9 de dez. de 2007

QUEM PODE ACABAR COM A SUA VIDA?

ABRAHAM SHAPIRO

“Fulano acabou com a minha vida! Tirou a minha felicidade e hoje estou na desgraça!”

Expressões fortes e dramáticas que talvez inspirem piedade em muitos. Não em mim. Por um simples motivo: isso não é verdade. É apenas uma desculpa – daquelas bem típicas de incompetentes, de quem, achando que tudo lhes chegará às mãos de graça, só fazem cobrar méritos que julgam incondicionalmente ter. Sentem-se na posição de acusar os que estão à sua volta como se obrigados fossem a tudo fazerem por sua felicidade.

Quem tem o poder de acabar com a vida é a própria pessoa. Sempre.

O que realmente se passa é que, sendo comodistas, egoístas, egotistas, egomaníacos e ego-tudo, eles precisam de alguém sobre quem jogar a culpa por suas displicências. Não compreendem a dinâmica da vida. Mal observaram que cada um tem sua própria cabeça e é ai que tudo acontece, inclusive a liberdade.

Onde está a liberdade? Na esquina? No bolso? Não! Dentro de cada um. Ir e vir não é a liberdade completa e verdadeira. É só uma parte. Uma pequena parte. Alguém que goze destes poderes se sentirá tão preso quanto atado a grilhões se assim desejar em seus pensamentos. O contrário poderá se passar com o prisioneiro da mais selada prisão, se ele quiser.

Conheço pessoas que tiveram suas famílias dizimadas por Hitler e os alemães nazistas, na II Guerra Mundial. Ao terem sobrevivido, após anos de trabalhos forçados em campos de concentração, conseguiram se levantar, casaram-se, tiveram filhos, construíram negócios prósperos, cuidaram de sua saúde e viveram, depois desta tragédia, muitos anos. Como foi possível? Sejamos realistas: como isso é possível? Tinham todos os motivos para se entregarem à morte. Eram vítimas de gente mundialmente reconhecida como culpada. Estavam ali para serem culpadas por quem foi flagelado, e com toda razão. Além de tudo, não faltavam para estes pobres seres tristeza e desgraça pessoais suficientes para se sentirem vítimas e, nesta condição válida, cobrar o mundo pelo direito à parcela de felicidade como indenização pela omissão de quase todos.

Mas não foi isso o que fizeram. Usaram a liberdade de arbitrar em favor de sua continuidade, da transmissão de seus valores e herança moral a uma nova geração depois deles. Optaram por atitudes que lhes dessem posse ao seu direito pessoal e intransferível à felicidade – e também à de outros. Agiram! Não esperaram ninguém optar em seu lugar. Construíram um mundo melhor e se serviram dele como lhes foi possível.

Do que adianta ter a quem acusar? Resolve o problema? Não. Só aumenta a auto miseração.

Cada ser humano vem só a este mundo. E dele parte só. Casado, viúvo, filho, homem, mulher, divorciado, rico, miserável... Qualquer um está só, pensa só e irá morrer só.

Melhor do que encontrar culpados pelas capacidades de que não lançamos mão para progredir, cativar, conquistar, ser melhores, lutar em favor de ideais ou convicções, é buscar aprender como usar esta capacidade. Não é só importante. É vital.

Olhe para dentro de si e veja quanto ainda há que aprender. Diante disso, perduram duas opções. Ou você aprende, põe em prática e luta para ser feliz – e provavelmente será porque existe uma recompensa para cada esforço – ou você se senta na frente da tevê para assistir novelas e, ao se dar conta desta tolice, encontre alguém para culpar. Depois disso, chore muito, fique com raiva de tudo e de todos; acuse, lamente e infernize a vida de quem você puder.

Todos continuarão livres. Você estará preso e perdido em seus falsos pressupostos. É a sua opção própria. Você escolheu isto, saiba!
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473