3 de mai. de 2013

PARA ONDE VAMOS COM TANTOS ESPECIALISTAS?

ABRAHAM SHAPIRO

Chamado às pressas no meio da noite, o médico chega esbaforido à casa de um rico empresário cuja esposa adoeceu. Ele pede a todos que se retirem do quarto para examiná-la.
O marido, apreensivo, colado à porta, ouve barulhos estranhos. Após alguns minutos, o médico enfia a cabeça pela porta e lhe pergunta:
- O senhor tem um alicate?
O marido busca um alicate. A porta torna a se fechar.
Mais barulho estranho. Instantes depois, a cabeça do médico reaparece:
- O senhor tem uma chave de fenda?
Espantado, o marido busca a ferramenta.
Mais tempo passa, e de novo:
- O senhor tem uma furadeira?
E agora, o marido, desesperado questiona:
- Furadeira? O que é que a minha esposa tem?
- Ainda não sei - declara o doutor - Não consegui nem abrir a minha maleta ainda!

Leonardo da Vinci foi pintor, músico, arquiteto, inventor e muito mais. E saiu-se bem em tudo o que fez. Hoje em dia, dificilmente as pessoas têm senão uma habilidade específica. 
Vivemos numa época que pode receber o apelido de Era da Especialização. Dificilmente um profissional sabe discorrer sobre outra área que não seja de seu métier. Nunca tivemos tantos especialistas e, ironicamente, tão baixa qualidade nos serviços.
Mas a nossa capacidade essencial pode muito mais do que isso! E por que não somos mais? O que talvez esteja ocorrendo é que a exigência de qualquer desempenho traduzir-se  em altos e crescentes resultados financeiros tenha se transformado numa obcessão, e isso diminuiu o valor da dedicação a áreas complementares ao bom desempenho, como: o estudo, a leitura de bons livros, a dedicação à arte, a um hobby etc.
Estamos e somos função de uma única variável. E ela é o trabalho com o fim de produzir dinheiro e mais dinheiro.
O que ganhamos realmente com isso? Nunca fomos tão pobres, a despeito dos jornais falarem em bilhões e trilhões em cada edição.
Nesta geração, os pais desconhecem seus filhos. As crianças aprendem comportamentos básicos com  babás e professores que também não educam seus próprios filhos, pois estão lutando por um salário enquanto cuidam dos filhos dos outros.
Tanto trabalho tem resultado em muito mais amargura do que a esperada prosperidade financeira no seio da família.
Há algo errado! Estou certo de que todos veem, mas temem admitir. Todos vivem um terror silencioso. Todos sabem estar nadando contra a correnteza.
É chegada a hora crítica de ao menos pensarmos a respeito.
As doenças do corpo estão sendo desveladas. Mas as enfermidades da alma só crescem, sem cura. Mantido este cenário, o próximo nível em que entraremos será de crise existencial em proporções jamais vistas. Eu já a sinto se alastrando.
A responsabilidade é de todos, de cada um de nós.
Por mais patológico que esteja a “alma do mundo”,  temos ainda o poder, por nós próprios, de dar novo sentido à vida e ao trabalho, e enxergar estes elementos desde uma perspectiva menos materialista, mais ampla e útil para melhorar este nosso mundo. 
Pense a respeito. A família – confusa, e já quase perdida – agradece.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é simplicidade. É autor do livro "Torta de Chocolate não Mata a Fome - Inspirações para a Vida, o Trabalho e os Relacionamentos", Editora nVersos, 2012. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473