Renato Bernhoeft
Uma geração fruto do aumento dos índices de longevidade, que vive mais tempo e com melhor qualidade de vida, exige muitas reflexões, ações e reinvenções ao longo da existência.
Mais ainda quando também se constata uma forte redução nos índices de natalidade. Ou seja, estamos a cada dia observando o aumento do número de filhos únicos, que têm ao seu redor quatro avós- isso quando são produto de apenas uma relação - além de muitos tios, padrinhos e outras figuras marcantes.
Este fenômeno também tem sido chamado de geração 4-2-1. Portanto, estamos diante de um quadro em que devemos rever paradigmas, atribuições e responsabilidades.
Temos que pensar não apenas na perspectiva profissional e das carreiras corporativas. Existem novas exigências que todo esse processo de mudança, tanto universal como local, provoca em nossas vidas.
Para aqueles que agora estão ultrapassando a meia-idade, e já começam a perceber um certo esgotamento do modelo que estruturaram, tanto para a vida profissional como pessoal, essas questões podem gerar uma certa angústia, ou até ansiedade. Pois, além do processo biológico, é muito natural que os dilemas, as perplexidades e os questionamentos se acentuem. Inclusive sobre o quanto valeu a pena o estilo de vida que construíram ao longo das etapas anteriores de sua existência. Com o agravante de que boa parte das pessoas nem ao menos pensou, ou teve algum preparo para essa nova fase da vida.
A longevidade está criando uma série de oportunidades para a maioria dos seres humanos. Mas essa visão nem sempre é acompanhada com otimismo e por ações concretas pelas gerações que estão amadurecendo. A tendência é de que sejam destacados com maior ênfase os problemas, as dificuldades e as limitações, ao invés da busca por uma maneira de se reinventar.
Evidentemente, esse não é um processo simples para pessoas que foram educadas com base em um modelo de vida linear onde o desfrute fazia parte dos planos futuros. Uma geração que não tinha clareza do momento em que o presente e o futuro poderiam se fundir.
Por outro lado, quando analisamos o quadro atual na perspectiva de um elevado número de filhos únicos, é possível antever uma dificuldade dessa nova geração na hora de realizar suas escolhas de forma genuína. Isso porque precisam administrar um forte, e "carinhoso" conjunto de expectativas, influências e até facilidades que a nova estrutura familiar oferece.
Está comprovado, por uma série de estudos e pesquisas, que filhos excessivamente preocupados em atender as expectativas dos seus familiares - especialmente avós e pais- tendem a se tornar figuras frustradas e insatisfeitas. Isso porque não tiveram a oportunidade de lidar com seus dilemas e escolhas de forma independente e, muitas vezes, foram induzidos às carreiras ou aos estilos de vida de seus antepassados. Lembrando sempre que também os modelos familiares estão se transformando, como produto de uma maior presença das mulheres no mundo corporativo. Até porque elas também se tornaram provedoras na estrutura financeira familiar.
Em modelos familiares, onde o número de filhos é menor, estas pressões- ou até o excesso de carinho, amor, cuidados e expectativas- podem representar maior risco para uma legítima realização dos seus descendentes.
Finalmente, a única recomendação possível é a de que este assunto passe a fazer parte das agendas dos parceiros, casais, descasados e famílias de uma forma geral. Incluindo os filhos é claro.
____________________________
Renato Bernhoeft é fundador e presidente do conselho de sócios da höft consultoria societária
.
.