11 de dez. de 2008

SÓ EXISTE UMA SOLUÇÃO?

ABRAHAM SHAPIRO

Há uma história narrada por um professor que certa vez foi convocado para resolver uma disputa entre um colega e um aluno. O pupilo, nada ortodoxo em relação aos métodos educacionais que mais prevalecem nas escolas de hoje, põe em cheque uma atitude orgulhosa, nem sempre percebida por quem a possui.

Algum tempo atrás recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova de Meteorologia Física. Tratava-se de avaliar uma questão de física, que recebera nota zero.

O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma conspiração do sistema contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.

Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: “Mostrar como se pode determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro”.

A resposta do estudante foi a seguinte “Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício”. Sem dúvida era uma resposta interessante e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao veredicto.

Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma classificação para um curso de Física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder à questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquele que eu imaginei lhe seria um bom desafio. Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão; isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de física.

Passados cinco minutos ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativo para o teto da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse. No momento seguinte ele escreveu esta resposta: “Vá ao alto do edifício, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula h=(1/2).g.t2 calcule altura do edifício”.

Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo...

Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram estas respostas.

“Ah!, sim” - disse ele – “há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro”. Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações.

“Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício. Depois, usando uma simples regra de três, determina-se a altura do edifício. Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas, ter-se-á a altura do edifício em unidades barométricas”.

“Um método mais sofisticado seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g´s e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença”.

“Finalmente”, concluiu,”se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer, diz-se: Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o Sr. me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente”.

A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta esperada para o Problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlarem o seu raciocínio e a cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente convencionadas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.


As dificuldades da vida têm a finalidade de amadurecer e aperfeiçoar aquele que as vivencia.

Hoje, a psicologia sabe que o caráter de um indivíduo está ligado às suas experiências, à maneira como faz a leitura dos fatos que ocorrem em sua vida, às reações que ele externa frente ao imprevisível dia-a-dia.

É nas horas de aperto que as pessoas se dão a conhecer plenamente – tanto aos outros como a si próprias. Caem suas máscaras, seus rótulos e as molduras com que elas enquadram a realidade. Vão-se as simples impressões e suposições, entram em cena as certezas. A verdade vem à tona.

O nível máximo de criatividade do ser humano é alcançado nas situações de dificuldade. São as circunstâncias mais eficazes e frutíferas.

Nos dias normais, externamos uma fração insignificante daquilo que verdadeiramente somos. Quando chegam as turbulências, salientam-se as reais qualidades e, então, quanto melhor fundamentado estiver o indivíduo sobre princípios e valores, maior aprendizado e crescimento irá absorver. Quanto mais conceitos tiver armazenado no acervo de sua mente, maior compreensão obterá sobre as circunstâncias em que se encontra e a leitura dos fatos.

É lamentável que as pessoas se perturbem e até se percam em pensamentos equivocados de que as crises são destrutivas. Há um provérbio que ensina: “Se somos lapidados ou moídos pelos problemas da vida depende apenas do material de que somos feitos!”

Imagine as duas situações a seguir e obtenha delas uma boa compreensão prática de tudo o que dissemos até aqui.

Primeira situação. Uma mãe recusa-se a auxiliar seu filho preguiçoso na tarefa escolar. Ela estará sendo má? Ela conhece bem seu filho. Ajudá-lo uma vez mais só o fará mais acomodado nas próximas vezes. Ela enxerga as conseqüências futuras de seu ato presente e toma a decisão de provocar no filho uma reação que faça nascer responsabilidade. Ela recusa-se a cooperar e, com isso, impõe uma crise sobre o menino. Será isto um ato de maldade?

Uma conduta rígida adotada neste momento é, na verdade, uma prova de amor dada sua amplitude no futuro. Aos olhos do garoto pode parecer cruel, a priori. Mas a aparente dureza e severidade da mãe contêm, como meta, uma infinita dose de bondade.

O menino não é capaz de enxergar isso, por enquanto.

Segunda situação. Você ouve o grito desesperado de um bebê chorando no interior de uma casa. Chega a pensar que a pobre criancinha está sendo torturada. Ao averiguar mais de perto, depara-se com a imagem de um menino sentado no colo da mãe. Ela segura uma colher de remédio. O garoto detesta tomar a dose amarga e ruim; seu protesto é vigoroso. Ela, por outro lado, deseja a cura do filho doente e não se importa com seu desgosto momentâneo.

A julgar somente pelo que se ouve, dificilmente a realidade seria conhecida. Examinando bem, a conclusão, passa a ser diametralmente oposta. O que antes parecia mal, tornou-se um bem no momento em que o fato foi conhecido por completo.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes empresariais. Tem excelentes resultados na interação estratégica entre as áreas de vendas e marketing. Contato: shapiro@shapiro.com.br