1 de mai. de 2011

CULPAR MERCADO É SAÍDA PARA POLÍTICOS

O economista indiano Raghuram Rajan afirma que a sociedade não consegue avaliar os riscos corretamente. Seu livro diz que razões da crise de 2008 são mais profundas do que parecem

ROBERTO DIAS

Uma lista publicada neste ano pela revista "The Economist" trazia no topo o nome do indiano Raghuram Rajan.

Era o resultado da seguinte enquete: "Qual economista tem as ideias mais importantes no mundo pós-crise?".

Rajan conquistou a atenção de seus colegas com o livro "Fault Lines" (Falhas Geológicas, em tradução livre), publicado no ano passado e inédito no Brasil.

A ideia explícita do título é defender que a crise de 2008 tem causas mais profundas do que muita gente percebe.

A ideia implícita embute uma visão pró-mercado: a culpa não é toda dos bancos.

Algo bem afinado com o liberalismo da Universidade de Chicago, onde trabalha esse professor de 48 anos que já foi economista-chefe do FMI.


Folha - Se os banqueiros não são os vilões gananciosos que as pessoas enxergam, quem eles seriam então?

Raghuram Rajan - É muito fácil argumentar que há banqueiros criminosos, maldosos, que pondo alguns na prisão resolvemos o problema. Até agora, poucos banqueiros foram processados. Isso indica que ou as autoridades os estão preservando ou que a maioria fazia coisas que não eram ilegais. Se é assim, temos que olhar por que o sistema estava errado. Claro que havia criminosos nos bancos, como em qualquer indústria. Mas muito do que fizeram era perfeitamente legal. É ainda mais alarmante que fosse legal.


O sr. diz que em alguns empregos é muito difícil ver o resultado do trabalho de uma pessoa. Mas é fácil escrever manchetes sobre o dinheiro dos banqueiros. A mídia cometeu erros cobrindo a crise?

Nem tanto na crise, mas no que aconteceu antes. A imprensa econômica aplaudiu cada subida das Bolsas, cada aumento dos empréstimos, cada IPO [oferta inicial de ações de uma empresa]. A imprensa não prestou tanta atenção ao risco. Acho que vemos isso hoje novamente. Aplaudimos os sinais de retomada, mas não prestamos atenção ao risco. A sociedade como um todo não tem muito incentivo para prestar atenção ao lado negativo enquanto os bons momentos estão acontecendo.

Quem tem esse incentivo? 

Não os banqueiros, que estão fazendo dinheiro. Não a população, que está se beneficiando da subida das ações e tomando empréstimos. Não os políticos, que estão felizes quando todos estão felizes. O trabalho dos reguladores é prestar atenção. Mas, quando todo mundo está contente, é politicamente muito difícil dizer "precisamos nos acalmar".

Não é muito fácil para um economista colocar a maior parte da culpa nos políticos?

Eu concordo. Meu objetivo foi dizer que a culpa tem de ser dividida de maneira mais ampla. Não é uma resposta que satisfaça quem procura alguém para culpar. Culpar o mercado é frequentemente resposta das pessoas no poder. O mercado é reflexo das ações tomadas pelas pessoas no poder e das aspirações da sociedade. Não podemos esquecer isso.

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