21 de jul. de 2007

UMA VISÃO DE CONSEQÜÊNCIA

ABRAHAM SHAPIRO

Pense nas primeiras tentativas de vôo empreendidas pelo homem. Inventores saltando de um penhasco com suas engenhocas malucas, batendo asas ou pedalando hélices. O tolo pensava estar voando quando, na realidade, caia. Sem saberem que sua geringonça ia espatifar logo mais, eles se iludiam com o sucesso enquanto o solo ainda estava longe. O vento no rosto os fazia pensar que estavam voando.

Tomemos isso como metáfora. Exatamente assim é a nossa civilização. O penhasco alto representa nossos recursos aparentemente ilimitados do início da primeira revolução industrial. Nosso avião não voa pelos mesmos motivos porque as primeiras invenções não voavam. A gravidade o faz cair. Assim, também, nossa civilização não voa exatamente porque não foi construída segunda as leis da aerodinâmica para civilizações voarem. Mas o solo ainda está longe. E por isso, pensamos estar voando e o futuro parece garantido. No entanto, há alguns que já viram o chão se aproximar antes da maioria de nós. Os visionários viram isso e nos contaram.

Não há um único documento científico escrito nos últimos vinte e cinco anos que contradiga este cenário. Todos os sistemas de vida da Terra estão em declínio total e vertiginoso. Todo sistema de suporte à vida está em declínio e, juntos, eles formam a biosfera que nutre a vida – não só a nossa, mas talvez, a de trinta milhões de outras espécies do planeta.

A empresa típica do nosso século é extrativa porque tira da terra a matéria-prima do que fabrica, desperdiçadora, abusiva, linear em seus processos, destrutiva e lança resíduos à biosfera: gases no ar, líquidos nos rios e sólidos em lixões.

Por outro lado, é assombroso o quanto a terra precisa produzir para a indústria conseguir R$ 1,00 de lucro através da extração.

Portanto, estamos deixando um terrível legado de veneno e ruína ambiental para os netos de nossos netos, as gerações ainda não nascidas. Alguns chamam isso de Tirania Intergeracional, isto é, uma forma de imposto sem representação arrecadado compulsoriamente de gerações futuras.

Isso está errado.

Se você é um empresário, o que sua empresa faz pelo ambiente? Pouco? Talvez nada? Se você é apenas um leitor aparentemente indefeso, o que você faz? Com que consciência adquire e usa produtos que agridem o ambiente? Como dispõe o lixo gerado em sua casa? Quanta água você utiliza? O que os candidatos que você escolheu nas últimas eleições estão fazendo a respeito do ambiente?

Talvez você seja aquela bondosa dona-de-casa que pacientemente “varre” a calçada com o jato de água produzido por uma bomba de alta pressão todos os dias. Horas e horas “limpando” e embelezando a fachada de sua casa com água da torneira. Vai aqui um aviso. No ritmo em que as questões da água vão em todo o mundo, em pouco tempo a senhora poderá ser condenada à injeção letal por este comportamento política e ecologicamente incorreto. Continue assim e a senhora verá o que lhe espera!

A verdade é que precisamos construir um mundo sustentável, sob todas as óticas possíveis. Chegará o dia em que um produto não fabricado de modo sustentável não será consumido de modo algum. Esta será a lei. Este dia chegará! Eu só temo que seja tarde demais.

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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473