28 de jun. de 2010

O COELHO VOADOR

Artigo publicado no JL - Jornal de Londrina, em 28/06/2010, na coluna Profissão Atitude.


ABRAHAM SHAPIRO

Quando é que somos perseverantes, obstinados em nossos propósitos, ou teimosos como burro empacado, que não se move mesmo açoitado ao lombo?

Lembro-me do Felipão, o técnico da seleção brasileira, que apesar das pressões da mídia e de quase todos os torcedores a que convocasse Romário para o seu time, não cedeu em momento algum, e de sobra ganhou a Copa, tornando-se pentacampeão.

Antes daquela conquista, foi xingado de chucro, teimoso e insano. Após a Copa, voltou ovacionado e venerado pelos mesmos detratores de antes. Como seria a história se o Brasil tivesse perdido? Na verdade, o rótulo de teimoso foi esquecido em função do resultado positivo que ele alcançou.

Fatos similares estão na biografia dos grandes gênios, escritores, músicos e artistas. Thomas Edison, o inventor americano, tinha o desejo de iluminar o mundo. Foi chamado de louco, mas conseguiu. Para inventar a lâmpada fez tantas tentativas malsucedidas que seu caso tornou-se ilustração em todas as palestras de motivação que se fazem debaixo do sol. Perseverante? Teimoso? Qual a diferença, afinal?

Perseverante é aquele que procura conservar-se constante e firme, que permanece sem mudar ou variar de intento. Já o teimoso é aquele que insiste exageradamente a ponto de tornar-se birrento. Como se vê, a linha que separa um de outro é fina demais.

Quando é que deixamos de ser perseverantes e começamos a ser teimosos? Depende do resultado. Ser teimoso é continuar persistindo em erros, em equívocos, em situações que não trazem benefício. Em outras palavras, é quando se resiste à verdade e adentra-se o território da ilusão.

Uma história ilustra bem. Dois homens sentados em um morro olhavam para uma bela paisagem no horizonte quando de repente veem um animal a certa distância. Sem saberem exatamente que bicho era, um deles vira-se para o outro e diz: “Veja só que urubu imponente!” O outro, contrapondo-se, diz: " Você está louco? Isto não é um urubu. É um coelho".

Após longa discussão em que cada um defendia arduamente a sua tese, os dois tiveram uma ideia que acabaria definitivamente com a discórdia: dar um tiro para o alto. Se o animal voasse, seria um urubu, se corresse, seria um coelho. O primeiro então toma a iniciativa e faz exatamente isso, dá um tiro para o alto. O animal sai voando.

Sentindo-se vitorioso, ele volta-se para o amigo e pergunta: “ E então? O que diz agora?” E o outro, com olhar de surpresa, responde: “Que coisa incrível. É a primeira vez que vejo um coelho voar!!!”

Moral da história: Quando alguém não está disposto a flexibilizar e põe-se teimoso em relação a algo, nem a maior das provas mudará sua opinião.

Você, caro leitor, aprenda uma das lições a que mais dedico esforço para praticar em minha vida: “A mente é como um paraquedas: só funciona se abrir”.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473