16 de jul. de 2010

O TEMPO SE INCUMBE DA LIMPEZA

Jefferson Bernardes/Valor
Quanto mais marcante e mais emocional, maior a chance de um evento se consolidar na memória. Se forem eventos alegres, melhor. O cérebro reprime, guarda no fundo de seus arquivos e dificulta o acesso a episódios que abalam nossas vidas pessoais.
O cérebro também altera memórias. "Ao longo do tempo, a lembrança desta ou daquela pessoa vai se tornando mais doce, mais agradável, os fatos tristes ou incômodos vão sendo esquecidos", diz Ivan Izquierdo.
Não é verdade que só usamos 10% da capacidade do cérebro. Esquecimentos são a prova. "Peça a um médico para descrever tudo que sabe e ele vai falar por algumas horas. O resto foi esquecido ou colocado em segundo plano. Para isso servem os livros e a internet, para recuperar informações perdidas", afirma Izquierdo. "São poucas as memórias que duram toda a vida. Mas o cérebro sabe o que deve guardar. E nem sempre concordamos, nós e nosso cérebro, sobre o que é importante."
O que é relevante também muda ao longo da vida. Jovens tendem a se lembrar vividamente do filme que viram no domingo e o nome dos atores. "Eles estão em busca de modelos de comportamento, de identidade, daí o sucesso desse casalzinho de vampiros, por exemplo. Aos 40, com nossa personalidade já formada, isso deixa de ser importante, a gente mal se lembra do rosto daquele jovem ator", admite Izquierdo.
A perda de neurônios é constante. Quando a criança começa a andar, entre os 9 e 13 meses, uma quantidade enorme dessas células morre. Toda sua perspectiva anterior, a visão de mundo de um ser que engatinha, já não serve para nada e novas sinapses vão se formar, para que ela aprenda a viver como bípede. As perdas continuam. Memórias às vezes se misturam e criam falsas lembranças. A mãe de Izquierdo, já idosa, confundia lembranças da infância do filho com a do irmão, com quem ele se parece.
"Quanto mais se usa a memória, menos se perde", sentencia o especialista. Pesquisas compravam. A perda de memória em pacientes de Alzheimer que dedicaram anos ao estudo e à leitura costuma ser menor do que em outros doentes.