12 de jun. de 2013

CULTURA TAMBÉM PRECISA DO MARKETING

ABRAHAM SHAPIRO


Um amigo entrou numa das mais importantes escolas de música de uma grande cidade e perguntou à atendente se ofereciam algum curso de formação para apreciadores de música erudita.
A moça, confusa e despreparada como sempre, chamou a diretora que, após ouvir a pergunta, deu uma risadinha e respondeu que não.
O rapaz, desejoso de compreender um pouco mais os meandros da arte musical, desabafou comigo seu ponto de vista , dizendo:
- “Eu não recebi formação clássica em casa e nem no colégio. Agora que quero conhecer um pouco mais, constato que as escolas só se dedicam a formar instrumentistas. Mas onde elas conseguirão  apreciadores num país como este? Não seria estratégico se elas formassem bons ouvintes  também?”
Eu concordei e concordo.
Por mais que se formem bons profissionais em acordes, notas musicais e instrumentos, eles também precisam de  quem os ouça e os prestigie.
Oferecer bons músicos ao mercado, num país como o Brasil, é uma tarefa de  retorno duvidoso, senão quase inviável. Em algumas capitais talvez até seja possível construir uma carreira de sucesso interpretando Beethoven, Liszt,  Villa Lobos ou Rachmaninof. No resto do país, contudo, para um intérprete se consagrar, ele não poderá sentir fome por  várias décadas.
A solução para este problema talvez estivesse na pergunta que meu amigo fez à diretora  do conservatório. Cursos breves e objetivos de informação a leigos poderiam ajudar  a crescer o número de ouvintes rapidamente, porque, com certeza, muitos dos que dizem não gostar de música clássica apenas não tiveram oportunidade de conhecê-la de perto. Além de que atrairia futuros instrumentistas que acompanhariam aqueles ouvintes, fechando um ciclo retroalimentado e, por isso, virtuoso.
Se você não sabe, o Brasil produziu e produz grandes instrumentistas, especialmente no piano. Infelizmente, os aplausos mais calorosos que eles recebem não são de seus irmãos brasileiros. Na pátria amada e idolatrada, o que falta é educação. Sem ela, cultura será somente o que se vê por aí. Nada mais... e nada melhor.
______________________ 

Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é simplicidade. É autor do livro "Torta de Chocolate não Mata a Fome - Inspirações para a Vida, o Trabalho e os Relacionamentos", Editora nVersos, 2012. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473