6 de ago. de 2009

NO REINO DA INCOMPETÊNCIA

ABRAHAM SHAPIRO

Era uma vez uma funcionária que ia de mal a pior numa determinada função da empresa. Não devia nem ser contratada, pois, padecia de sérios desvios de personalidade. Mas o RH, dado a ser paternal e bondoso, mal se certificava do conteúdo encefálico de suas seleções, trazendo para dentro da companhia um sem número de idiotas, entre outros.

Depois de problemas com colegas do setor, ela achou que teria melhor desempenho em outra área. É natural pensar assim, apesar de nunca dar certo, pois, problemas de relacionamento são como um câncer: ou se o extirpa, ou ele mata. O chefe, outro incompetente que, movido por pena e acreditando que as coisas se resolvem por si, deu um jeitinho para não demiti-la e convenceu o gerente ao lado a assumir o abacaxi. Este último,na boa vontade, assentou-a como sua colaboradora.

No começo, tudo é bom e cheio de esperança. Ela fez planos e projetos. Acreditou que seria um sucesso, porém, nunca se dedicou com seriedade ao que devia. Só intenções. O tempo passou. Quando ela observou que todos à sua volta trabalhavam bem, exceto ela, deixou extravazar suas mazelas pessoais e criou novos problemas. O novo chefe já pensava em demiti-la a essas alturas, mas por medo ou sei-lá-o-quê, atrasou sua iniciativa até que certo dia, num arroubo de revolta temperada com inveja do sucesso dos demais e competitividade, ela "armou um barraco", e pedindo as contas, saiu falando mal de D-us e todo mundo, além de culpar quem nada tinha a ver com seus cabeludos problemas pessoais.

Esta é só uma breve e trágica história, bem parecida com tantas que acontecem diariamente em pequenas, médias e grandes empresas deste país. Não trata só de desequilíbrio emocional, traumas ou desvios, mas, primeiro, de incompetência profissional e depois, da falta de treinamento.

Milhares de pessoas se oferecem ao mercado de trabalho sem nenhuma formação técnica, sem habilidades desenvolvidas nem informação sobre comportamento e relacionamentos. São cruas para servirem ao severo mundo corporativo em frenética busca por resultados e, para isso, desempenho de alto nível.

Depois, as empresas investem pouco no treinamento de iniciantes. Estes são os que mais necessitam saber o que devem fazer, como fazer e qual padrão deve ser atingido em suas atividades. Após algumas semanas, os chefes empreendem cobranças impossíveis de serem correspondidas. É perda certa - em todas instâncias.

Nossos jovens carecem de qualificação profissional urgente. É preciso entender definitivamente isto. As empresas fazem o que podem. Mas não basta. É uma guerra assimétrica e desigual contra um sistema educacional que não prepara para a vida e nem para o trabalho. O déficit é todo da sociedade.

O final infeliz da história desta funcionária é pateticamente resumido por um colega seu que se expressou dizendo: “A gente até suporta os problemas cotidianos do trabalho e que de vez em quando nos tiram do sério. Duro é ter que aguentar gente sem condições sequer de arrumar as camas em casa e pretende ocupar um cargo de responsabilidade numa organização”.

Mas emblemático, mesmo, foi o desfecho dado pelo gerente que a contratou por último: "A lição que tiro deste episódio é que, quando decidimos mandar embora um funcionário por mau comportamento, já estamos pelo menos três meses atrasados".

Ok. Mas treinamento podia ter sido um remédio poderoso!
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473