Jonathan Lash
Olhando ao redor do mundo, as tendências globais não são muito promissoras quanto à capacidade da Terra de continuar sustentando melhorias no bem-estar humano. A humanidade está esgotando o capital natural em um ritmo cada vez mais rápido e a natureza não dá pacotes de resgate.
Como líder de uma organização focada na interseção entre meio ambiente e necessidades humanas, eu consulto análises e dados para oferecer recomendações de políticas e tomadas de decisão. A mensagem é clara: nós estamos perdendo a luta pela sustentabilidade. Um indicador chave é a perda da biodiversidade - em oceanos, pastagens, florestas - por todo o mundo e em todos os ecossistemas. À medida que esses ecossistemas sofrem degradação, eles produzem menos dos "serviços" - desde água limpa até sequestro de carbono - dos quais o bem-estar humano depende.
No entanto, podemos reverter essa tendência se aceitarmos três princípios:
1. Tudo está relacionado com os alimentos
O que relaciona o fornecimento de alimentos à conservação de sistemas naturais? Tudo. Cultivar ou colher alimentos é um fator decisivo nas cinco principais pressões que causam a perda dos ecossistemas dos quais a biodiversidade do mundo depende: perda de habitats, superexploração, poluição, espécies invasoras e mudança climática.
Isso é confirmado pelas conclusões da Avaliação Ecossistêmica do Milênio das Nações Unidas (ONU). Habitats: de acordo com a ONU, aproximadamente 43 por cento das florestas tropicais e subtropicais e 45 % das florestas temperadas em todo o mundo foram convertidas em lavouras e pastagens. Porcentagens ainda maiores de pastagens naturais foram convertidas em terras agrícolas destinadas à produção de alimentos.
Superexploração: a agricultura responde por 70 % do consumo global de água doce. Assim, as crises locais de água doce muitas vezes colocam a alimentação em conflito com a sobrevivência dos peixes.
Espécies invasoras: A introdução de espécies não-nativas de peixes para a produção de alimentos causou a redução do número de espécies nativas em algumas partes do mundo. Um exemplo é o impacto da perca-do-Nilo introduzida no Lago Victoria, no leste africano.
Poluição: Apenas uma fração do nitrogênio aplicado como fertilizante é normalmente absorvida pelas plantas; o resto acaba em águas interiores e sistemas costeiros, exaurindo o oxigênio e deixando zonas mortas, causando o colapso da pesca.
Mudança climática: A agricultura é causa direta de cerca de 15 % das emissões globais de gases de efeito estufa (segundo dados de 2005) e gera emissões adicionais através do seu papel no desmatamento.
A produção de alimentos é uma necessidade humana urgente. Porém, se quisermos preservar as espécies e manter a capacidade produtiva da natureza, precisamos encontrar maneiras de produzir alimentos de forma a não exacerbar essas pressões.
Nos próximos 40 anos, nossos sistemas naturais e humanos farão face a um enorme desafio causado pela convergência de diversas tendências que já estão em curso. A população mundial deverá chegar aos 9 bilhões. A renda per capita está aumentando e gerando mais consumo no alto da cadeia alimentar (ou seja, mais carne). De fato, segundo o Secretário-Geral da ONU para a Alimentação e a Agricultura, Jacques Diouf, a demanda por alimentos deverá dobrar até 2050. Isso significa que será preciso ter mais terra para produzir alimentos, e mais ecossistemas naturais - tais como florestas, zonas úmidas e pastagens - serão convertidos em fazendas. Resolver esse problema nos próximos anos será crucial para preservar a biodiversidade e o bem-estar humano.
2. Mais com menos para mais
O saudoso C. K. Prahalad, líder mundial em inovação e estratégia empresarial, cunhou a expressão "mais com menos para mais". O que ele quis dizer é que precisamos fornecer alimentos e oportunidades de emprego para mais pessoas. Porém, o século XXI provavelmente será a era da história humana em que atingiremos o limite da capacidade da Terra. É tempo de estratégias para produzir mais bem-estar usando menos da capacidade da Terra. Precisamos gerar mais riqueza com menos recursos para mais pessoas. Este será o grande desafio empresarial e político da nossa geração.
O agronegócio tem um papel importante nessa dinâmica. Nas próximas décadas, as inovações e práticas do agronegócio - tanto de grande quanto de pequena escala - dependem das pessoas e das empresas estarem à altura desse desafio.
Existem muitas ideias sobre como o agronegócio pode ser parte da solução. Três estratégias podem ser consideradas. Primeiro, aumentar a produtividade em terras agrícolas com tecnologias comprovadas e boas práticas. Segundo, restaurar e utilizar terras abandonadas ou "degradadas" para reduzir a pressão sobre as florestas, zonas úmidas e outros ecossistemas. Terceiro, gerir a demanda por alimentos para que nos tornemos mais eficientes no uso dos alimentos, bem como aumentar nossa dependência em fontes diferentes de proteína.
3. O governo deve estabelecer as condições
As empresas certamente têm um papel essencial a desempenhar, mas não estão sozinhas. Deve haver políticas governamentais locais, nacionais e internacionais que definam as condições e os sinais de mercado para alinhar as decisões empresariais e individuais ao sustento dos ecossistemas. Estes sinais incluem reformas na política tributária, novos marcos regulatórios e incentivos inovadores. A mudança climática global é um bom exemplo de que os governos precisarão oferecer sinais claros para que as empresas possam adaptar-se e inovar, de forma a trabalhar dentro das restrições dos sistemas naturais.
Se a Terra fosse uma empresa, certamente estaríamos à beira da falência. Se usássemos a Avaliação Ecossistêmica do Milênio como auditoria, nossa avaliação de crédito seria tão baixa que nenhum financiador em sã consciência decidiria investir no planeta Terra.
Felizmente, há muitas pessoas bem-informadas e capacitadas no mundo - tanto na indústria, no mundo acadêmico como no governo - para elaborar e executar uma estratégia vencedora. Líderes dinâmicos e instituições fortalecidas, bem como incentivos voltados à manutenção dos ecossistemas e dos serviços que eles fornecem, serão essenciais para levar-nos adiante.
O Brasil tem pontos fortes e produz inovações que fazem dele um líder natural global na busca por soluções nessa área. O país pode dar o exemplo ao mundo de como enfrentar os desafios de prover as necessidades humanas e fomentar o crescimento econômico, ao mesmo tempo preservando a biodiversidade e sabendo que a Mãe Natureza não dá pacotes de resgate.
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Jonathan Lash é presidente do World Resources Institute.