1 de mai. de 2008

O HOMEM MAIS RICO DA BABILÔNIA

Você tem problema com dinheiro? Trabalha há anos e ainda não conseguiu juntar nada que lhe permita alguma autonomia econômica? O texto abaixo é um extrato do livro "O homem mais rico da Babilônia", já lido por mais de 1,5 milhão de pessoas, e escrito por George S. Classon. Este livro orienta, da maneira mais realista e prática, como se comportar em relação a dinheiro com o fim de criar o "hábito da riqueza" e, assim, propiciá-la entre as atitudes que tomamos a cada instante da vida. O capítulo transcrito abaixo é maravilhoso. É o coração da obra.

Sobre o autor

GEORGE SAMUEL CLASON nasceu em Louisiana, Missouri, em 7 de novembro de 1874. Freqüentou a University of Nebraska e serviu no exército americano durante a guerra entre a Es­panha e os Estados Unidos. Começando uma longa carreira no mundo editorial, fundou a Clason Map Company of Denver, Colorado, e publicou o primeiro atlas rodoviário dos Estados Unidos e do Canadá. Em 1926, lançou o primeiro de uma série de panfletos sobre economia e sucessos financeiros, usando parábolas ambientadas na antiga Babilônia para ilustrar suas lições. Tais panfletos eram distribuídos em grandes quantida­des pelos bancos, companhias de seguros e empregadores e tornaram-se familiares a milhões de pessoas, o mais famoso sendo O homem mais rico da Babilônia, a parábola-título deste livro. Estas "parábolas babilônicas" tornaram-se um clássico moderno entre os livros de auto-ajuda.


Capítulo II do livro "O homem mais rico da Babilônia"

ERA UMA VEZ, na antiga Babilônia, um homem muito rico chamado Arkad. Conhecido em toda parte devido a uma imensa riqueza, tornara-se igualmente famoso pela liberalidade. Mos­trava-se generoso com os mais necessitados e com a família, sendo um homem pródigo em suas próprias despesas. Entretan­to, a cada dia sua riqueza crescia mais rapidamente do que podia gastá-la.

E houve alguns amigos da juventude que vieram até ele, dizendo-lhe:

— Você, Arkad, é mais venturoso do que nós. Você se tornou o homem mais rico de toda a Babilónia, enquanto nós lutamos para sobreviver. Pode usar as mais finas roupas e degustar as mais requintadas iguarias, enquanto nós devemos nos dar por satisfeitos se apenas propiciamos à família uma indumentária decente ou a alimentamos da melhor maneira possível.

"Contudo, alguma vez fomos iguais. Tivemos o mesmo pro­fessor, participamos das mesmas brincadeiras, e nem nos es­tudos nem nas brincadeiras você se sobressaiu mais do que nós. E nos anos que se seguiram você foi um cidadão tão honrado quanto nós.

"Tampouco trabalhou mais duro ou mais assiduamente, pelo menos até onde sabemos. Por que então deveria o caprichoso destino escolhê-lo para gozar de todas as boas coisas da vida e ignorar-nos, a nós que igualmente somos merecedores?

Após o que Arkad protestou com eles, dizendo por sua vez:

— Se vocês não adquiriram mais do que uma pobre existência desde os tempos em que éramos jovens, isso se deve a que não conseguiram aprender ou não observaram as leis que governam a acumulação de riqueza.

"O 'voluntarioso Destino' é um deus cheio de malícia que não assegura um bem duradouro para ninguém. Ao contrá­rio, ele traz ruína para quase todo homem sobre quem faz cho­ver ouro não conquistado. Ele produz os gastadores libertinos, que logo dissipam tudo o que recebem e se deixam dominar pe­los mais extravagantes apetites, que nem sempre podem satis­fazer. Outros ainda, a quem esse caprichoso deus favorece, tornam-se avarentos e entesouram sua riqueza, temendo des­pender o que têm por saberem que não são capazes de repô-lo. São além disso assediados pelo medo de roubo e acabam cons­truindo para si mesmos uma vida de necessidades e secreta tristeza.

"Há provavelmente outros que conseguem dinheiro fácil e o aumentam, sem deixar de se sentirem felizes e abastados cida­dãos. Mas são tão poucos que só sei deles por ouvir dizer. Pen­sem nessas pessoas que de repente se viram herdando uma ri­queza e confiram se as coisas não se passam assim."

Os amigos admitiram que a respeito dos conhecidos que tinham herdado uma fortuna aquelas palavras eram realmente verdadeiras e suplicaram-lhe que explicasse a eles como tinha conseguido juntar tantos bens.

— Ainda em plena juventude — continuou Arkad —, eu olhava em minha volta e observava todas aquelas boas coisas capazes de propiciar felicidade e contentamento. Percebi então que a riqueza aumentava ainda mais a potência delas.

"A riqueza é um poder. Com a riqueza, muitas coisas se tornam possíveis.

"Este pode embelezar sua casa com os móveis mais refinados.

"Aquele pode viajar pêlos mares distantes.

"Esse outro pode regalar-se com as finas iguarias de terras longínquas.

"Outro mais pode comprar ornamentos lavrados em ouro ou cravejados de pedras preciosas.

"Pode-se mandar construir templos magníficos para os deu­ses.

"E possível, enfim, fazer todas essas coisas e muitas outras, onde sempre haverá deleite para os sentidos e gratificação para a alma.

"E, quando percebi tudo isso, declarei a mim mesmo que reivindicaria o meu quinhão entre as boas coisas da vida. Não seria nenhum desses que se mantêm a distância, observando invejosamente os prazeres do outro. Não me contentaria em vestir roupas baratas que parecem respeitáveis. Não me daria por satisfeito com a parte que cabe a um homem pobre. Ao contrário, faria de mim mesmo um conviva nesse banquete de boas coisas.

"Sendo, como sabem, filho de um humilde comerciante, membro de uma grande família sem qualquer expectativa de herança, e não me achando dotado, como me disseram vocês com tanta franqueza, de poderes superiores ou talentos es­peciais, decidi que, se realmente quisesse conseguir tudo o que desejava, precisaria basicamente de tempo e estudo.

"Todos os homens têm tempo em abundância. Cada um de vocês vem deixando escapar tempo suficiente para tornar-se rico. E ainda, como admitem, não têm nada para apresentar se­não suas boas famílias, de que, aliás, podem com justiça orgu­lhar-se.

"Quanto ao estudo, nosso sábio professor não nos ensinou que o aprendizado consistia em dois tipos: o primeiro cuidando das coisas que aprendíamos e sabíamos, o outro baseando-se na prática que nos ajuda a encontrar aquilo que não conhecemos?

"Assim, resolvi-me a investigar como alguém consegue acu­mular riqueza e, quando descobrisse, tornar tal coisa minha própria tarefa e realizá-la bem. Pois não é justo que devamos gozar enquanto permanecemos sob a brilhante luz do sol, compensando os sofrimentos que teremos de enfrentar quando partirmos para a escuridão do mundo do espírito?

"Empreguei-me como escriba na sala de registros e todos os dias trabalhei horas sem conta sobre as tabuinhas de argila. Semana após semana, mês após mês, dei um duro danado sem que os meus vencimentos dessem mostras de crescer. Comida, roupa, os compromissos para com os deuses, além de outras coisas de que já não consigo lembrar-me, consumiam tudo o que eu ganhava. Mas minha determinação continuou de pé.

“E um dia Algamish, o homem que empresta dinheiro, veio até a administração da cidade e solicitou uma cópia da Nona Lei, dizendo-me: 'Preciso disso em dois dias; se me entregar as cópias no prazo, pode contar com duas moedas de cobre pelo serviço.'

"Trabalhei arduamente, mas o texto da lei era muito compri­do, e quando Algamish voltou eu ainda não tinha terminado a transcrição. Ele ficou uma fera e teria me dado uma boa surra se eu fosse seu escravo. Sabendo, porém, que não lhe era permitido agredir-me no prédio da administração, não senti qualquermedo e disse-lhe: 'Algamish, você é um homem realmente rico. Diga-me como posso também tornar-me rico, e prometo-lhe que passarei a noite em claro entalhando as tabuinhas. Assim que o sol nascer, estarão prontas.'

"Ele sorriu e respondeu-me: 'Você é um belo tratante, mas vamos considerar isso como uma transação.'

"Gravei durante toda a noite, embora minhas costas doessem e o cheiro de óleo queimado do candeeiro fizesse minha cabeça latejar a ponto de deixar-me os olhos em frangalhos. Mas quando ele voltou, em plena alvorada, as tabuinhas estavam prontas.

" 'Agora', disse-lhe, 'cumpra sua promessa.'

" 'Você fez a sua parte em nossa transação, meu filho', disse-me ele, com benevolência, 'e estou pronto para fazer a minha. Vou lhe falar das coisas que deseja saber porque estou envelhecendo, chegando à idade em que já não se consegue segurar a língua. E quando a juventude busca o conselho dos mais velhos ela recebe a sabedoria dos anos. Muito frequente­mente, porém, a juventude pensa que o idoso detém apenas a experiência dos dias que se foram e por isso não a aproveita. Lembre-se que o sol que brilha hoje é o sol que brilhou quando seu pai nasceu e que continuará brilhando quando seu último neto tiver passado para o mundo dos mortos.'

" 'Os pensamentos da juventude', continuou ele, 'são luzes resplandecentes que brilham como meteoros que muitas vezes tornam o céu reluzente, mas a experiência dos mais velhos assemelha-se a estrelas fixas que, sem mudar de lugar, auxiliam o marinheiro a orientar o seu curso.'

" 'Guarde bem minhas palavras, pois do contrário deixará de assimilar a verdade do que lhe contarei e pensará ter sido em vão todo o trabalho que teve durante essa noite.'

"Então ele me olhou com perspicácia por baixo das peludas sobrancelhas e disse num tom lento e enérgico: 'Achei o cami­nho para a riqueza quando decidi que conservaria comigo uma parte de tudo que ganhasse. E assim fará você.'

"E continuou me olhando com uma insistência que parecia ir ao fundo de minha alma, mas não disse mais nada.

" 'É tudo?', perguntei.

" 'Foi o suficiente para transformar o coração de um pastor de ovelhas no coração de um emprestador de dinheiro', replicou ele.

" 'Mas tudo o que ganho não vem mesmo para o meu bolso?', perguntei.

" 'Nada mais falso', respondeu ele. 'Você não paga pelas roupas e pelas sandálias que usa? Não paga pelas coisas que come? Consegue viver na Babilónia sem fazer despesas? O que tem para apresentar do que recebeu no mês passado? E de tudo quanto ganhou no último ano? Louco! Você paga a todo mundo, menos a si mesmo. Idiota, está trabalhando para os outros. Bem melhor do que isso faz o escravo, que trabalha para o seu dono em troca de roupa e comida. Se guardasse para si mesmo um décimo de tudo o que ganha, quanto teria dentro de dez anos?'

"Meu conhecimento dos números não me desamparou, e respondi: 'Ora, o equivalente a um ano de trabalho.'

" 'Pois está dizendo apenas meia verdade', retorquiu ele. 'Cada moeda de ouro que economizar é um escravo que pode trabalhar para você. Cada cobre que essa moeda produzir torna-se um filho apto a levantar mais fundos. Se quiser tornar-se rico, então tudo o que você economizar deve ser utilizado no sentido de proporcionar-lhe toda a abundância por que anseia.'

" 'Você pensa que o estou ludibriando por sua longa noite de trabalho', continuou ele, 'mas em minhas palavras há uma fortuna, se for suficientemente inteligente para perceber a verdade que acabo de pôr em suas mãos.'

" 'Uma parte de tudo o que ganha pertence exclusivamente u você. No mínimo, um décimo, mesmo nas ocasiões em que ti­ver recebido pouco dinheiro. Pode ser mais, de acordo com o que produzir. Pague a si mesmo primeiro. Não compre ao faze­dor de roupas ou ao fazedor de sandálias mais do que possa pagar com o restante, devendo ainda separar o bastante para alimen­tar-se, ajudar o próximo e pôr em dia as obrigações com os deuses.'

" 'A riqueza, como uma árvore, cresce a partir de uma simples semente. A primeira moeda de cobre que economizar será a semente a partir da qual sua árvore da riqueza crescerá. Quanto mais cedo plantá-la, mais cedo a árvore crescerá. E quanto mais fielmente alimentar e regar essa árvore com economias cons­tantes, logo chegará o dia em que poderá abrigar-se em pleno contentamento embaixo de sua sombra.'

"Tendo dito isso, pegou suas tabuinhas e foi embora.

"Pensei muito a respeito do que ele me dissera, e suas pala­vras me pareceram razoáveis. Assim, decidi fazer a experiência. Sempre que recebia um pagamento, tirava e guardava uma em cada dez moedas de cobre. E, estranho como possa parecer, não fiquei mais desprovido de fundos do que antes. Percebi peque­na diferença quando comecei a me arranjar sem isso, mas freqüentemente me via tentado, à medida que minha reserva crescia, a utilizá-la para adquirir as boas coisas que os mercadores ofereciam, objetos trazidos por camelos e navios da terra dos fenícios. Prudentemente, porém, consegui refrear o impulso.

"Doze meses se tinham passado quando Algamish voltou a me procurar, dizendo-me: 'E então, meu filho, pagou a si mesmo não menos de um décimo sobre tudo quanto ganhou no ano passado?'

"Respondi todo orgulhoso: 'Sem dúvida, mestre, foi exata-mente o que fiz.'

" 'Ótimo', comentou, abrindo um largo sorriso para mim, 'e o que fez com essa reserva?'

" 'Entreguei-a a Azmur, o oleiro, que me disse estar viajando pelos mares distantes e que em Tiro compraria para mim jóias valiosíssimas, só encontradas na Fenícia. Quando voltar, pode­remos vendê-las a preço bem mais alto e dividiremos os lucros.'

" 'Bem, os loucos precisam mesmo aprender', rosnou ele, 'mas por queconfiar nos conhecimentos de um oleiro sobre jóias? Você procuraria o padeiro para colher informações sobre as estrelas? Não, por minha túnica, iria até um astrólogo, se pelo menos tivesse cabeça para pensar. Suas economias se foram, meu jovem, você arrancou sua árvore da riqueza pelas raízes. Contudo, plante outra. Tente novamente. E da próxima vez em que precisar de conselhos sobre jóias, corra até um ourives. Se quiser conhecer a fundo as ovelhas, procure o pastor que cuida delas. Conselho é uma coisa que se dá de graça, mas deve guardar consigo apenas o que lhe parece valioso. Aquele que aceita conselhos sobre suas economias junto a pessoas inexpe­rientes em tais matérias pagará com essas mesmas economias para provar a falsidade da opinião dos outros.' Dizendo isso, Algamish partiu.

"E aconteceu realmente como ele tinha previsto. Pois os fe­nícios são salafrários e venderam a Azmur pedaços de vidro sem valor que pareciam pedras preciosas. Mas, seguindo as palavras de Algamish, voltei a economizar, mesmo porque já tinha forma­do o hábito e isso não constituía para mim nenhuma dificuldade.

"Mais uma vez, doze meses depois, Algamish apareceu na sala dos escribas e dirigiu-se a mim. 'Que progressos andou fazendo desde a última vez em que nos vimos?'

" 'Paguei a mim mesmo religiosamente', respondi, 'e confiei minhas economias a Agger, o fazedor de escudos, para comprar bronze. A cada quatro meses ele me paga uma parte dos lucros.'

" 'Ótimo. E o que tem feito com esse dinheiro extra?'

" 'Dei uma festa com mel, vinho e iguarias de primeira. E comprei também uma túnica escarlate. Qualquer dia desses devo comprar um burrico para os meus deslocamentos.'

"Algamish não disfarçou o riso: 'Você está comendo os filhos de suas economias. Como pode esperar que trabalhem para você? Como eles mesmos poderão ter filhos que venham a produzir mais renda para você? Primeiro reúna um exército de escravos dourados, e só então poderá refestelar-se com ban­quetes ricos sem sentir remorsos.' E, assim dizendo, partiu novamente.

"Não voltei a vê-lo durante dois anos, até que reapareceu, o rosto sulcado pelas rugas, os olhos visivelmente cansados, pois ele se achava então numa idade bastante avançada. Disse-me: 'Arkad, conseguiu afinal obter a riqueza com que sonhava tanto?'

"Respondi-lhe: 'Não ainda tudo que desejo, mas já tenho alguma coisa que rende muito bons lucros, que, por sua vez, fazem outro tanto.'

" 'E você ainda busca o conselho dos oleiros?'

" 'Bem, o que eles dizem sobre como fabricar tijolos é realmente muito bom', retorqui.

" 'Arkad', continuou ele, 'você aprendeu bem suas lições. Aprendeu primeiro a viver com menos do que podia ganhar. Depois aprendeu a aconselhar-se junto àqueles cuja competên­cia deriva de suas próprias experiências. E, finalmente, apren­deu a fazer o ouro trabalhar para você.

" 'Você ensinou a si mesmo como adquirir dinheiro, poupá-lo e usá-lo. Reuniu, portanto, condições para ocupar uma posição de confiança. Estou me tornando muito velho. Meus filhos só pensam em gastar e não dão a menor importância aos ganhos. Meus negócios são grandes, e até grandes demais para que eu possa cuidar de tudo. Se você concordar em ir para Nippur, a fim de tomar conta das terras que possuo na região, torná-lo-ei meu sócio, e você participará de meu testamento.'

"Assim, fui para Nippur e comecei a administrar suas proprie­dades, que eram imensas. E como estivesse cheio de ambição e dominasse as três leis que nos ensinam a lidar de maneira exitosa com a riqueza, tive condições de aumentar ainda mais o valor de seus bens. Prosperei muito e, quando o espírito de Algamish partiu para a esfera da escuridão, vi-me como um beneficiário legalmente reconhecido de sua herança."

Assim falou Arkad, e, quando terminou sua narrativa, um dos amigos ali reunidos disse:

— Você inclusive deu a sorte de que Algamish o tivesse nomeado um de seus herdeiros.

— Minha sorte limita-se ao fato de que desejava prosperar antes de tê-lo encontrado pela primeira vez. Não tive que provar durante quatro anos minha determinação de propósito, reser­vando para mini mesmo um décimo de tudo que auferia? Você chamaria de sortudo o pescador que, tendo passado anos es­tudando os hábitos dos peixes, por uma simples mudança do vento soubesse onde jogar sua rede? A oportunidade é uma deusa desdenhosa que não perde tempo com os que não estão preparados.

— Você teve uma tremenda força de vontade em continuar poupando depois de ter perdido as economias do primeiro ano. Nisso, foi extraordinário — disse um outro.

— Força de vontade! — retorquiu Arkad. — Bobagem. Você acredita que a força de vontade seja capaz de dar a um homem energia suficiente para erguer um peso que o camelo não pode carregar ou puxar uma carroça que os próprios bois não conse­guem levar adiante? A força de vontade não passa de um propósito inflexível para dar conta de uma tarefa a que você mesmo se obrigou. Se eu determinar para mim mesmo uma tarefa, por mais boba que seja, terei de levá-la a cabo. Como poderia de outro modo ter confiança em mim para fazer coisas importantes? Se me dissesse: "Durante cem dias, quando eu cruzar a ponte na cidade, apanharei uma pedra do chão e a jogarei dentro do rio", eu o faria. Se no sétimo dia passasse por ali sem me lembrar da resolução tomada, não diria: "Amanhã jogarei duas pedras em vez de uma." Ao contrário, voltaria e atiraria a pedra ao rio. Tampouco seria capaz de me dizer lá pelo vigésimo dia: "Arkad, isso não tem utilidade alguma. Que pro­veito tem para você atirar uma pedra ao rio todos os dias? Arremesse logo um bom número delas e acabe com isso." Não, também não conseguiria pensar desse modo. Quando me deci­do por uma tarefa, vou até o fim. Conseqüentemente, tomo muito cuidado para não começar tarefas difíceis e impraticáveis, porque tenho meu conforto íntimo em alta conta.

— Se o que diz é verdadeiro — aparteou um terceiro interlo­cutor — e parece, como afirmou, razoável, sendo tão simples, se todos os homens o fizessem não haveria bastante riqueza para todos.

— A riqueza cresce onde quer que os homens empreguem energia — replicou Arkad. — Se um homem rico constrói um novo palácio para si, o ouro despendido vai embora? Não. O oleiro, o operário e o arquiteto participam desse ouro. E quem quer que trabalhe na obra participa dele. Mesmo depois de construído, o palácio não vale tudo quanto custou? E o terreno sobre o qual se ergue não passa a valer mais pelo próprio fato de abrigá-lo? E os terrenos circunvizinhos não se tornam igual­mente valorizados? A riqueza cresce através de meios mágicos. Ninguém pode estabelecer um limite para isso. Não cons­truíram os fenícios grandes cidades em costas inóspitas com a riqueza proveniente de seus navios mercantes?

— O que poderia nos aconselhar para que também nós nos tornemos ricos — perguntou um outro dos amigos. — Os anos passaram, não somos mais jovens e não guardamos nada.

— Aconselho-os a fazer uso da sabedoria de Algamish e dizer a si mesmos: "Uma parte de tudo o que eu ganhar pertence a mim." Digam isso pela manhã assim que acordarem, à tarde, à noite, em todas as horas do dia. Digam isso a si mesmos até que as palavras se transformem em letras de fogo gravadas no céu.

"Impregnem-se com a idéia. Ocupem toda a alma com esse pensamento. E assimilem tudo que lhes pareça sábio. Separem não menos de um décimo e economizem. Façam todas as despesas necessárias, mas poupem primeiro essa pequena cota. Cedo vão experimentar a deliciosa sensação de um tesouro cuja posse cada um de vocês tem legitimamente condições de reivin­dicar. Quanto mais ele crescer, mais se verão estimulados. Vi­brarão com uma nova alegria de viver. Encararão a possibilidade de maiores esforços para ganharem mais. Pois não estarão reser­vando, sobre os lucros maiores, a mesma percentagem?

"Aprendam portanto a fazer com que seu tesouro trabalhe para vocês. Tornem-no seu escravo. Façam seus filhos e os filhos de seus filhos trabalharem para vocês.

"Assegurem uma renda para o futuro. Olhem para os mais idosos e não esqueçam que dia virá em que também vocês estarão velhos. Por isso, invistam seu tesouro com toda a cautela do mundo. Taxas usurárias de retorno são sereias enganosas, que cantam, naturalmente, mas para lançar o incauto contra as rochas do desperdício e do remorso.

"Providenciem para que sua família não deseje que os deuses os chamem para o reino deles. E sempre possível garantir tal proteção com pequenos pagamentos a intervalos regulares. Por isso, o homem previdente não perde tempo esperando que apareça uma grande soma, a fim de utilizá-la em tão prudente propósito.

"Busquem o conselho dos homens sábios. Procurem infor­mar-se com pessoas cujo trabalho cotidiano é o manuseio do di­nheiro. Deixem que elas os protejam de erros como os que eu mesmo cometi ao entregar minhas economias a Azmur, o oleiro. Um retorno pequeno e certo é uma coisa mais desejável que o risco.

"Aproveitem a vida enquanto estiverem aqui. Não exagerem nem tentem economizar demais. Se um décimo de tudo que ganharem é o que vocês podem confortavelmente poupar, con­tentem-se com essa porção. Por outro lado, vivam de acordo com suas rendas e não sejam sovinas nem temerosos ao gastar. A vida é boa e rica com coisas que valham a pena e causem prazer."

Seus amigos agradeceram-lhe por aquelas palavras e se foram. Alguns mantiveram-se em silêncio, porque não tinham imagi­nação e não podiam entender. Outros mostraram-se sarcásticos, porque pensavam que um homem tão rico deveria compartilhar sua fortuna com velhos amigos menos afortunados. Um terceiro grupo, entretanto, parecia ter nos olhos uma nova luz. Percebe­ram que Algamish tinha voltado regularmente à sala dos escri­bas, porque estava observando um homem que por seus pró­prios esforços saía da escuridão para a luz. Quando esse homem achou a luz, um lugar esperava por ele. Ninguém podia ocupar esse lugar sem que pêlos próprios esforços chegasse à compre­ensão, ou seja, até que estivesse pronto para a oportunidade.

As pessoas desse terceiro grupo foram as únicas que, nos anos que se seguiram, continuaram visitando Arkad, que as recebia cheio de contentamento. Reunia-se com elas e transmitia-lhes de bom grado sua sabedoria, como gostam sempre de fazer os homens de grande experiência. E assistia-os quanto a inves­tirem suas economias naquilo que trouxesse lucros com segu­rança, evitando que apostassem em coisas que não rendessem dividendos.

O momento decisivo na vida desses homens ocorreu quando compreenderam a verdade que tinha passado de Algamish para Arkad e de Arkad para eles.

“Uma parte de todos os seus ganhos pertence exclusivamente a você”