6 de nov. de 2009

DAS NOVAS RELIGIÕES AO GROSSO DA AUTOAJUDA: CHARLATANISMO PURO

ABRAHAM SHAPIRO

Alguém é apresentado a você como doutor em psicologia, antropologia e sociologia. Após algum tempo de bate-papo descontraído, ele lhe diz com convicção: “Você tem uma forte necessidade de ser amado e admirado pelos outros. Tem tendência a ser crítico consigo mesmo. Por momentos, chega a duvidar de si mesmo. Sabe que tem grandes capacidades que não está explorando como devia...”

O que você pensaria disso? Provavelmente que este cara é um guru, um sujeito iluminado. Ele acertou em cheio. Você se comove e sente um desejo de divulgar a todos que ele "teve clarividência perfeita de sua vida".

A maioria das pessoas a quem se apresenta uma descrição repleta de lugares-comuns, como nestas palavras, tende a pensar que trata-se de sua mais precisa fotografia.

Mas fique tranquilo. Este não é um problema de brasileiros. É da humanidade. Um grande jornal francês realizou uma experiência fabulosa. Enviou um "diagnóstico astral" mais ou menos parecido com a declaração do guru acima a cinco mil pessos que se cadastraram previamente em resposta a um anúncio. Quatro mil e trezentas declararam-se satisfeitas e se reconheceram descritas no texto do diagnóstico, que era evidentemente o mesmo para todas.

Não sei o que você sentirá quando eu disser que é exatamente isso o que faz a grande maioria dos livros de auto-ajuda e também os charlatães que andam por aí ganhando dinheiro com palestras de motivação e propostas de enriquecimento.

Nada de mais com a existência de picaretas. Eles crescem naturalmente em qualquer sistema ou economia. O absurdo etá no número medonho de pessoas ingênuas que acreditam em bobeiras desse tipo, em histórias engraçadas e contos da carochinha como provedores da motivação de que precisam para o trabalho e para a vida. Tolice? É pouco. Asneira, dislate, futilidade? Sim. É daí para mais.

Motivação não é nada disso. Repito: motivação não tem nada a ver com palhaçada ou palavreado bonito ou conveniente às carências coletivas. A única forma de uma pessoa sentir motivação em relação a qualquer coisa da vida é tendo uma razão naquilo que faz ou propõe-se a ser, um motivo real. Sem isto, sua tendência será depositar esperança em coisas vazias e banais – como talvez palestras de motivação vendidas por espertalhões aproveitadores.

São pessoas nesse estado que infelizmente sustentam esta horda de vigaristas e sanguessugas que, identifcando a fraqueza humana, transformaram-na em meio de vida e enganação sob o formato de palestras, religiões e outros golpes de grande monta.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473