17 de abr. de 2011

APAGÃO DA MÃO DE OBRA: VAGAS SÃO OFERECIDAS ATÉ DURANTE A MISSA

Renée Pereira, de O Estado de S. Paulo

A escassez de profissionais para atender à forte demanda da economia exigiu mudanças radicais na política de contratação das empresas. Além de reduzir os requisitos, elas também têm de inovar para atrair os candidatos. Algumas apostam nas redes sociais. Outras preferem um trabalho mais psicológico para convencer os candidatos.

É o caso da Masb, do setor imobiliário, que destacou um profissional para vender a imagem da companhia aos candidatos. "Temos de mostrar as vantagens de trabalhar na empresa", diz a gerente de Recursos Humanos, Mariangela Tolentino.

A Randon, que fabrica produtos para o setor de transportes, aposta em carros de som para anunciar vagas em filas de ônibus e locais com grande aglomeração. Outra tática é fazer os convites nas missas. "A medida tem dado um retorno fantástico", diz o gerente executivo de Recursos Humanos, Vanderlei Novello.

Segundo ele, várias medidas estão sendo tomadas para contornar a falta de mão de obra. A empresa criou cursos de capacitação em várias áreas, como logística e segurança do trabalho. "Formamos a mão de obra. Se fôssemos fazer uma seleção para contratar pessoas com experiência plena, não conseguiria contrataríamos ninguém."

No nível estratégico, a alternativa tem sido privilegiar os talentos internos. Dessa forma, é possível moldar os profissionais desde o início da carreira. "Criamos um banco de talentos e hoje 85% das vagas de liderança são preenchidas por ele. Apostamos no desenvolvimento e treinamento dos nossos profissionais."

Na transportadora Braspress, a solução para a escassez de motoristas pode ser mais radical. A empresa iniciou conversas com o Consulado da Bolívia para importar mão de obra. "Estamos dispostos a custear até a habilitação de pessoas que queiram trabalhar no Brasil", diz o diretor-presidente da companhia, Urubatan Helou. Ele destaca que a transportadora tem hoje 110 veículos parados por falta de motorista, 11% da frota total.

O executivo afirma que já tentou tudo. Primeiro, apostou no treinamento de mulheres, que já representam 35% do quadro de motoristas da empresa. Mas isso não tem sido suficiente para as 55 mil entregas feitas diariamente em todo o País. "Com o crescimento da economia, muitos motoristas mudaram de profissão. O problema é que os caminhões estão cada vez mais modernos. Não é qualquer pessoa que consegue dirigi-los."

O presidente da NTC&Logística, Flávio Benatti, confirma a dificuldade para recrutar pessoal para o setor, que responde por 60% do transporte nacional. Diz que a infraestrutura precária e a falta de segurança nas estradas têm sido uma barreira para atrair profissionais. "Há uma defasagem de 120 mil motoristas no País. É um grave problema", diz Benatti, destacando que tem criado parcerias com instituições para treinar motoristas.