Renato Bernhoeft
O universo que diz respeito ao mercado do trabalho não pode mais ser encarado apenas na perspectiva do emprego convencional. Muitas variáveis novas e desafiadoras surgiram e o mundo corporativo já não é o mesmo.
Infelizmente, muitos jovens ainda estão fortemente influenciados pela visão e modelo dos seus pais, que dão prioridade ao "emprego seguro numa grande corporação".
De uma forma complementar - embora inadequada para nossa época - também a maioria das escolas ainda está formando pessoas para uma visão e projeto exclusivamente centrado na ideia do emprego convencional. Ou, o que é ainda mais grave, persistem nas abordagens que desestimulam a atitude empreendedora como uma alternativa de trabalho.
Vale registrar que a opção de criar seu próprio emprego não deve surgir como tema apenas em épocas específicas. Em muitos países esses estímulos surgem quando cresce o índice de desemprego. Outros, entretanto, ampliam essas ações durante uma etapa de forte crescimento econômico, como é o caso atual do Brasil.
Essa orientação alternativa, visando a busca de um trabalho que não seja apenas fonte de renda, mas também de realização, deve ocorrer de forma permanente e sistemática. Afinal, as condições do mercado de trabalho sofreram profundas modificações há tempos.
Felizmente já se registram no Brasil resultados de iniciativas, tanto governamentais como privadas, que orientam, estimulam e até financiam novos empreendedores.
Segundo a articulista do "The New York Times", Hannah Seligson, "a lição mais importante talvez seja que o empreendedorismo pode ser um rumo de carreira viável, e não uma opção marginal. A velha promessa de que ingressar numa boa universidade e conseguir ótimas notas era suficiente para encontrar um bom emprego não funciona mais".
O aumento na quantidade de empreendedores que tem surgido nas renomadas escolas com MBA é um claro resultado desta tendência. Embora continuem existindo muitos entraves burocráticos para a criação de um empreendimento, bem como preconceito e dogmas de que para iniciar uma atividade autônoma se necessita de muito capital, já surgiram também vários facilitadores.
Os recursos eletrônicos mais acessíveis, como a internet, laptop, smartphones, twitter e facebook facilitam a divulgação de uma ideia. Construir um site, usar sistemas de videoconferências e apresentações de produtos ou serviços via web são alternativas interessantes, além de terem custos bem menores.
Importa a criatividade de cada um. Ou, como sempre disse a muitos que desejavam empreender: Ter a humildade e a capacidade para compatibilizar os papéis de "presidente" e "office-boy" ao mesmo tempo - pelo menos na fase inicial.
É evidente que não podemos descartar os riscos de fracassos e desilusões. Em média, 50% dos novos empreendimentos falham nos primeiros cinco anos. Uma das características importantes do empreendedor, contudo, é a capacidade de se motivar e manter a criatividade para transformar problemas em oportunidades.
Ser um empreendedor é desenvolver a competência de descobrir formas criativas e inovadoras de preencher - ou até mesmo criar - soluções para "lacunas" do mercado que outros não perceberam.
É da maior importância que as famílias digam aos seus filhos que eles devem analisar o empreendedorismo como uma opção, quando tratam de seu futuro profissional. É possível criar alternativas de emprego, sempre que possível, apoiadas por conteúdos curriculares das instituições de ensino.
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Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho de sócios da höft consultoria societária