29 de jun. de 2011

MAIS UM FILME DE TERROR EM EMPRESAS

ABRAHAM SHAPIRO

Tenho fatos recentes incríveis registrados em meu Diário de Bordo de Consultoria. Este, muito em especial, me estimula a criar mais um roteiro de filme da série “Terror e Gestão Empresarial”. Agora eu ganho um Oscar. Veja só.

Cena 1: O funcionário apresenta-se ao RH dizendo que tem proposta de uma empresa para ganhar salário 100% maior, e que pretende demitir-se. O gerente promete providências. Comunica o fato ao chefe do setor.

Cena 2: O chefe desconfia de determinada empresa vizinha. Liga para o diretor e “solta os cachorros” contra ele. Após o ataque de nervos regado a grosserias infundadas, descobre ter errado o alvo. A ameaça não vinha da tal empresa. Tenta desculpar-se, mas a coisa fedida está feita. Aquele diretor, que até então cooperava com a empresa do chefe louco, passará a adotar posição reservada ou adversa após essa amostra de desequilíbrio.

Cena 3: O chefe louco chama o funcionário em sua sala, dá-lhe um “esfrega”, porém recompensa-o com um aumento salarial de 50% a fim de conservá-lo na função. Diz-lhe que depois deste não dará novo aumento.

Cena 4: Com um sorriso malandro – misto de satisfação, vitória e ironia – o funcionário sai da sala do chefe. No dia seguinte, a Rádio Peão noticia o fato ocorrido a todos os cantos da empresa. Fim do filme

Vamos aos comentários:

1. Não se faz retenção de talentos atirando contra quem ameaça assaltar o seu quadro de colaboradores. Esta, aliás, é uma oportunidade ímpar de rever suas reais condições de atração, contratação e permanência de funcionários na empresa. O mesmo vale ao analisar a rotatividade. Se estiver alta, há razões não tão aparentes e nem imediatas para isso estar ocorrendo. Busque as causas internas reais e resolva-as antes de culpar o resto do mundo por aquilo que são os seus erros bestiais de gestão.

2. Em segundo lugar. Aumentar, simplesmente, o salário do empregado reclamante é uma atitude que merece o título de Padroeiro dos Chefes Amadores. Cinquenta por cento é um aumento astronômico sobre qualquer base. Pelas vias com que o fulano obteve esta benesse, ele capacitou-se a dar cursos sobre como conseguir aumentos fáceis e garantidos de chefes trouxas.

3. Terceiro. Um departamento de RH decente e competente fará constantes pesquisas de “mão de obra disponível” e de “níveis salariais do mercado local”. Disso é que depende a resposta à pergunta: “O que fazer quando um funcionário diz que teve uma proposta para ganhar 100% mais na empresa X?”. Dar aumento apenas pela suposição de escassez de determinado profissional no mercado é tão esperto quanto não dormir a noite toda por achar que há um monstro debaixo da cama.

Querido chefe idiota. Tire um quadro da parede de sua sala e escreva no verso a seguinte frase: “Em seis meses esse tal funcionário voltará pedindo outros 50% de aumento”. Se até lá você não tiver se submetido a uma terapia de choque, você irá cometer novos fiascos, e após “fritar” a moral de sua empresa, não terá outra saída senão demiti-lo. Ou seja: você é mesmo um imbecil!
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473