15 de dez. de 2008

VIVER OU MORRER NA EMPRESA

ABRAHAM SHAPIRO

“Fazer a minha parte” é uma expressão que traduz dois sentimentos contrários. Um é a responsabilidade de quem realmente deseja cumprir seu papel. “Fiquem tranqüilos, eu farei a minha parte com toda a dedicação possível!”. O outro sentido é uma típica fala de pessoas derrotistas ao exprimirem a intenção de “tirar o corpo fora” de um esforço em equipe.

Analisei os efeitos do mau emprego desta frase. Concluí que as pessoas que buscam fazer a sua parte egoisticamente, defendendo a própria pele ou cumprindo suas mínimas obrigações com o fim de não comporem sinergia com os demais, acabam, cedo ou tarde, derrotadas, mortas ou excluídas do cenário.

Foi numa página da História Universal que encontrei a justificativa para o que proponho

Você sabe qual era a saudação que os gladiadores faziam ao imperador antes de iniciarem sua batalha no Coliseu Romano? Em latim: “Ave, Caesar, morituri te salutant” – traduzindo: “Ave, César, aqueles que vão morrer te saúdam”.

Gladiador era um lutador escravo treinado na Roma Antiga. O nome da atividade provém da espada curta que usavam, chamada gladius – pronuncia-se gládius. Eles se enfrentavam para entreter o público, e o duelo só terminava quando um deles morria, ficava desarmado ou ferido sem poder combater. Nesse exato momento, quem presidia aos jogos determinava se o derrotado morria ou não, influenciado pela reação dos espectadores do duelo. A saudação a Cesar mencionada acima advém do fato de que um deles sempre morria.

Muitas vezes um grupo de gladiadores era atacado simultaneamente por guerreiros fortemente armados, montados em cavalos ou bigas. Havia, ainda, a possibilidade de serem surpreendidos por animais ferozes como leões famintos, tigres, ursos, etc. Este foi um dos entretenimentos mais exploradas pela conhecida política do “pão e circo”.

A única possibilidade de vitória estava numa circunstância que foi maravilhosamente abordada no filme O Gladiador – produzido em 2.000, ganhador de cinco Oscars, dirigido por Ridley Scott, com Russel Crowe no papel principal do personagem Maximus. Disposto a vingar o assassinato de sua mulher e filho, Maximus, feito escravo por uma situação historicamente fictícia, sabe que é preciso triunfar para ganhar a confiança da platéia. Acumulando cadáveres nas arenas o gladiador luta por uma causa pessoal, de forma quase que solitária. Ele tinha que “fazer a sua parte” e lutar em sua própria defesa. Mas sua chance de sobrevivência era praticamente nula.

Experiente em estratégia militar, Maximus entra na arena com outros gladiadores. Eles representarão uma horda bárbara sendo derrotada pelo exército romano como alusão a uma das vitórias históricas do exército do império. No momento auge de anúncio do início da representação teatral que tem lugar no Coliseu, Maximus convoca – de última hora – os demais gladiadores, até então desconhecidos, a se unirem e a atuar em conjunto. “Seja o que for que sair daqueles portões, só sobreviveremos se lutarmos juntos”, diz ele com voz de liderança.

O que surge para atacá-los são soldados sobre carros de guerra equipados com o que havia de mais sofisticado na época. Estão armados até os dentes e protegidos por escudos. Eles representam o exército romano vencedor no episódio ali teatralizado.

Naquele momento, se cada um fizesse "a sua parte”, certamente morreria. Esta, aliás, era a exata expectativa dos promotores do evento. Em contrapartida, “lutar juntos” – ou melhor, sob uma estratégia orientada e treinada – traria a vitória e, com ela, a vida a cada um. É o que ilustra vibrantemente o filme. Ao final da seqüência, o Imperador dirige a seu conselheiro uma questão que chega a ser cômica. Diz o César: “Não sou muito bom em história, mas nesta batalha não foram os bárbaros que saíram derrotados?” O conselheiro fica atônito, sem resposta, vez que a representação finalizou ao inverso.

É esta a mensagem. Seja lá o que os dias do futuro trouxerem contra nós – “o que quer que saia daqueles portões” – só teremos chances de sobreviver se lutarmos juntos.

Na vida empresarial não há lugar para competições internas. Não há espaço para os que se preocupam apenas em “fazer a sua parte” e “ que se danem os demais com suas obrigações”.

Resultado é a soma do sucesso de todas as áreas, de todas as metas atingidas. Resultado se produz partindo-se de visão e ação sistêmicas. Quando o objetivo é vencer, não existe a opção de agir isoladamente. Ou trabalhamos em conjunto e harmonia – coreografada por estratégia e tática – ou entramos na luta já sabendo que a morte é certa.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Tem resultados na interação e sinergia entre as áreas de vendas e marketing através do trabalho direto com as pessoas envolvidas. Sua filosofia se resume em uma palavra: simplicidade.Contato: shapiro@shapiro.com.br