26 de jul. de 2010

OS MODELOS MENTAIS E SEUS PREJUÍZOS

Artigo publicado no JL - Jornal de Londrina, em 26/07/2010, na coluna Profissão Atitude.

ABRAHAM SHAPIRO

A história é conhecida. “Uma mulher compra uma xícara de capuccino e cinco biscoitos de nata num café do shopping, e senta-se numa mesa próxima para comê-los. Logo à sua frente está um senhor desconhecido, lendo uma revista. Ela prova o capuccino e tira um biscoito do pacote. Assim que começa a comer, o homem tira um biscoito do mesmo pacote para si.

Descrente do que acaba de ver, ela come o primeiro biscoito e pensa no que fazer em seguida.

Curiosa, ela pega um segundo biscoito. Confiante, o homem faz o mesmo, estampando um enorme sorriso no rosto enquanto saboreia o seu biscoito. Somente o autocontrole impede a mulher de protestar contra este autêntico cara de pau.

Com apenas um biscoito sobrando agora, ela vai novamente ao pacote. Mas o homem é mais rápido. Com um sorriso e nenhuma palavra, ele quebra o biscoito que sobra ao meio e oferece o pedaço a ela. A mulher está inconformada. Ela então se levanta, pega sua bolsa e dirige-se rapidamente ao exterior do shopping rumo ao seu carro. Já no estacionamento, enquanto procura as chaves na bolsa, até deixa escapar uma pequena ofensa de seus lábios. É quando seus dedos acham, ao lado do molho de chaves, o pacotinho dos biscoitos que ela havia comprado no café... e está fechado, do jeitinho que a atendente lhe deu no balcão!”

A base sobre a qual fazemos julgamentos, a régua com que medimos as pessoas, nosso modo próprio de enxergar e compreender os eventos ao nosso redor, são frutos de nossos “modelos mentais” – também chamados paradigmas. Eles são construídos a partir das nossas crenças e convicções.

Como a mulher nessa história descobriu, nossos modelos mentais não são necessariamente corretos, já que mudanças em nosso ponto de vista sobre o mesmo evento podem ocorrer tão logo tenhamos novas informações adicionais a respeito.

Construir paradigmas flexíveis é um talento. Não só. É uma virtude indispensável ao perfil de grandes seres humanos, antes de excelentes profissionais. Só inteligências elevadas dominam esta arte.

Você deve imaginar que após o evento dos biscoitos, a mulher sofreu uma mudança abrupta na visão de seu próprio comportamento. Ela estava enganada. Seus pressupostos a empurravam a fazer julgamentos errôneos e falsos sobre o homem. Até achar o seu próprio pacote de biscoitos na bolsa, ela reputava o senhor como invasivo e mal educado, quando, de fato, ele não era. A verdade apareceu após ela ter visto o quadro completo.

É sempre assim!

Muitos de nós estamos em pé de igualdade com aquela mulher, julgando situações e pessoas, levando em conta um modelo mental tendencioso, parcial e egoísta. Como ficaríamos ao ver o quadro completo?

Calma ao julgar. Conhecer fatos antes de agir sumariamente faz bem à alma. E também ao corpo. Não se conformar com o que se sabe é amor à justiça.

Melhor que tudo? É não julgar.

______________________

Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473