21 de jun. de 2008

UMA HISTORINHA NÃO MUITO RARA

ABRAHAM SHAPIRO

Era uma vez, um comerciante perito em passar pessoas para trás. Horácio era ganacioso, ardiloso, porém, carismático. Não tinha dificuldade alguma em enganar pessoas a seu respeito fazendo-as pensar que era generoso e justo - como ele mesmo as instruía verbalmente em repetidos discursos e comentários de leituras que fazia. Dava livros aos seus funcionários e marcava sessões de leitura conjunta para que pensassem que estava cuidando de seu desenvolvimento pessoal e cultural.

Aos olhos de qualquer indivíduo com um mínimo de visão, não existia dificuldade alguma em perceber que Horácio era um homem malvado por natureza. Prejudicava familiares, criticava seus pais publicamente chamando-os de fracassados, lesava sócios e funcionários em acertos de contas e ainda demonstrava inveja desmedida por quem alcançasse o sucesso. Cobiça por status social era sua maior obsessão.

Os que já o conheciam bem não lhe poupavam maledicências. Sua coleção de inimigos reunia gente de todos os segmentos, não só consangüíneos. Vários dos que estavam à sua volta, porém, o admiravam. Sua magia pessoal - típica de um autêntico indivíduo do mal - enfeitiçava gerentes e colaboradores a ponto de fazê-los depor, com falsos testemunhos, contra funcionários que o acionavam na justiça.

Certo dia, um gerente desta empresa teve problemas de saúde por cumprir, ao longo de anos, pesadíssimas cargas horárias de trabalho. Com o passar do tempo, os danos foram se agravando até proporções preocupantes. Um médico prescreveu-lhe antidepressivos e outros medicamentos psiquiátricos para controle do sono. Sua situação se agravava cada vez mais. Chegou o dia em que, sem outra opção e já em estado de saúde excessivamente descompensado, o fulano foi obrigado a desligar-se da empresa.

Não é preciso dizer quanto foi desmoralizado publicamente diante de seus colegas. O patrão o desclassificou como profissional e até culpou-o pela queda da receita da empresa frente aos concorrentes nos últimos meses de sua gestão.

É fácil imaginar como esta história termina. O gerente que, por tantas vezes fôra uma daquelas tantas falsas testemunhas, era, agora, vítima da mesma armadilha. Seu acerto foi uma verdadeira e miserável traição, um vilipêndio vergonhoso e declarado. No entanto, todos os detalhes documentais foram bem executados. Era difícil, senão impossível, reclamar na justiça contra o imoral acerto que lhe foi imposto.

Uma lição dolorosa, no entanto real. O que fazemos com os outros nunca imaginamos que será feito conosco. Todavia, não esquecer que esta é a lei da vida pode ser bom demais à saúde. Cedo ou tarde, a balança da justiça natural atua sobre bons e maus, e a recompensa ou punição chega.

Se você está junto de uma pessoa que, como procedimento habitual, passa outras para trás, você continuar do lado dela pode ter dois finais diferentes. Primeiro: enquanto ficar onde está, você é um forte candidato à classificação de cúmplice - e a qualquer momento você será eleito como tal. Segundo: ao querer desligar-se dela, você poderá ferir-se com a seta envenenada com que sempre viu outros serem atingidos. Agora você tornou-se o alvo. Eu lhe garanto isso! _________________________________


Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473