7 de out. de 2008

O QUE FALTA NO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE PESSOAS

ABRAHAM SHAPIRO

Estamos sempre preocupados em averiguar o conhecimento e a capacidade dos membros de nossa equipe. "O que sabem? Quanto sabem? Estão prontos para o mercado?"

Seja em vendas, produção, marketing ou áreas internas da empresa, colocamos a habilidade e a aptidão dos colaboradores à frente de todos os demais quesitos de avaliação pré ou pós-operacionais. Ao constatarmos que estes atributos atendem ao perfil que estabelecemos, ficamos tranqüilos e confiantes de que temos o suficiente para alcançar metas e vencer desafios.

Neste cenário, o treinamento está no centro de todas as ações. É um meio eficaz para se atingir excelência nas competências requeridas para o desempenho de qualquer missão.

No entanto, são muitas as ocasiões em que nos deparamos com uma contradição típica. Por que há equipes otimamente preparadas que não acertam o alvo? Por que “não chegam lá” – a despeito de tudo o que sabem e fazem? Todo líder intuitivamente sabe da existência de “algo” que faz a diferença no momento da batalha. Mas ninguém se arrisca a dizer o que é. Não é conhecimento, não é prática, nem boa vontade. O check list é repassado; tudo verificado, mas a resposta não aparece.

Em quase quinze anos de consultoria formal e vinte e cinco de vivência em empresas, constatei apresença de um item importante, porém, sempre desprezado. São tantas as perguntas, exceto a que faz real diferença: "Eles acreditam? Crêem ser capazes de atingir a meta? Acreditam na causa por que lutam?"

Todos os que tiveram o prazer único de ler a Bíblia depararam-se com uma lista enorme de povos e nações que tomaram gratuitamente os Judeus como inimigos e desejaram bani-los do mapa. Isto não é novo. Hitler e Ahmadinedjad, do Irã, são herdeiros de uma ideologia anti-semita que perdura por quase quatro mil anos.

Há cerca de 36 séculos, um dos inimigos gratuitos de Israel era o povo midianita. Viviam como nômades, morando em tendas, no Oriente Médio, sempre em busca de pastos para seus rebanhos. Muitas vezes deixavam seus gados pastarem em campos alheios. Além deste, tinham vários outros hábitos bastante reprováveis: roubavam ovelhas, cabritos e jumentos, além de destruírem o produto da terra dos vizinhos israelitas - na época, uma minúscula e fraca nação.

Os midianitas eram valentões e cruéis. Maltratavam os Judeus governados por uma modalidade de liderança chamada “Juízes”. A Bíblia narra várias ocasiões em que os Judeus, atormentados por estes invasores, fugiram, escondendo-se em cavernas até o dia em que o Juiz Gideão apressou-se em organizar um exército para defender Israel. Em sua campanha conseguiu trinta e dois mil homens.

Este número de soldados conferia uma certa tranqüilidade numa guerra corpo a corpo. Mas, conforme a narrativa, D-us manifestou-se não concordando com um exército tão grande, afinal, uma vitória obtida com tanta gente levaria o povo a tal nível de arrogância que todos pensariam ser mérito de seu próprio esforço.

Foi então que o Todo-Poderoso ordenou a Gideão: “Envie para casa todos aqueles que têm medo de guerrear”. O juiz não tardou em por a ordem em prática. Resultado? Mais de dois terços voltaram para casa. Ficaram apenas dez mil homens.

D-us não parou por aí, dizendo a Gideão: “Leve as tropas ao rio. Peça-lhes que saciem sua sede. Ao fazerem isso, despeça os homens que deixarem de lado suas armas ao beber. Fique com aqueles que conservarem uma mão sobre suas armas, usando a outra para beber a água”.

Trezentos homens, apenas, portaram-se conforme o critério imposto.

Trezentos homens??? Um número exageradamente pequeno quando comparado ao inicial de trinta e dois mil.

Chegamos ao ponto!

Vejamos de perto quem são estes trezentos Judeus. Eles eram cautelosos, prudentes, prontos e dispostos. Até para beber água se mostraram alertas, mantendo uma mão sobre a arma ainda que a guerra não tivesse começado. O significado disso? Eles conheciam a missão e permaneciam mentalmente ligados a ela. Nem quando fosse normal relaxar eles se permitiam perder a conexão com a meta. Esta é a principal diferença destes com os trinta e um mil e setecentos homens dispensados.

No entanto, há um atributo dos trezentos seletos soldados que supera todos os demais. Eles acreditavam! Tinham dentro de si uma poderosa crença. Por isso alcançaram a vitória. Quem examinar o texto bíblico do livro de Juízes conhecerá a poderosa estratégia engenhada pelo minúsculo grupo e sua tática contra o inimigo.

Da leitura concluímos que Gideão mostrou-se um excelente aluno em Recrutamento e Seleção de pessoas. Nem a mais famosa empresa ou consultoria de RH da época – ou de hoje – teria conseguido este resultado.

Houve um milagre. Para mim, o grande milagre deste evento histórico de meu povo reside na revelação divina a Gideão de que o crer supera o saber. Os trezentos homens acreditavam e, por isso, suas habilidades, capacidades e aptidões se alinhavam de modo surpreendentemente eficaz fazendo-os uma força mais poderosa do que trinta e dois mil candidatos confusos em suas convicções.

A lição de liderança dos dias de Gideão? Os que crêem, fazem – e fazem bem feito, do começo ao fim.

Da próxima vez que você for selecionar pessoas, trate de descobrir, pesquisar, averiguar, perscrutar e certificar-se de quem são as que acreditam. Sabe por quê? É que sem elas, nem D-us ajuda!
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Abraham Shapiro é consultor e coach. Suas principais atuações são junto de líderes empresariais e times de vendas. Contato: shapiro@shapiro.com.br