23 de dez. de 2007

PERFIL PROFISSIONAL, DIPLOMA E COMPETÊNCIAS

ABRAHAM SHAPIRO

Manhã de domingo. Estou em frente a um grande hospital da cidade enquanto faço minha caminhada habitual.

Um grupo de enfermeiros está terminando sua jornada de trabalho. Todos saem juntos. A maior parte é de mulheres.

A aparência do grupo é comum: todos de branco, cabelos longos e soltos, muitas das moças são gordas e a maioria fuma. Riem alto, falam e brincam uns com os outros.Usam brincos grandes, correntes, pulseiras, anéis, as maquiagens são coloridas e de longe sinto o perfume forte. Isto chama minha atenção e até me surpreende negativamente por se tratar de enfermeiros. Mais parecia a saída de pessoas de uma boate e não de um hospital.

Foi inevitável pensar: “Não gostaria de ser cuidado por pessoas com esta aparência e comportamento”. Mas, de pronto, tornei-me concessivo e me corrigi: “Aparência nem sempre implica em competência”. Prossigo caminhando devagar e olhando um pouco mais. Calibro, então, meu pêndulo de sentimentos e percepções: “A aparência tem muito a ver, sim, com competência. Uma depende da outra em vários níveis”.

Que tal o programa de televisão de um chef de cozinha que súa o tempo todo diante das câmeras e chupa os dedos quando os lambusa com algum creme ou líquido? Nada atraente para mim. Não sei para você e outros. Para muita gente isso, talvez não faça a menor diferença, mas analisando melhor, suor e lamber os dedos são incompatíveis com a higiene alimentar.

No processo de seleção de profissionais um item definitivo e decisivo é o perfil do candidato. Ele determina aspectos complementares à formação profissional. É quando se levam em conta a personalidade desejada, os hábitos pessoais, os traços físicos consideráveis e outras qualidades de importância para a função que se busca preencher.

Curioso é constatar que as empresas, em geral, dão nenhuma ou pouca atenção à tarefa de determinar otimamente o perfil de seus futuros funcionários. Agências prestadoras de serviço em recrutamento e seleção lutam com dificuldade para obterem o perfil desejável dos candidatos. Há, sim, uma densa preocupação com o salário e com a formação.

Em se falando de enfermeiros, por exemplo, quem gostaria de ser atendido por um que cheire a cigarro? Arrisco a dizer que, mesmo os pacientes mais tolerantes se sentiriam mal quando expostos ao forte odor da nicotina. Assim, um ponto cuidadoso na determinação do perfil de um candidato a enfermeiro é que não seja fumante.

Aparência física faz alguma diferença para esta função? É claro. Uma enfermeira obesa poderá ter dificuldades insuperáveis com a locomoção e remoção constantes de pacientes de um lugar para outro e com o vai-e-vem normal do ambiente hospitalar.

Traços de personalidade. Aí nos deparamos com a questão mais discutível. Em geral, as empresas não se preocupam em eleger as características comportamentais requeridas dos futuros candidatos. É típico ignorarem, na fase de seleção, o impacto que a personalidade fará ao desempenho pessoal e, portanto, aos resultados da organização. Sem dizer que identificar traços de personalidade é tarefa para pessoas experimentadas na prática de discernir entre a representação teatral de uma entrevista e os sinais reais do indivíduo. Só com experts é possível predizer o comportamento no dia-a-dia e se, portanto, o candidato estará em conformidade ao que a empresa espera dele na função. É para quem sabe.

A verdade é que o mundo já perdeu tempo demais com diplomas e cursos. O diploma é, hoje, uma parte não tão significativa da excelência dos grandes profissionais. Em quase todos os casos de profissionais de alto nível, o diploma menos que a série de refinamentos de efeitos positivos a que eles se submeteram em vista de complementar ou suplementar seus conhecimentos e habilidades. Desenvolveram competências que são – estas sim – as verdadeiras responsáveis por sua introdução, exposição, crescimento e manutenção de sua empregabilidade no mercado de trabalho.

Bons profissionais são cultos porque sabem que sempre estarão diante de pessoas diferentes. Entender e lidar com diferenças exige cultura.

Bons profissionais são educados, porque sabem que boa educação produz equilíbrio de comportamento. Equilíbrio é a maior exigência de um atendimento perfeito a clientes.

Bons profissionais estudam permanentemente – não se desligam dos assuntos concernentes a sua área de atuação - e lêem a respeito de múltiplos e amplos temas. Mantêm seu nível elevado de informação porque sabem que isto representa o acesso a um universo de novas oportunidades. Um bom profissional está em busca permanentemente de novas oportunidades, de mudanças e de inovações.

Bons profissionais não param de aprender e de aperfeiçoar suas habilidades em comportamento de pessoas e psicologia de relacionamentos. Eles estão conscientes de que relacionamento é tudo para a otimização profissional. Sem um network forte e estratégico, ninguém se faz conhecido e nem prospera.

Vai aqui uma charada. O que um profissional e um trapezista têm em comum? Uma boa rede de sustentação. Sem ela, ambos estarão mortos na primeira queda. E quem não cai pelo menos uma vez na vida?

Ninguém nasce com um perfil. Assim também, ninguém nasce formado.

Tudo, nesta vida, é passível de se adquir. Basta que se tenha força de vontade, um bom plano e, o mais importante, atitude. O resto é conseqüência de cada opção ou escolha.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473