A filha de Mohan Srivastava tem
apenas oito anos, mas já sabe como apontar bilhetes de loteria vencedores em 90
por cento das vezes. Ela não é uma profetisa, nem um gênio – é um truque que
aprendeu com seu pai, um estatístico, que, como profissão, procura padrões
ocultos entre números aparentemente aleatórios.
Mohan é um detetive, um cão de caça
estatístico que mora em Toronto, Canadá, e faz consultoria para algumas
empresas mineradoras de ouro. Seu trabalho consiste em analisar dados a partir
de amostras de rocha para ajudar a decidir se vale a pena cavar uma mina ali.
As rochas não revelam seus segredos com muita facilidade. Um estatístico
geológico precisa conhecer os diferentes tipos de rochas, as forças que agem
sobre elas, e como os metais naquelas rochas reagem àquelas forças.
Minerar bilhetes de loteria em busca
de dinheiro funciona da mesma maneira, como ele descobriu certo dia meio que
por acaso. Alguém tinha dado a ele dois cartões para raspar em busca de
prêmios; o primeiro nada tinha e o segundo era premiado. Aquilo o deixou
intrigado: o que fez daquele segundo cartão um vencedor?
Para entender o código você tem de
entender o cartão. Talvez fosse experiência, talvez fosse sorte, ou talvez uma
combinação das duas, ou até mesmo alguma outra coisa. Mas a ideia caiu de
repente em sua mente enquanto ele caminhava pelo posto de gasolina onde tinha
recebido seus 3 dólares pelo bilhete premiado.
“Aquele jogo não pode ser aleatório,” pensou
Mohan. A empresa da loteria apenas faz parecer desse jeito para deixar o
comprador esperançoso. Deve haver algum algoritmo, algumas regras lógicas
estabelecidas por computador, que faz pender a probabilidade em favor da
loteria, enquanto tenta o cliente com uma chance aparentemente boa de ganhar.
Neste caso, alguma coisa sobre os próprios números deveria revelar aquele
código oculto.”
Com certeza, fazia mesmo. Para
entender o código você tem de entender o cartão. No lado direito há uma relação
de números de dois dígitos entre 01 e 30, arranjados em quadradinhos de 3x3. A
maioria dos números aparece no cartão duas ou três vezes. Alguns poucos números
aparecem apenas uma vez. No lado esquerdo do cartão está a superficio de latex
com “seus números” por baixo. Se três dos “seus números” aparecerem em
sequência em qualquer um dos cartões, você ganha.
O truque é este. A empresa da
loteria assegura que dos muitos números escondidos no lado esquerdo, somente
uns poucos combinam com os números revelados no lado direito. E aqueles que
combinam aparecem apenas uma vez. A questão aqui é que se você encontrar na
loja um cartão com três “combinados” em seguida, você pode ter quase certeza de
que é premiado.
Em junho de 2003, a Ontario Lottery
Corporation ignorou os telefonemas e e-mails de Srivastava alegando que ele
tinha encontrado uma falha no jogo. O que eles não ignoraram, porém, foi o
pacote de bilhetes não raspados que ele enviou pelo correio ao Diretor da
empresa, juntamente com sua alegação de que 90% deveriam ser premiados. Eles
foram, e o jogo foi retirado das prateleiras no dia seguinte.
O jogo pode ter acabado, mas o
algoritmo não. Há centenas de variações desse jogo no Canadá, nos Estados
Unidos e em muitos lugares do mundo, e podem todos ser manuseados da mesma
maneira – alguns com 60% de precisão, outros com 70, 80, 90 ou mais.
Mohan acredita que ele não é o único
que desvendou o código. Por exemplo, há muitos multimilionários que conseguiram
ganhar não em um jogo grande, mas em centenas de jogos pequenos. Seu padrão de
vencedores é exatamente aquele se esperaria de um jogo “explorado” onde o
algoritmo foi decodificado.