27 de fev. de 2009

"NÓIS TAMBÉM MERECE, NÉ?"

ABRAHAM SHAPIRO

A coisa funciona mais ou menos assim: o mundo civilizado planeja o ano por volta de outubro e novembro. Dezembro e janeiro são meses cujo foco se concentra nos contratos que garantirão as transações comerciais.

Com brasileiros é diferente. É um desvario.

Um país com necessidades tão urgentes se permite ao luxo de parar de 20 de dezembro a 7 de janeiro; volta a menos de 50% de sua capacidade após este período, e quando chega a quinta-feira de carnaval suspende todos os trabalhos para retornar só na segunda-feira da semana seguinte, mantendo invariavel e psicologicamente esta data como, de fato, o Ano Novo nacional. Mas, calma. O regresso às atividades se dá aos poucos, pois, ninguém é de ferro.

Qual a razão das pessoas de bem não promoverem uma campanha para mudança deste padrão daninho em que perde a economia e o desenvolvimento comportamental de todo o povo? O trabalho dignifica e concretiza esperanças, já que boa intenção é pouco e todo mundo sabe que não funciona. Mas não é isto que "roda" no pensamento nacional. O softare instalado é uma orgia que vem se transformando crescentemente em pressão de consumo sobre classes de baixo poder aquisitivo. Um exemplo? Viagens à praia no verão e no carnaval. Algo precisaria ser feito em busca do equilíbrio de uma situação em que se vêem cada vez mais pessoas levantando empréstimos monetários para cumprir este compromisso frente a amigos, parentes e vizinhos. Ouvi uma jovem senhora comentar com o marido: " Eu é que não vou pagar o mico de dizer que não tivemos grana para passar uma semana em Santos".

O carnaval pode, sim, justificar o movimento de negócios em torno do turismo em centros tradicionais, como Recife, Salvador, Rio de Janeiro e outros. Porém, sendo datas cujo trabalho é facultativo, o que explica a generalizada interrupção por cinco ou seis dias nas atividades de um número massivo de empresas mesmo em localidades onde a festa não passa de uma simples menção no calendário?

Feriados e mais feriados. Por que? Para quê? Quem celebra santo padroeiro? Chega de churrasco e cerveja. Os céus serão mais louvados com menos violência alcoólica. Chega de queimar gasolina à toa. É diversão demais para um povo que precisa de trabalho.

Temos que faturar. O momento é favorável ao Brasil. Nada de dar início ao processo comercial depois que o "filé" já foi negociado. Se sentássemos nas rodadas de negócios como gente grande e na hora certa, garantiríamos margens mais fartas. Talvez assim nos apaixonássemos pela produção de produtos com mais valor agregado. Commodities, commodities, até quando seremos somente uma fazenda? Podemos fazer mais e melhor. Existe sucesso além da agricultura - que é uma vitória e uma vocação brasileiras. Mas é hora de somarmos novas alternativas, com lucidez.

Perdoem-me os conservadores. Eu opto por um movimento de otimização do calendário. Sejamos coerentes: vamos trabalhar. Precisamos de serviço. Queremos movimento.

Aos farofeiros, vai aqui minha mensagem: praia com dinheiro na conta é verdadeira diversão, e todo mundo merece. O que não dá para entender é a razão de tantos assumirem o direito ao luxo e ao conforto quando suas famílias não têm casa, nem saúde, a educação é uma falácia e a aposentadoria de suas três próximas gerações está irreversivelmente falida!

Mas tudo bem. A folia continua. Porque tudo é carnaval!!!
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Tem resultados na interação entre as áreas de vendas e marketing. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473