22 de dez. de 2008

TER FILHOS É BOM?

ABRAHAM SHAPIRO

Ter filhos é bom – enquanto são dóceis. Chega o dia em que se amargam. Depois disso, os pais descobrem que nem os profetas, nem os santos tiveram o mérito de só terem filhos bons.

Ter filhos é bom – enquanto lhe escutam. Chega o dia em que terão ouvidos para amigos e estranhos, darão valor a eles e, além de não mais lhe ouvirem, tratarão suas palavras com desprezo e banalidade.

Ter filhos é bom – enquanto lhe têm consideração. Chega o dia em que lhe julgarão, tomarão partido conforme seus interesses pessoais, serão sumários e injustos. Eles lhe condenarão com base no conhecimento de alguns centímetros da superfície do imenso, profundo e extenso oceano de suas razões.

Ter filhos é bom – enquanto precisam de você. Chega o dia em que você precisará deles e não terão tempo. Você terá que se encaixar a sua agenda repleta de compromissos muito mais importantes do que lhe atender.

Ter filhos é bom – enquanto se deixam ser amados por você e pelo modo próprio de manifestar o seu amor. Chega o dia em que só verão defeitos em seu jeito de amar e sentir-se-ão no direito de afirmar que você não os ama – por mais sangue, suor e saúde que tenha dado ao mundo em troca de proporcionar o conforto que desejava oferecer a eles. Agora, serão capazes de afirmar nunca terem precisado disso e que seu esforço foi desnecessário.

Ter filhos é bom – enquanto conversam com você. Chega o dia em que dizer “boa noite, pai” se torna penoso a tal ponto que, no caso de você perguntar: “o que há de errado, filho?”, ele(a) lhe dirá: “nada!!!” de um modo tão aterrador que você terá certeza de ser a razão de tanta chateação e nervosismo.

Ter filhos é bom – enquanto você não manifesta qualquer objeção ao fato deles serem ingratos, frios, grosseiros, arrogantes e presunçosos. Chega o dia em que voltarão a mira de suas línguas contra você e atirarão acusações tácitas ou reveladas contra você ter sido um péssimo pai... e até aqui, você pensava que tudo estivesse bem!

Talvez um dia você se arrependa daquela alegria incontida de ter tido filhos. Não lhe desejo isso. Mas se vier a descobrir que tê-los não foi tão bom, lembre-se de Abraham, Isaac e Rebekka. Eles tiveram o mesmo dissabor... e mesmo assim, conseguiram ser grandes e fizeram diferença no mundo por gerações após eles.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Tem resultados na interação e sinergia entre as áreas de vendas e marketing através do trabalho direto com as pessoas envolvidas. Sua filosofia se resume em uma palavra: simplicidade.Contato: shapiro@shapiro.com.br