5 de jan. de 2008

ROER OSSO DURO TAMBÉM É PARTE DE UMA VENDA

por WALTER LUZ

O cliente sobre quem comento nesta crônica encontra-se muito bem cotado, entre os maiores, em seu segmento no cenário nacional.

O comprador levou-me, um dia, para conhecer a linha de produção. Encontrei pessoas gentis, máquinas e sistemas moderníssimos trabalhando em ritmo empolgante. É notável o espírito de equipe entre os colaboradores. Mostram a qualquer um o orgulho de estarem trabalhando ali. É evidente o sentimento de paixão que todos, sem exceção, exalam.

São geradores de grande prosperidade em sua região. Cultivam ligações extraordinárias com a comunidade e valorizam as relações fortes com clientes e fornecedores.

Neste cliente fizemos investimentos no desenvolvimento de vários protótipos com que visávamos melhor atender às exigências do mercado que eles exploram. Esforcei-me ao máximo em demonstrar atenção e comprometimento sério em ajudá-los a atingir este ideal. Até agora, fechamos apenas uma de toda a série de embalagens desenvolvidas. Ela atende uma nova linha de produtos – quase nada frente ao volume de produtos que eles fabricam.

Recentemente questionado sobre o pequeno retorno frente ao valor já acumulado que fizemos neste projeto, eu não encontrei outra forma mais realista de responder senão: “Ainda continuo roendo o osso”.

Minhas esperanças são grandes. Não só, fizemos um excelente trabalho. Resultados nem sempre acontecem no tempo que desejamos. E parece que muito menos quando temos necessidade. É uma pena. Difícil para nossas empresas e mais, ainda, para qualquer um de nós, vendedores.

Não são poucas as vezes que precisamos dispor de recursos ou meios com que nem contamos para buscar uma parceria. Por isso, todo início – ou reinício – depende de um rol não pequeno de princípios. Enquadrar-se neles e respeitá-los em todas as etapas da negociação é a sabedoria que se requer para a conquista de uma forte e cristalizada parceria comercial. Mas a questão não é exata, não é matemática, mas comportamental. É ter paciência e entender que o tempo é muito mais complexo do que imaginamos ou ansiamos quando olhamos no calendário, no relógio ou na data de vencimento de nossas contas.

E tão importante quanto isso tudo é saber, ainda, que o profissional de vendas nem sempre terá suas realizações no lugar mais alto do pódio ou no topo da montanha mais visível do sucesso. Às vezes, e sào muitas, ele terá de se contentar em vê-las humildemente anexadas como parte de um processo ou de um projeto com perspectivas remotas de se concretizar como um negócio real.

Ao narrar esta experiência, meus olhos ainda marejam de emoção pela energia, pelo desejo de acertar e pelo quanto isso já demandou de nós. Mas a consciência dominante em mim é de que sou uma parte de um todo muito grande de situações e conseqüências, ações e reações, estímulos e respostas. Nem sempre terei destaque; nem sempre ganharei o quanto a que me dedico, eu sei. Mas satisfaço-me enormemente em ser uma engrenagem importante sem a qual a máquina não irá funcionar.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473