meu carro. Ele estava de cara feia, braços cruzados e pernas sobrepostas. Olhou para mim com os olhos faiscando de ódio e falou num tom agressivo: “Então é você?” Perguntei: “Eu o que?” Furioso, ele respondeu: “Aquele que bloqueou o meu carro!”

Olhei e realmente não havia espaço para manobrar o carro para fora do local onde estava estacionado. Abaixei as pizzas e falei: “Sinto muito. Não percebi que o havia bloqueado. No futuro, tomarei mais cuidado para que isto não aconteça. Por favor, me desculpe pelo seu tempo perdido e por ser o motivo de sua irritação”.

O homem desencostou do carro e veio em minha direção!... e me deu um enorme abraço! Ele exclamou: “Esta é a primeira vez que ouço alguém pedir desculpas e não arrumar confusão. Pode me bloquear sempre que quiser!”

Essa história é verídica.

Todos os dias, nos deparamos com pessoas preocupadas e angustiadas. E de vez em quando nós mesmos estamos assim.
Toda pessoa está correta para si mesma. Enxergamos muito facilmente quando estamos certos, quando o outro está errado e quando ele ou ela é merecedor de nossa fúria. É difícil ser racional e misericordioso quando se age com a emoção.

O que podemos fazer para sermos melhores? Uma técnica é “Vá ao camarote”. Finja que está num teatro, assistindo a uma peça, sentado num camarote. Você não está envolvido; apenas observando. Seremos então, capazes de enxergar nossa situação,mais objetivamente e com menor subjetividade.

Pergunte-se: “Se eu fosse a outra pessoa, como reagiria?” Enxergar de outro ponto de vista, ajuda a ativar o nosso lado racional e, conseqüentemente, a calma.

Fale com um tom de voz suave. Uma voz suave afasta a raiva. Não diga nada que vá inflamar a outra pessoa. Não a interrompa quando estiver falando – isto demonstra falta de respeito e é irritante. Focalize naquilo que pode concordar. Desculpe-se onde puder.

Por último, saiba que todos os seres humanos, em algum grau, são um pouco insanos. A insanidade é definida como 'fazer a mesma coisa repetidas vezes e esperar um resultado diferente'. As pessoas não querem perder o controle e ficar bravas, mas fazem isto repetidamente. A vantagem de saber que somos todos um pouco loucos é tripla:

1) Podemos ter mais compaixão dos demais;

2) Podemos ter mais compaixão de nós mesmos e

3) Sabendo que somos um pouco malucos, podemos tomar sobre isso alguma providência! Quando não sabemos que há um problema, não podemos e nem iremos fazer nada a respeito.

Existe outra técnica que aprendi em Israel, embora não tenha certeza que vá funcionar em outro lugar. Permita-me contar.

Quando eu trabalhava no Centro Educacional Aish há Torah, na Cidade Velha de Jerusalém, o Quadrilátero Judeu tinha um estacionamento com apenas uma entrada/saída. Isto significa que regularmente um carro queria sair e outro queria entrar ao mesmo tempo. Um dia testemunhei uma ‘partida de pingue-pongue’ verbal entre dois motoristas discutindo quem deveria retroceder e dar passagem ao outro.

Nenhum teve sucesso em persuadir o outro. Engraçado! Lembrei-me de que um espectador sugeriu que os dois fizessem um duelo ao estilo do Velho Oeste americano e o perdedor daria marcha à ré. Os dois concordaram que o espectador era louco e voltaram a gritar um com o outro.

Finalmente um dos contendores, confiante e desafiadoramente, perguntou: “Yesh lehá teudat normali?” (tradução: Você tem um Certificado de Sanidade?)

O outro ficou perdido, sem palavras, e não respondeu. Voltou ao carro, deu a ré e deixou o primeiro rapaz entrar no estacionamento.

No dia seguinte, fui visitar um senhor no Hospital Hadassa. Um homem me perguntou como chegar a um determinado endereço. “Desculpe-me, mas eu não sei”, respondi. Imediatamente ele começou a açoitar-me verbalmente: “Como você não sabe? Você deveria saber!...” Fui ao ‘camarote’ e disse para mim mesmo: “Isto é bizarro”. Então me lembrei do que tinha visto no dia anterior no estacionamento! Eu o interrompi e perguntei: “Com licença. O senhor tem Certificado de Sanidade?” Ele olhou para mim como se tivesse levado um choque elétrico, calou-se e foi embora.

Como eu disse antes, vocês podem tentar, mas não sei se vai funcionar em algum lugar fora de Israel.
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Rabi Kalman Packouz é rabino chefe do Aish haTorah em Miami, USA