21 de jul. de 2014

O TRABALHO AUTÔNOMO

ABRAHAM SHAPIRO


FOLHA DE LONDRINA, 21 DE JULHO DE 2014 - Eu conheço um rapaz que trabalhou em empresas por vários anos. Tecnicamente, sua produção era excelente. Mas a impressão pessoal que deixava era nada positiva. Atrasava-se para chegar ao trabalho e invariavelmente levava consigo, às segundas-feiras, uma ressaca de que todos sabiam. A data de entrega de suas tarefas falhava frequentemente, e à custa de boas desculpas, ele solicitava prorrogação.
Certo dia, ele ficou cheio das repreensões dos chefes e decidiu empreender o tão sonhado “voo solo”.  Demitiu-se, abriu uma microempresa e passou a prestar serviços.
Trabalhava bem. Mas em pouco tempo, seus clientes entenderam seu modo de ser.
Ele imaginava que a condição de autônomo significava a libertação total, a independência das obrigações trabalhistas. De fato, é. Mas não de compromissos.
Ele viajava quando bem queria, bebia muito, dormia até tarde e fazia dos fins de semana o centro de sua vida. Piqueniques, almoços e jantares com amigos eram a maior ocupação de sua agenda e, com certeza, o que ele mais levava a sério.
E para completar, também era desorganizado. Mas não lhe faltava autoconfiança. E, por isso, estava o tempo todo convencido de que os clientes precisavam de seu trabalho.
Os clientes se ressentiram de seu modo bagunçado de trabalhar e observaram que seu engajamento era parcial. O tempo passou, e as circunstâncias fizeram as convicções deste nosso personagem ruir. Todas!
Ninguém quer relacionar-se profissionalmente com alguém assim!
Ser autônomo é uma condição que exige tanta ou mais responsabilidade que qualquer vínculo empregatício.
Para se trabalhar bem e ser visto como “bom profissional” competências técnicas não bastam. Virtudes pessoais são igualmente desejáveis, como: pontualidade, consideração, transparência, ordem e outros mil – ou dez mil – atributos de valor.
Quem gosta de “encher a cara”, de fins de semana e de vida mansa, deve ter dinheiro de sobra para não precisar trabalhar. Caso necessite conquistar o sustento de cada dia com esforço, ou o faz com a maturidade requerida, ou “cai fora” do mercado para a falência voluntária, pois, cedo ou tarde será vencido por um novato que entendeu a regra do jogo antes e melhor do que ele.
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Abraham Shapiro é consultor e coach. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é "simplicidade". É autor do livro "Torta de Chocolate não Mata a Fome". E-mail: shapiro@shapiro.com.br Fone: 43. 8814.1473