23 de nov. de 2007

EMPRESA VENDE MILHÕES COM 3 PALAVRINHAS

Glenn Rifkin

Ainda que tenha quebrado o pé dançando no casamento de seu irmão, em um final de semana recente, a vida continua boa para Bert Jacobs.


Jacobs, 42, fundou a "Life is good" (A vida é boa), uma popular marca de roupas sediada em Boston que deve superar a marca dos US$ 100 milhões em vendas, este ano.

O sucesso da marca representa um momento inesperado para Jacobs, que cerca de 12 anos atrás estava vendendo camisetas nas ruas de Boston, em um furgão amassado, com a ajuda do irmão John, 39.

Com base em um desenho quase infantil de um personagem que os dois criaram e batizaram Jake e no slogan inspirador que usaram como nome da empresa, os dois irmãos desenvolveram uma marca de roupas vendida em 4,5 mil pontos de varejo independentes, nos Estados Unidos e em 27 outros países.

De 1994 para cá, eles venderam quase 20 milhões de camisetas "Life is good", e agora oferecem uma linha de produtos com mais de 900 artigos, de chapéus a camas para cachorros. A empresa continua a crescer entre 30% e 40% ao ano, e no momento opera 93 lojas de marca, franqueadas, que vendem apenas os seus produtos. O grupo pretende expandir sua rede própria a 200 lojas, pelo final de 2009. E, apesar de todo esse volume, a empresa tem apenas 250 funcionários diretos.

A empresa, que raciona o uso de maiúsculas, oferece mais um exemplo de uma grande marca criada por uma pequena empresa. Embora a maioria das pessoas associe as grandes marcas a gigantes do mercado como Procter & Gamble, General Motors, Apple e Nike, a capacidade de construir uma marca poderosa já não está reservada aos maiores investidores. Pequenas empresas com boas idéias e estratégias bem planejadas - as correntes para bicicletas Kryptonite, o iogurte Stonyfield Farm, a Zipcar - geraram marcas renomadas.

"Uma grande marca surge devido a percepções aguçadas obre a cultura e os consumidores e aquilo de que eles precisam", diz Susan Fournier, especialista em marcas e professora associada de marketing na Escola de Administração de Empresas da Universidade de Boston. "Para mim, isso nada tem a ver com grandes orçamentos".

"A 'Life is good' conseguiu encontrar um apelo emocional que atingiu com força as pessoas no momento vivido pela cultura quando a marca surgiu. Isso não é feito com um orçamento de marketing, mas sim com a ajuda dos consumidores, que se tornam propagadores dos produtos e dão visibilidade e credibilidade às marcas", acrescentou.

Empresas iniciantes de Internet como Google, YouTube, Craiglist e Facebook usam a web para se promover e se tornaram gigantes do mercado. O Facebook, um popular site de redes sociais, por exemplo, foi criado em um quarto do alojamento de estudantes da Universidade Harvard por três alunos de graduação, há menos de quatro anos.

Hoje, com um quadro inferior a 300 funcionários, a empresa tem quase 50 milhões de usuários ativos e vem assinando 200 mil usuários novos ao dia desde janeiro. Novas marcas podem ser iniciadas online com velocidade e eficiência impressionantes, por pequenos grupos de empreendedores que compreendem o impacto do ambiente viral da web.

Criar essa onipresença para uma marca fora do mundo virtual é bastante mais complicado. Ainda que o plano inicial dos irmãos fosse apenas o de vender camisetas em quantidade suficiente para bancar o modesto aluguel de seu apartamento, evitando a necessidade de procurar empregos de verdade, Bert e John Jacobs sempre acreditaram que tivessem a capacidade de produzir uma camiseta melhor, e transformaram essa crença em um negócio respeitável.

Eles costumavam colocar seus desenhos para as camisetas e os dizeres que pretendiam usar nelas nas paredes de seu apartamento, no subúrbio de Boston, e costumavam consultar os amigos, nas freqüentes festas de universitários a que eram convidados, para descobrir como eles reagiam às idéias propostas pelos Jacobs. "O que nós tínhamos, na verdade, era muito parecido com um grupo de foco organizado profissionalmente", diz Bert.

Em busca de alguma coisa que pudesse ecoar junto a uma grande audiência, eles criaram Jake, um personagem desenhado toscamente e bem parecido com a famosa "carinha feliz" amarela, e ficaram surpresos com a maneira pela qual o desenho inspirou reações intensamente positivas.

"Esse cara sabe exatamente o que ele deseja da vida", escreveu um amigo ao lado do desenho do personagem. Mais tarde, os dois apresentaram ao seu grupo de amigos uma lista de 50 slogans que haviam desenvolvido e obtiveram reação semelhante à expressão "life is good", por mais corriqueira que ela pareça. Uma amiga deles comentou que o slogan, com suas três palavrinhas simples, "mais ou menos resume tudo que precisa ser dito".

Os irmãos produziram um primeiro lote de 48 camisetas combinando o desenho e o novo slogan, e as colocaram à venda em uma feirinha de rua realizada em Cambridge, Massachusetts, em 1994. Os Jacobs levaram apenas 45 minutos para vender todo o lote.

Naquela mesma noite , os dois irmãos decidiram conversar seriamente e decidiram que o fato de que tivessem se saído tão bem com a nova idéia resultava de sua mensagem de otimismo. "O motivo para que as pessoas comprassem aquelas camisetas", disse Bert Jacobs, "era o fato de que as compreendessem inteiramente. As camisetas causavam sorrisos, seu efeito era tangível, como se os compradores pudessem estender a mão e levar um pouquinho de sol para suas vidas".

Mas não foi fácil convencer o mundo dos negócios de que a idéia deles era brilhante. "Foi uma verdadeira batalha fazer com que as outras pessoas admitissem que nós de fato havíamos criado uma marca", diz Jacobs. "A empresa estava faturando US$ 10 milhões ao ano, e depois US$ 20 milhões, e as pessoas continuavam a perguntar quanto é que lançaríamos algo diferente".

Apesar de alertas em contrário, ele está convencido de que a marca pode ir longe. "Boa parte da moda e da cultura é cíclica. As coisas vão e vêm", diz. "Quando a tendência se esgota, o negócio em que ela se baseia vai por água abaixo. Mas otimismo não é uma tendência. Celebrar os prazeres simples da vida faz bem às pessoas".
Glenn Rifkin é reporter do The New York Times