23 de jan. de 2008

A CRIATIVIDADE SEGUNDO O FOTÓGRAFO DA NATIONAL GEOGRAPHIC MAGAZINE

DEWITT JONES

1. CRIATIVIDADE É A CAPACIDADE DE OLHAR PARA O ORDINÁRIO E VER O EXTRAORDINÁRIO

Todos os dias acontecem coisas fantásticas e extraordinárias à nossa volta. Se vamos conseguir vê-las ou não, depende só da nossa perspectiva, de nosso ponto de vista e de nossa capacidade de praticar a criatividade.

O homem tem a capacidade de olhar o ordinário e ver nele o extraordinário. Esta capacidade se assemelha a “apaixonar-se”. É exatamente isso o que ocorre com as pessoas grandes. Elas se apaixonam por aquilo que fazem e isso libera uma energia infinita de criatividade e de vida.


2. QUALQUER ATO PODE SER CRIATIVO

Paixão. O que muitos de nós não daria para estar em contato com a nossa paixão todos os dias!!! Todos temos este potencial. Mas como externá-lo para encontrarmos soluções extraordinárias para os desafios que enfrentamos todos os dias?

Eu preciso da minha criatividade todos os dias.

Trabalhamos o tempo todo com tarefas, prazos, avaliações de resultados. Nosso desempenho consiste em agregar valor ao que fazemos. Como podemos fazer isso melhor? Usando nossa criatividade.

Nosso maior defeito de criação talvez tenha sido acreditar que jamais seremos criativos. Quando crianças, associamos a criatividade à arte – pintura, escultura, desenhos. Quem não fosse deste ramo, estaria fora do circuito. Mas a criatividade é apenas se apaixonar pelo mundo. Logo, em cada ato, eu tenho o potencial para fazer algo criativo. Minha vida pode ser minha arte – esteja eu tirando uma foto ou conversando com um cliente, cuidando da família ou fazendo um trabalho comunitário. Cada ato tem o potencial de transformar o ordinário em extraordinário.


3. A CRIATIVIDADE É UMA QUESTÃO DE PERSPECTIVA

Um fotógrafo precisa decidir que tipo de lente colocar na câmera. Em outras palavras: de que perspectiva vou ver o problema para ter aquela visão extraordinária? Se não tiver a perspectiva correta, não há a menor chance de achar aquilo que seja extraordinário.

A lente que escolhemos para ver um problema é crítica. Nossa perspectiva é o que abre a porta para uma solução ordinária ou extraordinária. Portanto, primeiro precisamos achar a perspectiva correta. Se não conseguirmos aprender a trocar as lentes, ficaremos presos. Mas precisamos aprender que sempre há uma outra perspectiva. E quando acreditamos nisso, podemos transformar o modo de encarar a vida.


4. SEMPRE HÁ MAIS DE UMA RESPOSTA CERTA

Isso talvez seja uma das verdades Mais importantes a ser aprendida: há mais de uma resposta certa. Parece tão simples, mas esta é a chave da criatividade. Há mil maneiras de abordar um problema para se achar uma solução criativa, mas às vezes é difícil entendermos isso como forma de superarmos nossas situações.

É incrível como as coisas começam a mudar quando abordamos o mundo com esta perspectiva de mais de uma resposta certa. Para começar, não devemos parar quando encontramos a primeira resposta certa. Achar respostas é fazer o nosso trabalho.


5. REENQUADRE OS PROBLEMAS COMO OPORTUNIDADES

Qualquer um deve ser capaz de achar uma resposta certa. Mas saber que existem outras respostas certas e persegui-las é um exercício que aumenta nossa autoconfiança e diminui nosso medo. É preciso ter vontade e saber que ela estará lá, à nossa espera.

Assim, começamos a abraçar mudanças em lugar de temer. Começamos a abordar o mundo com uma sensação de fartura e não de escassez. E ficamos cada vez mais à vontade para enquadrar o problema numa oportunidade.


6. NÃO TENHA MEDO DE COMETER ERROS

Reenquadrar o problema numa oportunidade, encontrar um outro ângulo e nos mantermos confiantes e à vontade sabendo que outra resposta certa estará à nossa espera. Mas você não pode fazer isso e não irá fazer isso se tiver medo de cometer erros.

Um artigo típico da revista National Geographic usa quatrocentos rolos de filme.

Quatrocentos rolos são mais de quatorze mil imagens, para se escolher, em média, as trinta que irão para um artigo. O fotógrafo não pode pensar que vai errar. Tem que procurar a próxima resposta certa.


7. ROMPA O PADRÃO

O receio de errar, o medo de arriscar-se a pensar fora do convencional e forçar-se a caminhar para fora da zona pessoal de conforto pode deixar-nos parado num vale onde não teremos novas visões e novas soluções certas. Quantas vezes ficamos aí, bem nesse lugar, imaginando “porque não deu certo?” quando, na verdade, poderíamos sair de nossos limites! É por isso que temos que romper nossa ligação com todos os padrões a que estamos condicionados. Padrões de pensamento, de julgamento, de crenças e de ação.

Ninguém gosta de cometer erros. As pessoas criativas querem ter as coisas que fazem com base nas melhores informações que puderem obter naquela hora; querem usar a melhor técnica que forem capazes de aprender; querem tudo de acordo com sua visão pessoal, de acordo com a visão de seu patrão. Portanto, se isto for um erro, como irão aprender com ele?

Como transformar uma situação ganha-perde em uma situação ganha-aprende? Como a transformar numa pequena vitória?

Quando não temos receio de errar e quando acreditamos que há mais de uma resposta certa é quando começamos a romper os padrões em nossas vidas.

Padrões, sistemas – eles são muito importantes. Não conseguimos viver sem eles. Mas todos sabemos que se deixarmos nossos padrões durarem tempo demais sem questionamento, eles se tornam nossas prisões.

Romper o padrão pode ser o primeiro passo para se aprender a voar. Porque quando rompemos os padrões, tudo estará sempre sendo questionado, mesmo quando estiver indo bem. Você fica dizendo: “porque não fazemos isso assim?”, “como podemos fazê-lo melhor?” E é esta perspectiva que nos permitirá colocar a visão em foco. Pois, sempre que pudermos obter este foco crítico, descobriremos que podemos fazer muito mais com muito menos. Nossos atos de tornarão simples, poderosos e fortes. Teremos a sensação de sinergia positiva – quando o todo fica tão maior do que a soma daquelas partes bem enfocadas.


8. TREINE A SUA TÉCNICA

Precisamos de um estado mental para a criatividade: a visão correta. Mas há uma outra coisa que precisamos fazer para não perdermos esses momentos extraordinários. Precisamos treinar a nossa técnica. Isso é crítico porque uma visão sem técnica é cega.

Imagine um fotógrafo que no momento em que aquele pé sair do chão ele ainda tenha que pensar: “que filme coloquei na máquina?” Ele deve estar pronto para captar aquela visão extraordinária. Logo, ele precisa treinar esta técnica.

Depois de muito bem treinada a técnica é preciso colocar-se no lugar de maior potencial. O lugar onde existe maior probabilidade de se encontrar várias respostas certas. Quando se está lá, no lugar de maior potencial, as respostas certas vêm uma atrás da outra.

A vida nos oferece janelas com oportunidades. Precisamos estar preparados para aproveitá-los. Às vezes ficam lá apenas um instante. Em outras ocasiões, exigem muita paciência – dias, meses – paciência para enfocar a visão e esperar.


9.VOCÊ PRECISA REALMENTE SE IMPORTAR

A criatividade não é apenas visão e paixão. Também inclui técnica e perseverança. É um equilíbrio de emoção e de intelecto que surge quando damos importância àquilo que fazemos. Muita importância.

Importar-se de verdade com pessoas que trabalham conosco e com os projetos em que trabalhamos. Importar-se de verdade.

Não se preocupe com não errar. Busque a próxima resposta certa.

Há uma passagem na Bíblia que diz: “O banquete está servido, mesmo que ninguém venha”. Quando sou criativo, vejo que a vida é, mesmo, este banquete, servido ao meu redor o tempo todo, oferecendo infinitas oportunidades, mostrando um mundo cheio de luz e beleza. E se deixarmos esta beleza nos preencher, ela virá à tona de mil maneiras: na qualidade do nosso comportamento, na qualidade dos produtos que fazemos, na abrangência dos serviços que prestamos aos nossos clientes, no modo como tratamos nossas famílias, no serviço que prestamos às nossas comunidades, nas histórias que contamos aos nossos filhos na hora de dormir.

Esta perspectiva, esta janela, está sempre lá. Basta estarmos abertos o bastante para vê-la. E ao enxergá-la o mundo será, realmente, extraordinário.

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Dewitt Jones é fotógrafo chefe da national Geographic Society.