Artigo publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, em 06/06/2011, na coluna ABRAHAM SHAPIRO, em Empregos e Concursos
ABRAHAM SHAPIRO
Imagine quantos profissionais estão mudando de carreira por não terem conseguido alcançar seus sonhos de juventude ou dos tempos de universidade.
Imagine quantos casamentos estão desmoronando porque um dos cônjuges – ou os dois – não chegou ao ponto de prazer físico e emocional ou de convivência a que sua imaginação lhe remetia antes.
Imagine o peso das dívidas contraídas na compra de um imóvel que não produziu em seu morador a sensação com que se via vivendo dentro dele antes de se mudar.
Imagine quantas pessoas retornam agora decepcionadas da "viagem de suas vidas", pois o lugar não era bem o que sonharam durante anos.
Sonhos, ilusões, fantasias, pressupostos, imagens, desejos, utopia, visões, devaneios e todas as tantas palavaras que se enquadram nessa categoria de fluxos mentais são tão responsáveis pelo sucesso quanto pelo fracasso de cada ser humano, em situação por situação de sua existência neste planeta.
Hollywood sabe muito bem disso. Disney também.
O sistema psicológico humano engloba subjetividades infinitas. Tudo é possível à imaginação. Os planos são todos fantásticos. Mas quantos se realizam? Pois é! “Viver é fácil com os olhos fechados” diziam os Beatles, em Strawberry Fields Forever.
Se as agências de propaganda apenas anunciassem as qualidades objetivas dos produtos não teriam trabalho algum. No sentido lógico, fumar um cigarro, por exemplo, significa apenas tragar a fumaça produzida por um canudo de fumo e outras substâncias tóxicas. Isto jamais produziria o astronômico contingente de viciados espalhados pelo mundo. Mas fazê-los crer que consumindo a marca X terão instantaneamente a bravura de um “cowboy”, a liberdade de um corredor de Fórmula 1, o sucesso de um surfista com as mulheres, ou a vantagem e o charme de um milionário bon vivant – coisas com que quase todos sonham após assistir a uma propaganda cinematograficamente produzida –, isto sim cria dependência e estatísticas de desgraça que todos os países conhecem bem.
No mundo da imaginação tudo é fácil e simples. Não há preocupações. Somente brilho, beleza, sonoplastia encantada, idealismo, realização total... e somente subjetividade – do começo ao fim.
Mas a imaginação produz benefícios. Ela faz do homem um ser criativo. Deu-nos um Beethoven, um Castro Alves, um Michelângelo e outros. É ela, porém, a maior responsável pela vulnerabilidade e fraqueza humanas. Ela inverte valores – faz crer que o negativo é atraente, e que o positivo é repulsivo.
Você vê o anúncio de uma borbulhante pizza, entrega-se à ilusão de que o prazer será imenso. Ao comer um pedaço, sente que já não corresponde a tudo aquilo. Talvez nem aguente comer o quanto desejava antes de viver a experiência de fato. O que parecia uma satisfação compensadora, durou um átimo desprezível e às vezes frustrante.
Por tal raciocínio, observe como se alastra nos dias de hoje a crença de que as pessoas devem receber tudo pronto das mãos das demais. O sentimento de dignidade própria se elevou a tal nível que inibiu quase completamente a pouca gratidão que se encontrava no coração do homem desde a sua criação. Incomum, hoje, é achar quem abrace para si a responsabilidade de levar suas buscas ao máximo do esforço necessário para alcançá-las.
E o que dizer da necessidade de passar o máximo tempo sem fazer nada? Ricos, pobres, cultos e idiotas estão plenamente tomados do ideal de que têm de descansar. “Trabalhar para quê? Dar de si para o próximo por quê? Eu pago impostos. O governo que faça a sua parte”. Este é o lado mau da imaginação.
Podemos ter consciência deste processo. Podemos nos ater à realidade. Podemos atenuar – pouco a pouco – a distância das “viagens fantásticas” para onde nos leva a imaginação e, assim, empregar melhor esta faculdade em favor das nossas escolhas.
Ser realista é bom. Porém, só com realismo não expressamos o melhor de nós. Sonhar é bom. Contudo, os estragos dos devaneios podem destruir – e custam caro! O caminho do meio é, certamente, a segurança de que precisamos para não cair em desequilíbrios e descontentamentos pueris, cujas consequências reduzem a vida a um piscar de olhos sem qualquer sentido.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473
Imagine quantos profissionais estão mudando de carreira por não terem conseguido alcançar seus sonhos de juventude ou dos tempos de universidade.
Imagine quantos casamentos estão desmoronando porque um dos cônjuges – ou os dois – não chegou ao ponto de prazer físico e emocional ou de convivência a que sua imaginação lhe remetia antes.
Imagine o peso das dívidas contraídas na compra de um imóvel que não produziu em seu morador a sensação com que se via vivendo dentro dele antes de se mudar.
Imagine quantas pessoas retornam agora decepcionadas da "viagem de suas vidas", pois o lugar não era bem o que sonharam durante anos.
Sonhos, ilusões, fantasias, pressupostos, imagens, desejos, utopia, visões, devaneios e todas as tantas palavaras que se enquadram nessa categoria de fluxos mentais são tão responsáveis pelo sucesso quanto pelo fracasso de cada ser humano, em situação por situação de sua existência neste planeta.
Hollywood sabe muito bem disso. Disney também.
O sistema psicológico humano engloba subjetividades infinitas. Tudo é possível à imaginação. Os planos são todos fantásticos. Mas quantos se realizam? Pois é! “Viver é fácil com os olhos fechados” diziam os Beatles, em Strawberry Fields Forever.
Se as agências de propaganda apenas anunciassem as qualidades objetivas dos produtos não teriam trabalho algum. No sentido lógico, fumar um cigarro, por exemplo, significa apenas tragar a fumaça produzida por um canudo de fumo e outras substâncias tóxicas. Isto jamais produziria o astronômico contingente de viciados espalhados pelo mundo. Mas fazê-los crer que consumindo a marca X terão instantaneamente a bravura de um “cowboy”, a liberdade de um corredor de Fórmula 1, o sucesso de um surfista com as mulheres, ou a vantagem e o charme de um milionário bon vivant – coisas com que quase todos sonham após assistir a uma propaganda cinematograficamente produzida –, isto sim cria dependência e estatísticas de desgraça que todos os países conhecem bem.
No mundo da imaginação tudo é fácil e simples. Não há preocupações. Somente brilho, beleza, sonoplastia encantada, idealismo, realização total... e somente subjetividade – do começo ao fim.
Mas a imaginação produz benefícios. Ela faz do homem um ser criativo. Deu-nos um Beethoven, um Castro Alves, um Michelângelo e outros. É ela, porém, a maior responsável pela vulnerabilidade e fraqueza humanas. Ela inverte valores – faz crer que o negativo é atraente, e que o positivo é repulsivo.
Você vê o anúncio de uma borbulhante pizza, entrega-se à ilusão de que o prazer será imenso. Ao comer um pedaço, sente que já não corresponde a tudo aquilo. Talvez nem aguente comer o quanto desejava antes de viver a experiência de fato. O que parecia uma satisfação compensadora, durou um átimo desprezível e às vezes frustrante.
Por tal raciocínio, observe como se alastra nos dias de hoje a crença de que as pessoas devem receber tudo pronto das mãos das demais. O sentimento de dignidade própria se elevou a tal nível que inibiu quase completamente a pouca gratidão que se encontrava no coração do homem desde a sua criação. Incomum, hoje, é achar quem abrace para si a responsabilidade de levar suas buscas ao máximo do esforço necessário para alcançá-las.
E o que dizer da necessidade de passar o máximo tempo sem fazer nada? Ricos, pobres, cultos e idiotas estão plenamente tomados do ideal de que têm de descansar. “Trabalhar para quê? Dar de si para o próximo por quê? Eu pago impostos. O governo que faça a sua parte”. Este é o lado mau da imaginação.
Podemos ter consciência deste processo. Podemos nos ater à realidade. Podemos atenuar – pouco a pouco – a distância das “viagens fantásticas” para onde nos leva a imaginação e, assim, empregar melhor esta faculdade em favor das nossas escolhas.
Ser realista é bom. Porém, só com realismo não expressamos o melhor de nós. Sonhar é bom. Contudo, os estragos dos devaneios podem destruir – e custam caro! O caminho do meio é, certamente, a segurança de que precisamos para não cair em desequilíbrios e descontentamentos pueris, cujas consequências reduzem a vida a um piscar de olhos sem qualquer sentido.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473