11 de nov. de 2010

PAÍSES MANIPULAM PREÇO DA MOEDA PARA INCENTIVAR CONSUMO INTERNO



BOM DIA BRASIL 11/11/2010 - REDE GLOBO


Guerra cambial. China e EUA conseguiram manter o dólar e a taxa de juros com valores baixíssimos.

Guerra cambial. Quanto vale o dólar, o Real, o dinheiro da China? Nós ouvimos outros economistas e empresários brasileiros para você entender o que está em jogo - quem ganha e quem perde. E como esse assunto mexe com a vida de todo mundo.
É uma antiga regra da economia que a dona de casa conhece bem. Se tem laranjas sobrando no mercado, "cai o preço. Se tem muita laranja, sobra. Então fica mais barato", diz.
Aos olhos do mercado, laranja e moeda têm algo em comum: são tratadas como produtos e estão sujeitas às leis de oferta e procura. Alguns países se aproveitam dessa regra e inundam o mercado com sua moeda. Com isso, tornam os produtos que exportam mais baratos e vendem mais para os parceiros estrangeiros. Isso ajuda a gerar mais empregos, mas só nesses países que não respeitam o câmbio livre. Ultimamente, essa estratégia tem sido utilizada por dois gigantes da economia.
De um lado está a China, que graças a um governo centralizado, dominado pelo Partido Comunista, segura lá embaixo o valor do yuan. Do outro estão os Estados Unidos, maior economia capitalista do planeta, que conseguiram manter o dólar e a taxa de juros com valores baixíssimos. O objetivo é incentivar o consumo interno.
“Na hora em que ele mantém a taxa de juros dela muito baixo, ela torna os investimentos em
dólar, feitos nos EUA, pouco atrativos. Esse pessoal sai dos EUA e vai investir em outros lugares, isso faz com que a moeda desses outros lugares fique mais forte”, explica o economista Francisco Pessoa Faria Júnior.

Foi o que aconteceu com o Real. A moeda brasileira passou a valer mais nos últimos seis meses. A linha de valorização do Real é superior ao dólar e a de outros 23 países com quem o Brasil mantém negócios.
Em São Paulo, os economistas lembram que essa questão tem dois lados. Tem aqueles que perdem e tem aqueles que ganham. Por isso, tomar uma decisão não é uma tarefa fácil.
“Nós exportamos etanol para os EUA há muitos anos e em volume crescente, e o etanol de cana é muito mais eficiente e competitivo do que o de milho que é fabricado nos EUA. Por conta da sobrevalorização cambial, o nosso etanol de cana hoje já não está tão competitivo, está perdendo mercado nos EUA. Deixamos de exportar e, daqui a pouco, o etanol de milho quem sabe fica até mais barato do que o de cana, o que é um absurdo. Mas é por culpa do câmbio”, declara o economista Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de comércio exterior da FIESP.
Se o dólar subir muito, pode elevar índices como o do IGP-M, que está ligado ao câmbio e interfere diretamente no preço dos aluguéis. Também pode fazer subir o preço do diesel, e por tabela, o da passagem de ônibus. Sem falar dos preços da gasolina.
"Em geral, os demais vão subir também", aposta Demerval da Silva Júnior.
Já o dólar desvalorizado e o real forte ajudam ainda a realizar o sonho de conhecer o exterior. O próximo roteiro acabou de ser fechado: Estados Unidos, em janeiro do ano que vem.
“Quanto mais melhor, porque, no ano que vem, a gente pode viajar mais, pode aproveitar mais. Lá fora, em questão de cultura, os meus filhos aproveitam mais também e podem aprender uma outra língua”, destaca a empresária Aída Maria Trindade Sousa.
Já as agências de viagem dizem que o real forte pode afastar alguns clientes tradicionais. “Nós vamos ter menor competitividade em receber os estrangeiros no Brasil e, evidentemente, poder continuar com esse fluxo positivo de negócios que interfere nas duas pontas”, diz Faustino Albano Pereira Junior, presidente da Abracor.
Por tudo isso, os economistas estão divididos sobre a necessidade do governo brasileiro também interferir no câmbio.
“Se for uma intervenção no mercado futuro, no mercado de câmbio à vista ainda no regime de câmbio flutuante, eu acho que o governo pode e deve fazer isso, porque defender o valor da moeda é uma das obrigações do Banco Central em vários países do mundo e deveria ser igual aqui no Brasil”, declara o economista Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de comércio exterior da FIESP.
“Infelizmente não há uma resposta certa. Não há uma posição única. Muito importante de qualquer maneira é que os agentes, os economistas e o governo estejam abertos a ouvir sugestões e a discutir e a debater inclusive com a sociedade na medida do possível, porque o câmbio afeta todo mundo.”, ressalta o economista Francisco Pessoa Faria Júnior.