4 de mar. de 2008

POR QUÊ É DIFÍCIL MANTER UMA LOJA NO BRASIL?

ABRAHAM SHAPIRO

Recentemente, iniciei um trabalho no setor de micro e pequeno varejos. Deparei-me com uma realidade preocupante, que deveria estar no centro das atenções dos governos. É assustador o número de empresas do setor que dissipam energia boa e recursos em superar dificuldades, que comprometem sua saúde e seu futuro.

O micro e pequeno varejo representam um potencial imenso de geração de riqueza. No entanto, poucos acreditam nisso. Torna-se um sonho inatingível, pois, com raras exceções, é difícil alcançar o sucesso de uma loja no Brasil.

O setor apresenta fatos e ocorrências importantes para uma análise. Considerá-los pode ser a chave de sua viabilização. Perfil dos investidores é o primeiro ponto. São normalmente pessoas que lançam mão de economias pessoais ou dispõem de bens familiares em busca dos lucros da atividade comercial. Abrem as portas de um estabelecimento e, em curtíssimo tempo, vêem-se perdidos com a alta rotatividade de funcionários, a carência de princípios de comércio, falta de conhecimento de padrões de atendimento, entre outras tantas deficiências. Estas fraquezas se opõem à conversão de esforços em vendas efetivas, o que chega a produzir premissas psicológicas erradas sobre o segmento. Ouvi de uma lojista de bijuterias: “Sou uma sofredora do comércio”.

O estado emocional predominante entre pequenos varejistas é o desânimo. Quando o sonho do varejo não se realiza, o proprietário busca vender seu negócio para um segundo intressado. Conta, então, com a sorte e, invariavelmente, precisa camuflar a realidade desfavorável interna de sua empresa. O novo investidor o adquire movido pela crença de potencial do mercado, fiando-se em suas aptidões naturais, porém, raramente especializadas. Ele não se dá conta de que está entrando em um moto perpétuo de ineficiência e amadorismo que consome quantias enormes de dinheiro e o transforma rapidamente em pó.

No entanto, o micro e pequeno varejos são, incontestavelmente, uma fonte de riqueza e valor em todo o mundo, desde os tempos da Bíblia. Qual o real motivo de não o ser no Brasil?

Nem a concorrência, nem as grandes redes ou o governo são culpados. O problema está concentrado no despreparo técnico dos investidores.

Ter um negócio implica diretamente em conhecer rotinas que aparentam ser simples, mas exigem prática. Buscar um ponto na praça - no shopping ou na rua, detectar público alvo, conceituar o negócio de acordo com o público, organizar o lay out, decorar a loja,determinar o mix de produtos, descobrir fornecedores, comprar, precificar, selecionar funcionários, treiná-los ao atendimento, relacionar-se com o cliente, cuidar dos aspectos sensoriais, agregar serviços como vantagem competitiva, planejar e atuar dentro das regras de marketing, além de todas as operações financeiras de praxe, são só alguns exemplos da lista de habilidades mínimas.

Quantos são os empresários que reúnem estas competências? O preço de sua ignorância aparece nas crises, nas dificuldades de venda, na alta rotatividade de funcionários e a decadência do negócio.

O português claro? Falta qualificação. Boa vontade, pensamento positivo e fé não mantêm negócio algum em operação. Nem no Brasil !
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473