27 de set. de 2010

A FISIOLOGIA DAS PALAVRAS

Artigo publicado no JL - Jornal de Londrina, em 27/09/2010, na coluna Profissão Atitude

ABRAHAM SHAPIRO

O que dizemos a cada momento e em qualquer circunstância, tem o poder de redefinir a realidade. Depois de articulado em palavras, nosso pensamento deixa de ser um assunto privado nosso. Ele se torna um item na agenda do mundo.

Uma pessoa trabalha lado a lado com outra durante anos. Certo dia, começa a alimentar o pensamento de que seu colega é “chato”. Até então, este pensamento não teve o poder de afetar nada, nem ninguém, além da pessoa que o pensa. Num dia qualquer, esta pessoa participa de uma conversa com um terceiro colega e lhe oferece a sua opinião sobre aquele homem dizendo que ele é um “chato”. No instante em que este pensamento é liberado para o mundo, dá início a um caminho de destruição. Agora, a atenção de outra pessoa foi chamada para os modos daquele homem supostamente “chato”. Esta pessoa perde um pouco de respeito por ele identificando-o como menos competente e um pouco menos atraente como ser humano.

Inevitavelmente, esta nova avaliação afeta o relacionamento dos dois, criando um preconceito na mente desta terceira pessoa que se confirmará toda vez que o “chato” fizer ou disser alguma coisa. E pode ir além. Esse terceiro indivíduo poderá compartilhar sua recém-descoberta percepção com outras pessoas, alterando as percepções delas também. Nem sequer é necessário que elas acreditem no que estão ouvindo. Mesmo que elas nunca cheguem a pensar seriamente sobre a afirmação, ela vai penetrando no subconsciente, colorindo suas futuras avaliações do comportamento daquela pessoa. A situação poderia evoluir rapidamente para uma outra, na qual o colega rotulado de “chato” começasse a se sentir inexplicavelmente distanciado dos outros. A sua alegria de viver, a sua autoestima, até a sua visão da vida poderiam sofrer os efeitos daquela única palavra: “chato” com que ele foi qualificado.

Incalculáveis efeitos de uma simples e aparentemente inofensiva expressão.

Conscientize-se de que as palavras são um selo. Elas dão um caráter final aos pensamentos e aos julgamentos. Lembre-se de como esta “arma” funciona antes de dispará-la: uma vez proferidas palavras, o que permanece é o julgamento que carregam consigo. As consequências? Olhe à sua volta. O que você acha que deixou o mundo na situação em que está?
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473