25 de dez. de 2008

A GRAVE DOENÇA DE SENTIR-SE GARANTIDO

ABRAHAM SHAPIRO

Comodismo 1

Uma jornalista perguntou-me qual o maior problema que encontro nas minhas consultorias. Eu respondi: “são as pessoas que aprendem que está tudo bem com o fato de suas empresas não serem a melhor em seu segmento”.

As pessoas se acomodam. Elas se conformam em ser mais ou menos. A maior parte das vezes elas são “menos”, mas acreditam que poderão vencer a competitividade do mercado de uma hora para outra, sem causa. Quando eu pergunto: como? Elas não sabem explicar. Isto significa que apenas crêem. Elas têm fé em que as coisas vão mudar. Mas as situações não mudam por si. Tudo requer ação.

Quando mostro que deste modo não chegarão aonde esperam, elas duvidam.

Esta doença se proliferou ultimamente. O comportamento do consumidor frente ao mercado foi um fenômeno nos últimos anos. A demanda por quase todos os produtos cresceu mês a mês, ano a ano. As vendas simplesmente aconteciam – carros, apartamentos, barcos, roupas, cosméticos, comida, móveis etc. Quase não se requeria atitude para despertar interesse. É natural que se empregue “arte”, “técnica”, uma sabedoria de persuasão e encantamento entre a compra e a venda. Por pouco isto não se extinguiu.

Foi o terremoto da crise econômica que sacudiu o mundo e despertou a necessidade de antigas competências. A noção de esforço para alcançar um objetivo é uma delas. Este é um dos aspectos positivos da crise, pois, o fruto do esforço é o auto-respeito. E quem se respeita não se conforma em ser medíocre e permanecer na mediocridade.

Quem descobriu isto não terá maiores problemas. Já sabe que terá que investir energia para realizar planos, manter níveis de negócios, fatia de mercado, clientes, vendas. As pessoas comprarão menos. Mas continuará existindo um bolo para ser dividido. Os tolos verão suas fatias diminuírem por não entender que as regras do jogo mudaram.


Comodismo 2

Certa vez fiz um processo de seleção de vendedor para uma companhia. Consegui um candidato que tinha boa experiência e perfil afinado à necessidade. Vestia-se bem, sua comunicação era de bom nível e demonstrava clareza na apresentação da empresa e de produtos. Sua idade estava acima da média.

Seguindo a minha orientação, a empresa o contratou e confiou-lhe uma região com excelentes clientes potenciais para ser explorada.

Ele iniciou o trabalho e em poucos meses sua carteira de clientes já era satisfatória. Suas chances de ampliação eram agora tão grandes quanto de início, pois o universo a ser explorado era suficiente para fazer muito mais do que no princípio.

Mas um problema só apareceu neste momento. O patamar de vendas que ele atingira dava o ganho que almejava para manter-se. Sua família gozava de certa estabilidade financeira: filhos adultos, esposa bem empregada e alguma renda extra. Isto ofuscava a visão de oportunidade e ambição que ele poderia e deveria ter para prosseguir crescendo.

Apesar de todo conhecimento que tinha de como buscar clientes e realizar vendas, faltava uma componente importante no perfil deste vendedor. A visão atual que ele tinha de si mesmo não lhe permitia enxergar nitidamente suas possibilidades. Ele estava acomodado.

O comodismo é uma doença. Quem está vivo não pode se acomodar. Nem parar. A menos que deseje entregar-se à morte. A atitude que o homem deve requerer de si a cada dia é a busca de novos horizontes. Não é preciso fazê-lo com afobação e desequilíbrio. Ao contrário. É possível caminhar neste rumo passo a passo, com calma e concentração. Contudo, parar jamais. E independe da idade.

Uma curiosidade advinda do Judaísmo talvez seja uma luz para melhor compreensão do significado disto. De acordo com os rabinos, se a pessoa tiver uma fortuna que lhe garanta subsistência por muitos anos, ainda assim ela deve fazer algo por seu esforço para conseguir o seu pão diário. Por quê? Porque é o esforço que produz o auto-respeito.

O mundo em que vivemos é chamado na mística Judaica de "Mundo das Ações". A interpretação imediata e simples disso é: se você deseja frutos, não os terá enquanto não plantar uma semente e cuidar dela até que chegue o tempo de colhê-los e saboreá-los. Por meio de qualquer outro modo, o fruto será apenas um mero desejo, uma intenção inócua, um sabor imaginário e inútil. Estamos falando de causa e efeito, ação e reação.

Parar, acomodar-se, descanso para sempre, não são atributos dos vivos. A atitude e o esforço são a confirmação da vida.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Tem resultados na interação e sinergia entre as áreas de vendas e marketing através do trabalho direto com as pessoas envolvidas. Sua filosofia se resume em uma palavra: simplicidade.Contato: shapiro@shapiro.com.br