26 de dez. de 2008

QUEM TEM FAMA...

ABRAHAM SHAPIRO

Em tempos como os atuais, inúmeras propostas de novos consultores surgem no mercado. Consultoria é uma necessidade de qualquer empresa - esteja bem ou mal. Mas é preciso cuidado.

Várias vezes alertei empresários e executivos quanto ao critério de seletividade que devem ter. Consultores famosos também estão contidos nesta advertência.

Saiba que fama não é algo que se obtém só com resultados. Bom seria se fosse. Mas há quem consiga popularidade através de divulgação, propaganda etc. Aí complica.

Há uma história que ouvi de um senhor italiano idoso que ilustra bem a ilusão de que a fama garante sucesso nos objetivos que se deseja alcançar. Já vi empresas investirem recursos volumosos em consultorias e, no meio de tanto movimento, se esqueceram do básico. Lembre-se: é o básico que move a produção, a administração e a motivação. No final, elas perdem o rumo e muito dinheiro que acaba indo embora para nunca mais voltar.

Contou-me o velho Beppo Piagentinni que por volta do ano de 1.700, um viandante italiano tinha um potro. Este potro era tudo o que ele possuía, e por isso gostava dele mais do que qualquer outra coisa. Em suas andanças, o potro morreu e o rapaz tornou-se deprimido e triste.

Certo dia, chegou a uma aldeia cujo padre, compadecendo-se dele, ofereceu-lhe de presente um belo e forte burro. O viandante criou amor ao animal, pois lhe era de grande serventia em suas caminhadas. Um dia, o burro caiu e morreu. O viajante cavou-lhe uma sepultura em um outeiro e pôs em cima duas estacas. Amarrou uma faixa de pano como bandeira, a fim de indicar que ali estava enterrado seu amigo orelhudo. Depois sentou-se no outeiro e pranteou-o.

No dia seguinte, um passante viu o nosso amigo sentado no outeiro e dos seus olhos corriam lágrimas como se fosse água. Pensou o homem: "Em verdade, aqui deve estar enterrado um homem muito santo". Tirou uma moeda do bolso e entregou-a ao viandante. Passaram outras pessoas e, uma a uma, todas deram dinheiro a ele. Nos dias seguintes, mais gente passou. Alguns ficaram no outeiro, construíram lugares para morar e ergueram uma capela.

Correu a notícia de que um homem santo estava enterrado naquele local, e começou a chegar gente de todos os cantos trazendo donativos em dinheiro, em gado e em bens. Muitos doentes vieram buscar cura. Difundiu-se o rumor de que o viandante era um homem benévolo, e concedia sua misericórdia a todos os que procuravam justiça.

Ecos de tais relatos chegaram aos ouvidos do padre – o mesmo que havia dado o burro ao viandante – e ele também veio rezar. Dirigiu-se à capela e, depois, conduziu penitências junto ao túmulo do homem santo, no outeiro. Mas qual não foi o seu espanto quando viu lá o infeliz viajante. Ficaram realmente satisfeitos em se encontrarem. O padre perguntou: "Diga-me uma coisa, amigo, qual é o nome do santo homem que está enterrado aqui?"

Os olhos do viajante turvaram-se com o embaraço e ele começou a gaguejar: "Eu... eu... vou contar toda a verdade. Não há nenhum homem santo enterrado aqui. É apenas o burro, presente seu".

O padre olhou-o sério e em seguida explodiu numa gargalhada incontida. O viandante ficou sem entender o que se passava, quando o padre, recobrando o fôlego, pôs-se a falar: "Você se lembra do túmulo do homem santo na minha aldeia e da capela ?"

- "É claro, lembro, lembro, sim".

- "Pois bem, amigo – consolou-o o padre – não se aflija. Não há santo algum enterrado lá. Somente a mãe do burro que você enterrou aqui".


Moral da história: Fama é algo que só serve para admirar.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Tem resultados na interação entre as áreas de vendas e marketing. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473