18 de nov. de 2007

EMPREGABILIDADE - CONCEITO E PRÁTICA

UMA ENTREVISTA COM ABRAHAM SHAPIRO

Abraham Shapiro é consultor e coach. Realiza parcerias fortes com empresas que desejam fazer a diferença nos negócios através de treinamentos dos seus colaboradores e do relacionamento intenso com seus clientes. Suas principais atuações são nas áreas de Vendas e Liderança Empresarial - diagnóstico da situação atual dos líderes e ações para se atingir estados desejáveis pela organização.

Nesta entrevista, Shapiro aborda a empregabilidade e analisa as atitudes que podem tornar um profissional mais empregável.




PERGUNTA: Empregabilidade é uma expressão em grande uso nos meios corporativos, atualmente. Como o senhor conceitua empregabilidade?

SHAPIRO: A definição mais simples de empregabilidade é a capacidade de conseguir um emprego e manter-se nele. No entanto, como tudo na vida, há um sentido mais amplo a ser entendido e transformado em prática. Empregabilidade deve ser vista como tudo o que cada pessoa pode e deve fazer para ser melhor profissional. Atualmente, não basta ser competente. É fundamental que o profissional saiba manter suas condições de empregabilidade e diferenciar dos demais profissionais da mesma área.


PERGUNTA: Qual o motivo por que o profissional precisa manter-se “empregável”? A estabilidade no emprego não o livra desta preocupação.

SHAPIRO: Absolutamente ninguém está livre da responsabilidade de manter-se empregável. O cenário atual do mercado de trabalho é dramaticamente diferente de todos os outros, no passado. Antigamente abria-se um negócio e ele prosperava quase automaticamente. A concorrência era baixa e a demanda garantida. Bastava ter uma boa idéia e capital. Hoje, capital não é problema para quem tem idéias viáveis. O problema está na seleção de profissionais competentes. Portanto, as pessoas é que fazem a diferença em qualquer negócio. Isso do lado da empresa. Do lado do profissional, ele precisa estar prevenido contra "acidentes" em sua carreira e o mercado de trabalho está muito dinâmico. Prudência e autodesenvolvimento são as chaves para isso. Quanto mais ele puder adicionar atributos ou vantagens ao seu perfil profissional, maiores benefícios ele proporcionará à empresa que dele necessita para consolidar-se e prosperar. É esta a visão.


PERGUNTA: Será difícil encontrar as pessoas certas? Não há uma grande oferta de mão-de-obra no Brasil?

SHAPIRO: É extremamente difícil encontrar profissionais competentes para quaisquer cargos. Encontrar pessoas certas já não é mais questão apenas de selecionar as que mais sabem fazer determinadas coisas. Além da baixa qualificação, só habilidades não fazem o perfil do funcionário ideal. Estamos na Era do Conhecimento. As pessoas se tornam cada vez mais exigentes. Veja o que era a embalagem de um produto qualquer há vinte anos e o que ela é hoje. Há informações de sobra. Há prazo de validade para todos os produtos. Por isso, as pessoas que estão por trás dos produtos precisam corresponder a estes novos padrões. Todos são clientes e todos são vendedores. Todos precisam ser tratados com muita atenção e profissionalismo. Por isso, os funcionários precisam saber muito bem o que se propõem a fazer e, além de tudo, conhecer tudo sobre como lidar com pessoas, como se comunicar bem, como criar laços de relacionamento, como se apresentar, enfim, aspectos que tinham muito pouco valor nos tempos da estabilidade. Encontrar a pessoa com o perfil certo é o primeiro grande problema de qualquer empresa.


PERGUNTA: E como ficam as empresas públicas, onde os funcionários têm estabilidade?

SHAPIRO: Bem, como sempre, elas terão um atraso em responder aos novos padrões. Os problemas de atendimento irão se avolumar até determinado nível. A partir de então – caso não haja um colapso – os governos terão de enfrentar um novo desafio que será investir mais em treinamentos e profissionalização e , desta forma, reciclar e reconceituar seus cargos e pessoal. É inconcebível o tratamento que se recebe em muitas repartições públicas. Você tem a impressão de ser nada ou ninguém, mesmo sendo o verdadeiro “patrão” da pessoa que lhe atende. Não posso deixar de mencionar, contudo, que existem iniciativas independentes de muitos gestores públicos que treinam seu pessoal e conseguem, assim, melhorar o padrão.


PERGUNTA: O senhor afirma que o profissional não é mais apenas um executor daquelas tarefas para as quais ele é contratado. O que mais ele deve ser?

SHAPIRO:
Uma pessoa contratada para uma vaga na empresa leva consigo o seu caráter, sua espiritualidade, sua maneira de enxergar o mundo, seu padrão de comunicação, sua empatia, capacidade de relacionar-se etc. Estas são as suas competências. A partir desse momento, este profissional irá tomar decisões dentro da empresa - alguns mais, outros menos, mas todos tomam decisões. Em sua área de ação, ele irá imprimir suas tendências, seu estilo, sua própria vida... E isso influencia diretamente a empresa no que tange à qualidade, aos padrões e, principalmente, ao seu relacionamento com os clientes, ou seja, às experiências que os clientes irào viver ao consumir produtos ou serviços. Isto é que são os resultados. Os resultados de qualquer organização dependem das pessoas que estão por trás de todos os postos.


PERGUNTA: Pode dar um exemplo?

SHAPIRO:
Sim. Várias pesquisas têm mostrado que, diante de um problema grave de saúde, a maioria dos norte-americanos gostaria de ser atendida em uma instituição chamada Mayo Clinic. Como uma empresa que surgiu em meio às plantações de milho do Estado de Minnesota – e que até 1992 contava com apenas um profissional responsável pelo marketing e gastava muito pouco com publicidade – conseguiu tal façanha? A Mayo Clinic atende ou supera as expectativas da maioria dos clientes ao proporcionar uma experiência integrada e completa. Imagine uma loja imensa que vende de tudo, com especialistas em cada departamento que trabalham em conjunto para atender às necessidades do cliente. É esse o pensamento que gerou a Mayo Clinic. Uma marca não é apenas um nome, um logotipo e um slogan. Ela constitui a percepção predominante das pessoas quando expostas a esses elementos. Em Londrina, por exemplo, posso citar o Empório Guimarães como exemplo de empresa bem posicionada e que proporciona uma experiência maravilhosa de consumo aos seus clientes. Na área da saúde, não temo em dizer que o Hospital de Olhos de Londrina, o Hoftalon, é uma instituição que faz juz a uma experiência respeitável e digna aos clientes atendidos pelo SUS. Mesmo dando atendimento gratuito à população, o Hoftalon imprime um tratamento autêntico com muito cuidado e singularidade a cada paciente. Isso é um marco e resulta de princípios que advêm da visão de seus administradores. Tanto no caso do Empório Guimarães, como no Hoftalon, as pessoas por trás do atendimento é que constróem e empoderam a marca. Sem elas, dificilmente isto aconteceria.


PERGUNTA: Qual o perfil de funcionário mais cobiçado pelas empresas de hoje?

SHAPIRO:
Aquele que ama fazer o que ele se propõe a fazer. Muitas pessoas enfrentam um terrível dilema todas as manhãs ao sair para o trabalho. Estão insatisfeitas e, por isso, sua felicidade está comprometida. Este é o caso em que dinheiro não é tudo. Algumas não têm nem coragem, outras não têm condições de mudar. Hoje em dia, as empresas estão dando diferente enfoque a respeito de quem devem contratar e manter em seus quadros de colaboradores. Estão buscando pessoas apaixonadas por aquilo que fazem. Pessoas cuja opção profissional tenha saído da resposta às duas perguntas que fiz no início. A regra que está imperando é: quem não tem paixão por nada que diga respeito aos objetivos da empresa deve ser descartado de cara. Para aqueles que não estão sintonizados, minha dica é: procure um aconselhamento profissional de tal forma que você possa recobrar a motivação e buscar realização. Tendo contentamento com o que faz, você será outra pessoa. Você, sua família, a empresa e o mundo ganham muito com isso.


PERGUNTA: E os profissionais estão conseguindo perceber todas estas mudanças?

SHAPIRO:
Em alguns lugares, sim. Na maior parte, não. Infelizmente tem muita gente dormindo. Há uma empresa que eu assessoro em Treinamento & Desenvolvimento comportamental. O RH dessa empresa é um rapaz muito competente. Desde que assumiu este posto, revolucionou a empresa. No entanto, a maior barreira que ele encontrou foi a falta de consciência das pessoas. Imagine. Nos primeiros levantamentos de necessidades de treinamento, ele recebia solicitação de Curso de Planilha Excell. Nada mal, até aí. O problema é que esta necessidade era indicada por pessoas que atuavam no Setor Financeiro da empresa, na Contabilidade e no Controle de Estoques. Essa é a típica situação em que se constata que o grau de empregabilidade dessas pessoas está muito próximo de zero. Uma carreira deve ser construída a partir de um alicerce. Este ponto de partida é um rol de exigências mínimas que precisam ser atendidas.


PERGUNTA: O que o senhor aconselha às pessoas que estão em dúvida sobre qual rumo seguir em sua vida profissional?

SHAPIRO:
Aqui vai minha fórmula: “Isole-se em um lugar onde você não será interrompido. A sós com sua consciência, pegue um papel e escreva a resposta a duas perguntas. Primeira: O que você adora fazer na vida? A outra: O que melhor você sabe fazer?” Após isso, persiga esta meta como a coisa mais importante que você tem. Não é uma receita mágica, mas é lógica. Fazer o que se gosta e o que se faz melhor é como estar em um lugar encantado, cheio de coisas boas, prazer e muito contentamento. Grande parte das pessoas que compram uma Mercedes último modelo fazem tal escolha pelo conforto ou pelo status que ela traduz? Como os jovens escolhem uma profissão? Eles buscam auto preenchimento ou brilho social? Nada contra fazer tais escolhas, mas uma profissão merece grande cuidado ao ser escolhida. Quantos médicos, economistas, advogados e engenheiros gostariam de ser cozinheiros, marceneiros, confeiteiros, alfaiates e ourives? O problema está na falta de destaque destas profissões. Estão fora de moda. Mas poderiam significar maior realização pessoal. O mundo seria melhor para eles.