ABRAHAM SHAPIRO
Em “A Ética dos Pais”, um dos tratados da sabedoria Judaica, escrito há mais de dois mil anos, o sábio Ben Zomá propõe um curioso conceito de riqueza. Ele diz: “Quem é rico? Aquele que se alegra com o seu quinhão”.
Este é um ponto de vista pelo menos curioso sobre algo que tanto move e incomoda a humanidade em todos os tempos. Parece simples. Mas sabemos quão difícil é contentar-se com a própria porção e, igualmente, encontrar alguém que consiga fazê-lo com desenvoltura.
Buscando esclarecimento sobre esta dificuldade entre os discursos da sabedoria de Israel, encontramos alguém que disse: "Aquele que tem cem, deseja duzentos; e o que tem duzentos, quer quatrocentos”. Outra referência diz: “Todo homem se vai desta vida sem ter alcançado sequer um terço daquilo que almejou possuir”.
É tentadora a comparação entre estes dois pensamentos. Parece que se contradizem, vez que a metade de quatrocentos é duzentos, e a de duzentos é cem. Por que razão se afirmou que todo homem ao morrer não alcançou sequer um terço daquilo que desejou?
Na verdade, não há controvérsia. Só é preciso analisar melhor. Basta observar o comportamento humano no que concerne a dinheiro e bens.
Um sujeito que conseguiu cem, almejará “outros duzentos”, e não apenas mais cem. Ele agora quer juntar duzentos aos primeiros cem que já conseguiu. O resultado seria trezentos. E cem sobre trezentos é um terço. Se na data de hoje este indivíduo partisse deste mundo, ele não teria obtido a metade do que desejava, mas somente a terça parte.
Como se explica este comportamento? Pela lógica. Uma vez que para conseguir cem o fulano irá investir determinado esforço, estratégia, competência e desenvolvimento, após tê-lo alcançado, não desejará repetir a mesma façanha, mas partirá em direção a um novo desafio, isto é, outros duzentos. Ele desconhece o percurso para conquistar o dobro do que obteve. Carecerá de outros planos, táticas e esforços. Isto é o que estimula sua caminhada.
O homem, em seu estado natural, se atrai por metas ainda não atingidas. Ele pautará sua existência por este raciocínio. E irá transmiti-lo aos seus descendentes, de geração em geração.
Este, exatamente, é o obstáculo para se alegrar com o próprio quinhão.
Riqueza, segundo o conceito enunciado por Ben Zomá na Ética dos Pais, nada tem de atitude comum. Seu conceito não se aplica ao homem no estado natural, mas somente ao que busca o sobrenatural – àquele que se refina na alma, que se eleva em seus sentimentos e subjuga os desejos e inclinações. Só um indivíduo assim certamente se alegrará com o seu quinhão.
E então, o que me diz? Você é rico?
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473
Em “A Ética dos Pais”, um dos tratados da sabedoria Judaica, escrito há mais de dois mil anos, o sábio Ben Zomá propõe um curioso conceito de riqueza. Ele diz: “Quem é rico? Aquele que se alegra com o seu quinhão”.
Este é um ponto de vista pelo menos curioso sobre algo que tanto move e incomoda a humanidade em todos os tempos. Parece simples. Mas sabemos quão difícil é contentar-se com a própria porção e, igualmente, encontrar alguém que consiga fazê-lo com desenvoltura.
Buscando esclarecimento sobre esta dificuldade entre os discursos da sabedoria de Israel, encontramos alguém que disse: "Aquele que tem cem, deseja duzentos; e o que tem duzentos, quer quatrocentos”. Outra referência diz: “Todo homem se vai desta vida sem ter alcançado sequer um terço daquilo que almejou possuir”.
É tentadora a comparação entre estes dois pensamentos. Parece que se contradizem, vez que a metade de quatrocentos é duzentos, e a de duzentos é cem. Por que razão se afirmou que todo homem ao morrer não alcançou sequer um terço daquilo que desejou?
Na verdade, não há controvérsia. Só é preciso analisar melhor. Basta observar o comportamento humano no que concerne a dinheiro e bens.
Um sujeito que conseguiu cem, almejará “outros duzentos”, e não apenas mais cem. Ele agora quer juntar duzentos aos primeiros cem que já conseguiu. O resultado seria trezentos. E cem sobre trezentos é um terço. Se na data de hoje este indivíduo partisse deste mundo, ele não teria obtido a metade do que desejava, mas somente a terça parte.
Como se explica este comportamento? Pela lógica. Uma vez que para conseguir cem o fulano irá investir determinado esforço, estratégia, competência e desenvolvimento, após tê-lo alcançado, não desejará repetir a mesma façanha, mas partirá em direção a um novo desafio, isto é, outros duzentos. Ele desconhece o percurso para conquistar o dobro do que obteve. Carecerá de outros planos, táticas e esforços. Isto é o que estimula sua caminhada.
O homem, em seu estado natural, se atrai por metas ainda não atingidas. Ele pautará sua existência por este raciocínio. E irá transmiti-lo aos seus descendentes, de geração em geração.
Este, exatamente, é o obstáculo para se alegrar com o próprio quinhão.
Riqueza, segundo o conceito enunciado por Ben Zomá na Ética dos Pais, nada tem de atitude comum. Seu conceito não se aplica ao homem no estado natural, mas somente ao que busca o sobrenatural – àquele que se refina na alma, que se eleva em seus sentimentos e subjuga os desejos e inclinações. Só um indivíduo assim certamente se alegrará com o seu quinhão.
E então, o que me diz? Você é rico?
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473