11 de dez. de 2008

O QUE ESTÁ SOB NOSSO CONTROLE NAS SITUAÇÕES DE CRISE?

ABRAHAM SHAPIRO

Numa terra distante, havia um reino de pessoas grosseiras e desanimadas. O dia inteiro o povo cavava o solo à procura de ouro, na esperança de enriquecer. Anos e anos cavando, mas nada achavam. Eram tristonhos e apáticos à vida. Seu rei tornou-se zangado, mal-humorado e sem esperanças.

Certo dia aconteceu passar por ali um jovem. Era alegre e fervoroso. Andava com ar seguro e seus lábios entoavam canções. Quando os cavadores o viram, pediram que parasse imediatamente de assobiar:

- “Nosso rei é muito zangado e tristonho. Ele poderá até matá-lo” – preveniram-no.

O rapaz sorriu e disse:

- “Pois seja, conduzam-me a ele”.

Os cavadores pararam o trabalho e levaram o jovem ao palácio. No caminho perguntaram:

- “Como é o seu nome?”

- “Oved” – respondeu o moço.

- “E por que você assobia?”

- “Porque sou alegre e satisfeito”.

- “E por que você é alegre e satisfeito?”

- “Porque tenho muito ouro”.

Ouvindo isso, ficaram jubilosos e contaram ao rei a respeito. O nobre perguntou a Oved:

- “É verdade que você possui um tesouro de ouro?”

- “Sim!” – foi a resposta – “tenho sete sacos cheios de ouro”.

O rei ficou muito animado e imediatamente convocou seu povo. Ordenou que ele trouxesse os sacos. Mas Oved explicou:

- “Levará algum tempo para pegar o ouro, meu rei. Está guardado numa caverna, vigiada por um dragão de sete cabeças. Somente eu posso tirá-lo dali. Dai-me todo o vosso povo por um ano e durante esse tempo livraremos o ouro do poder deste monstro”.

O rei não tinha nada a perder, mesmo. Pôs cavalos, bois e homens à disposição de Oved e determinou a seu povo que seguisse as instruções do rapaz.

Oved ordenou aos homens que trouxessem arados e que arassem a rica e fértil terra dos campos. Depois de arar, semearam. Na época da colheita colheram sete imensas carretas cheias do melhor trigo.

Durante todo esse tempo o rei prevenia Oved de que se ele não lhe trouxesse os sacos de ouro no fim do ano, seria decapitado. Diante disso, Oved sorria e explicava:

- “Necessitamos de trigo para entupir a boca do monstro” – e continuava alegre e cantando canções joviais.

Durante sete dias Oved perambulou com suas sete carretas até que chegou a uma grande cidade que não tinha lavoura. Quando os comerciantes viram as carretas de trigo maduro, pagaram uma grande soma de dinheiro por elas: sete sacos cheios de ouro. Depois de mais sete dias, Oved outra vez apresentou-se diante do rei que lhe perguntou:

- “Conseguiu vencer o monstro?”

Oved respondeu com um sorriso:

- “Vendi o trigo a um povo cujo solo é estéril e em troca deram-me sete sacos de ouro”.

Quando o rei ouviu a história de Oved, disse-lhe entusiasmado:

- “Aquele que trabalha a terra provê o pão. Na verdade, podemos tirar de nossa boa terra ainda mais do que sete sacos de ouro por ano”.

E pediu a Oved que ficasse em seu reino e fosse seu ministro sobre o povo. Oved, entretanto, recusou dizendo:

- “Há muitos homens neste mundo que não conhecem o segredo do trabalho. Pode-se arrancar ouro da terra, trabalhando-a, semeando trigo dourado e transformando-o em farinha. É meu dever revelar este segredo aos outros também”.

Feliz e alegre, Oved partiu para suas peregrinações.


Observação importante: O nome do personagem principal, Oved, significa “ trabalhador” na língua hebraica.

O que aprender desta história? Algo maravilhoso. Devemos ter em mente que existem apenas duas estratégias que resolvem qualquer situação indesejável.

Primeira: mudar a situação – o que nem sempre é possível.

Segunda: mudar o modo de pensar sobre ela – o que advém do conhecimento de que nossa percepção é um filtro que retém o que é do nosso interesse e conveniência momentânea, portanto, uma enorme fonte de erros para interpretar muitas situações.

Não são os acontecimentos que nos ferem. Mas a maneira como os vemos.

As coisas em si não nos machucam nem criam obstáculos para nós ou para as outras pessoas. A questão está na forma como as encaramos. São nossas atitudes e reações que nos criam problemas.

Sendo assim, até a morte deixa de ser tão importante. Se analisarmos de perto, veremos que é a nossa noção de morte – a idéia que fazemos dela – que é terrível e nos aterroriza. Há muitas maneiras de pensar na morte. Faça um exame sobre suas noções próprias a respeito. Essas noções são, de fato, verdadeiras? A maneira como você imagina estas coisas fazem algum bem a você?

Em relação à morte, uma coisa belíssima que aprendi foi: “Não tema a morte ou a dor. Tema o medo da morte ou da dor”.

Não podemos escolher as circunstâncias externas de nossa vida. Mas sempre está a nosso alcance escolher a maneira como reagimos a elas.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes empresariais. Tem excelentes resultados na interação estratégica entre as áreas de vendas e marketing. Contato: shapiro@shapiro.com.br