19 de jul. de 2010

EMPRESÁRIOS EM BUSCA DE UMA RAZÃO

Artigo publicado no JL - Jornal de Londrina, em 19/07/2010, na coluna Profissão Atitude.

ABRAHAM SHAPIRO

Em 1967, paraquedistas Israelenses capturaram a Cidade Velha de Jerusalém e abriram caminho até o Muro das Lamentações – a porção ocidental das ruínas do Templo Judeu, onde se transcorreu grande parte de sua significativa história nacional. Este lugar é o ponto focal da fé Judaica, tendo em vista ser o muro cujas pedras compuseram o local mais sagrado de seu povo. Muitos dos soldados religiosos daquele pelotão, tomados de emoção poderosa, encostaram-se no Muro e começaram a rezar e a chorar. Um pouco afastado deles havia um soldado não-religioso que também chorava. Seus colegas acharam estranho que um não observante das leis estivesse aparentemente na mesma “sintonia” dos religiosos, e lhe perguntaram: “Mas por que você está chorando? O que o Muro representa para você?” E o soldado respondeu: “Choro por não saber por que eu devia chorar!”

Esta cena me comove. Ela fala alto e forte para mim, como Judeu. Mas também revela uma sensibilidade valiosa para o meu lado profissional de consultor.

Uma das situações com que mais me deparo no aconselhamento de executivos é o nível de dissonância entre suas vidas e o trabalho. Mesmo com sucesso profissional visível e mensurável, alguns olham pela janela de seus jatos particulares e se perguntam: “Para que serve tudo isso?”. Outros, após horas numa reunião inútil, recheada de platitudes e puxa-saquismos, têm a sensação cabal de: "O que estou fazendo aqui?". Há ainda o que se veem obrigados a escolher uma entre várias opções estratégicas – todas difíceis e desagradáveis – e pensam: "Onde foi parar a esperança que eu sentia antes?"

O coaching é uma ferramenta que busca, entre outros objetivos, o alinhamento entre a vida e o trabalho. Isto surge da necessidade de se buscar uma conexão entre lucros e valores humanos, ou de se compreender o que significa um ser humano num ambiente brutalmente competitivo.

Estes líderes empresariais descobrem através do coaching que se não forem traçadas as metas de significado, grandeza e destino de suas vidas, não terão condições de tomar uma decisão inteligente sobre o que fazer amanhã cedo, e muito menos de traçar uma estratégia para uma empresa. Quanto mais compreendem sua própria condição humana, mais eficazes se tornam como empresários ou executivos. Aliás, a profundidade humana faz sentido econômico.

A transformação - real, duradoura e profunda - é o maior e mais persistente desafio que confronta o mundo empresarial. Quanto antes se convencerem disso, maiores benefícios colhem as pessoas e as empresas.

É fato. Aquela cena do paraquedista é mesmo uma realidade intrigante e simbólica. Quem não descobrir a razão e o sentido de seu viver, acabará chorando e sofrendo por não saber sequer quais são os motivos da vida por que se deve chorar.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473