Sage Newman
Para empresas, oportunidades de crescimento em 2011 parecem estar por toda parte e, ao mesmo tempo, em lugar nenhum. Embora oficialmente encerrada, a recessão ainda assombra boa parte do mundo. Iniciativas de governos e tendências econômicas contraditórias deixam o retrato ainda mais confuso: enquanto no Brasil há planos de gastar, a Austrália faz cortes. Entre Estados Unidos e China, cresce a tensão comercial. Ao manter os juros baixos, a Indonésia flerta com a inflação.
Em mercados emergentes como a Índia, o crescimento econômico é forte, o que dá esperança para multinacionais de olho na expansão. Em quase todo país, no entanto, fatores negativos disputam com positivos, em parte porque cada país tem sua maneira de administrar a crise. Está estimulando a economia? Atraindo investimento estrangeiro direto? Impondo austeridade?
É preciso saber ordenar esse caos e evitar ciladas. Apresentamos aqui um guia — baseado numa somatória de fatores políticos e macroeconômicos — para a empresa determinar onde há probabilidade de crescimento, que governos estão incentivando ou obstruindo o investimento estrangeiro e que setores nesses países oferecem as maiores oportunidades.
Com base em análises políticas da consultoria Eurasia Group e em dados econômicos de fontes como o Fundo Monetário Internacional, avaliamos vários países em dois quesitos: situação macroeconômica (que afeta aspectos como nível de consumo, conflitos trabalhistas e estabilidade cambial) e política em relação a investimentos estrangeiros (que afeta o acesso de multinacionais a oportunidades). Distribuímos os países num gráfico dividido em quatro grupos — do menos ao mais arriscado. Embora outros fatores também pesem para multinacionais, fechamos o foco nessas duas áreas por serem influenciadas por decisões políticas que, além de difíceis de entender, podem mudar inesperadamente.
Certos resultados são surpreendentes. Com sua estabilidade e transparência, o Chile sai à frente do Brasil, eterno favorito do investimento. A China tem um ambiente de investimento mais favorável do que a Índia, mas esse vão deve encolher à medida que o governo indiano for promovendo uma série de mudanças em políticas.
Como calculamos a pontuação
Para avaliarmos a situação macroeconômica de um país, usamos dados relacionados a condições econômicas, incluindo crescimento do PIB, inflação, volatilidade cambial, equilíbrio do orçamento do Estado, saldo em conta corrente e reservas cambiais. Na avaliação do ambiente regulamentar do país, utilizamos dados e análises políticas da Eurasia Group. Para determinar se o ambiente político e regulatório era favorável ao investimento estrangeiro, avaliamos até que ponto políticas (como regulamentação) e práticas (como corrupção) do Estado inibem a atividade econômica. Tanto para condições macroeconômicas como para o ambiente regulamentar, usamos uma escala de 1 a 10 — na qual 1 representa o maior grau de risco e 10, o menor.
Vejamos um exemplo. Uma análise da situação macroeconômica da Espanha revela deterioração em várias variáveis no último ano. A taxa de desemprego, por exemplo, subiu de 18% em 2009 para estimados 19,9% em 2010. A volatilidade cambial do euro também aumentou nesse período, o que reduziu a estabilidade do cenário macroeconômico. Além disso, o crescimento real do PIB na Espanha é lento em comparação com o de outros países: o FMI calcula que a economia espanhola contraiu 0,3% em 2010 e crescerá apenas 0,7% em 2011. Políticas do governo espanhol não contribuíram para a situação macroeconômica: em janeiro de 2010, o governo adotou medidas de austeridade que incluíram a redução de salários no setor público, o aumento do imposto sobre valor agregado e a tributação maior de altos salários. Embora feitas para acalmar quem investe em títulos públicos, essas medidas refreiam a demanda de consumo; ao mesmo tempo, cortes de despesas impedem que gastos públicos subam para compensar a queda na demanda. Logo, a avaliação macroeconômica da Espanha piorou no ano passado. Uma série de indicadores de mercado confirma a deterioração no quadro macroeconômico espanhol, incluindo a retração de 5,3% no mercado de ações do país e o aumento de 16% no rendimento de títulos do governo em relação a outubro de 2010.
Abaixo, o leitor vai conferir uma seleção de mercados emergentes e desenvolvidos onde há potencial para mudanças em políticas ou onde nossa avaliação pode estar em desacordo com a opinião corrente.
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Sage Newman é diretor associado de serviços de consultoria empresarial da Eurasia Group, firma de pesquisa e consultoria especializada em riscos políticos. Courtney Rickert é analista da Eurasia e Ross D. Schaap é diretor de análise comparativa na consultoria.