10 de jan. de 2011

PARENTE COMPETENTE

Artigo publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, em 10/01/2011, na coluna Profissão Atitude, em Empregos e Concursos


ABRAHAM SHAPIRO

Uma empresa familiar costuma virar cabide de emprego de parentes. Será isto certo? A resposta não é fácil, nem simples. Há situações e situações. Não se pode generalizar. Um parente pode superar as expectativas e fazer os negócios irem além do que conseguiria seu fundador de sucesso. Outras vezes – por falta de aptidão, capacidade e habilidade – herdeiros e familiares dilapidam patrimônio de esforço sobrepujante.

Havia uma empresa tradicional, que cresceu e enriqueceu no interior, onde as coisas estavam apertadas para o gerente de RH. Ele tinha um trabalho colossal, e não conseguia atingir os resultados esperados.

Após longos e rigorosos processos de seleção ele via seus esforços invalidados pelos caprichos do proprietário e fundador, um chefe centralizador e sabe-tudo, cujo hábito consistia em desqualificar qualquer funcionário contratado. Ninguém era bom para ele.

Certo dia, diante da necessidade de contratação de um novo gerente comercial e sabendo que todas as tentativas acabariam em nada, o RH levou um determinado currículo para apreciação do patrão. Este não poupou as piores críticas. Declarou que o candidato não tinha perfil sequer para atuar como auxiliar de escritório na empresa, e que jamais aceitaria alguém com formação tão medíocre.

Neste momento, o RH declarou algo que o deixou atônito. Disse ao arrogante patrão que o currículo em foco era de seu filho, diretor de vendas há três anos. Apenas o nome havia sido trocado por pura necessidade de ajustar definitivamente a visão de ambos, já que todos os critérios de seleção adotados nunca atendiam às expectativas do diretor.

A verdade a ser perseguida nestes dias pós crise – e talvez às portas de uma nova grande crise mundial – é que nunca a necessidade por competências reais e “bem afiadas” foi tão crucial como hoje na gestão dos negócios. Observe o caso da fraude bilionária que pôs abaixo o império financeiro construído por um personagem importante da mídia brasileira, há poucos meses. É um exemplo típico. A demissão de parentes do tal empresário, incluindo sua mulher, à direção do banco que geria grande parte de um patrimônio de dácadas foi a base da complicada proposta de recuperação. Todas as saídas estudadas para solução do impasse têm como ponto comum o fim do nepotismo, já que, na maior parte das vezes, a relação entre parentesco e competência é muito improvável.

Um dado muito simples complementa minha breve análise. Ele é emitido pela mais conhecida e respeitada consultoria em empresas familiares do país: "As empresas familiares dominam o mundo dos negócios e são também as que concentram os maiores problemas. Pesquisa revela que 65% das falências ocorrem por conflitos entre os membros da família e 87% por inépcia dos herdeiros, e não por problemas com o mercado”.

Preciso dizer mais alguma coisa?
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473