8 de mai. de 2011

O EMPREENDEDOR E O CULTO DO FRACASSO

Daniel Isenberg

Representantes de governos de Cingapura à União Europeia vêm defendendo a “celebração do fracasso” como maneira de estimular o empreendedorismo. Neste ano, durante o lançamento da iniciativa Startup America pela Casa Branca, nos Estados Unidos, um convidado fez um apelo emocionado para que o país seguisse o conselho. Afinal, não foi o destemor de grandes pioneiros dos EUA — sua disposição a tropeçar durante a jornada — que os levou a triunfar mesmo diante da adversidade?

Por mais bem-intencionada que seja, essa tentativa de celebrar o fracasso é equivocada. Não se deve confundir medo com ansiedade — e a celebração do erro parece destinada a reduzir a ansiedade.

Ansiedade, teria explicado Freud, é quan­do a pessoa reage irracionalmente a um mero galho de árvore como se fosse uma cobra venenosa. Medo é quando reage a uma cobra venenosa como se esta fosse justamente isso, venenosa. A ansiedade é disfuncional, mas o medo pode ser bom: ajuda a nos proteger de coisas perigosas — como assumir riscos. Empreendedores, até onde sei, desenvolvem um saudável medo daquilo que pode dar errado. Só não se deixam paralisar por ele.

Eis três ideias para ajudar governantes a calibrar o medo do fracasso para incentivar o empreendedorismo sem sugerir que o erro seja glorificado.

Aceitar que o fracasso é parte natural da atividade empresarial. Em países “hiperempreendedores” como Israel, Taiwan e Islândia, é comum um negócio que ainda engatinha errar. E a famosa curva J do retorno é ideologia entre capitalistas de risco do mundo todo: o fracasso vem cedo; o sucesso leva tempo. Errar logo no início é importante, pois produz um aprendizado sistêmico sobre onde estão (ou não) as oportunidades e como lidar com elas — e porque rapidamente libera gente, capital e ideias para projetos mais promissores. Errar depressa é como a corrente de ar de uma chaminé: a saída rápida de erros abre espaço para novos candidatos. Só que muitos governantes que incentivam o empreendedorismo como estratégia para o desenvolvimento econômico tratam um índice baixo de insucesso como sinal de que a política está funcionando. Deviam estar buscando um monte de sucessos e fracassos, embora os primeiros, obviamente, devam superar os segundos, em números absolutos, em impacto ou em ambos.




Remover obstáculos estruturais para reduzir riscos objetivos de um empreendimento dar errado. Muitos países, mesmo aqueles com economias avançadas, sem querer inibem o empreendedorismo ao punir a falência: impedem que empresários quebrados abram um novo negócio ou, até, uma conta bancária — e, em certos casos, tratam a falência como crime. Leis que aumentam o custo do fracasso desestimulam a participação de novos atores, assim como uma chaminé entupida impede que o oxigênio alimenta a chama. A legislação trabalhista é outro problema: estudos mostram que abolir leis que dificultam a demissão de pessoal pela empresa e, no lugar disso, dar apoio ao trabalhador demitido, deixa o empreendedor muito mais disposto a contratar para uma nova empresa (pois sabe que pode cortar a folha se necessário).

Transformar fracasso em algo útil. Contrariando o mito, o empreendedor não é um jogador inconsequente. É verdade que correr riscos é um aspecto intrínseco da inovação. Mas é importante ensinar o empreendedor a cometer erros pequenos e baratos — e logo cedo. Erros baratos não chegam às manchetes — e não causam constrangimento ou vergonha. Autoridades públicas podem apoiar a orientação de empreendedores em técnicas e estratégias de redução de risco.

Quem seguir esses conselhos não terá de estourar o champanhe toda vez que um empreendedor fracassar. Tratar o fracasso como um aspecto normal do investimento num novo negócio e cultivar a perspectiva certa sobre o valor desse erro vai ajudar a aplacar o medo do fracasso sem que seja preciso fazer festa em seu nome.
____________________

Daniel Isenberg é professor de prática administrativa da Babson Global (parte da Babson College, nos EUA) e diretor-executivo do Babson Entrepreneurship Ecosystem Project.