18 de jan. de 2011

UM JAZZISTA FALA SOBRE LIDERANÇA

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Wynton Marsalis cresceu numa família de músicos de jazz de New Orleans. Com seis anos, ganhou o primeiro trompete — presente de aniversário do bandleader Al Hirt. Aos 14, estreou com a Filarmônica da Louisiana; aos 17, foi morar em Nova York, onde frequentou a academia de música Juilliard, entrou para a Jazz Messengers, de Art Blakey, montou a própria banda e deu início a uma prolífica carreira compondo e gravando. Em 1987, Marsalis fundou a orquestra Jazz at Lincoln Center. Entrevista a Katherine Bell


KB: Como você aprendeu a liderar?

Marsalis: Em todo time, sempre fui um líder. Armava jogadas no futebol americano, era arremessador no beisebol, armador no basquete. O pessoal sempre me perguntava: “Cara, o que você acha que a gente deve fazer?”.

Quando jovem, era duro demais com os músicos. O pessoal que tocou comigo me ensinou a ser melhor. Aprendi a ter uma direção clara. Se a pessoa for indecisa ou fraquejar, não há como segui-la. É assim que se lidera com um instrumento de sopro. Sou o quarto trompete, sigo o Ryan Kisor. É um músico jovem, mas um grande líder. Ele indica aos outros o que vai tocar antes de tocar. Se a coisa está saindo do controle, ele entra em cena. Dá para confiar nele.


O que há em comum entre dirigir uma orquestra e uma empresa?

É preciso saber o que cada um pode fazer. Quem precisa ser desafiado deve receber desafios. Quem precisa ser conduzido deve ser conduzido. Quem precisa ser mandado embora deve ser mandado embora. Um líder deve ter certa bondade, mas uma certa maldade também.



Qual sua teoria sobre talento versus prática?

Qualquer um pode se tornar proficiente em algo. Um boxeador pode treinar por quatro milhões de horas e atingir um certo grau de proficiência com isso — mas, se não tiver o talento, não vai ser o vencedor. Não há como praticar a habilidade de estabelecer elos ou de ter um insight profundo, espiritual. Para ser grande, a pessoa precisa de coragem para dizer o que pensa e resistência para lidar com os fatos. Ornette Coleman foi criticado por tocar sua música, mas tocou. Não é algo que se aprende com a prática.


Como você contrata músicos?

Busco quatro coisas: primeiro, individualidade. O músico tem um som original? Segundo, o conhecimento da música. Terceiro, é alguém que lida bem com a pressão? E, quarto, essa pessoa quer ser parte de “nós”?



Você precisa estar só para compor?

Venho de uma uma família grande, muito barulhenta. Gosto de distração. Aliás, quando vou compor, costumo ligar a televisão. Isso faz com que me concentre ainda mais naquilo que estou fazendo.



Você foi muito criticado por assumir uma abordagem conservadora ao jazz.

Gosto de ser criticado. Sempre soube que era original. Quando muito, a crítica me deixou mais determinado a seguir meu próprio rumo. A pessoa tem de avaliar as críticas e, em seguida, tomar as próprias decisões. Tem de dizer: “Vamos seguir este caminho”. É isso que fortalece sua liderança — você sobrevive e vira um líder melhor. Se não conseguir suportar isso, não é um líder.



O que um líder pode aprender ao ouvir jazz?

Se melhorar a capacidade de ouvir, de modo a poder acompanhar o desenvolvimento de um solo, você passará a escutar os outros com mais empatia, a ouvir o conteúdo subliminar de suas palavras. Vai conseguir sentir sua intenção.



Ao compor, o que você aprendeu sobre criatividade?

Na hora de inovar, honre suas tradições. Ao criar coisas novas, volte sempre ao passado. Use sempre tudo o que você possui.