18 de fev. de 2009

MALDITA FORMATURA

ABRAHAM SHAPIRO

O que acontece numa cerimônia de formatura? Por que as pessoas fazem questão de ser tão óbvias e de falar mentiras ao microfone? Por que jogar no lixo a oportunidade de analisar a falência sistêmica da educação, ali mesmo?

Dos quinze discursos com que fui psicologicamente torturado na formatura daquela recentemente reconhecida universidade, mês passado, todos, absolutamente, faziam menção ao "tremendo esforço" com que os formandos conquistaram seus diplomas. "Que sacrifício deve ter sido" - pensava eu.

Ouvi doutores e mestres usarem a língua portuguesa com a mesma habilidade com que eu pilotaria um avião caça Sukhoi 33 Flanker. Lembrete: eu tenho o direito de não saber pilotar um caça.

Aquela palhaçada me fazia crer que o "esforço" e a "renúncia à diversão e aos bons momentos em família" a que se referiam, eram, de fato, uma farsa usada como propaganda comercial. Aliás, ruim. Estavam vendendo a faculdadezinha emporcalhada de professores fracassados, de péssima formação, sem nenhuma prática nas áreas que fingem ensinar e que não passam de operários de uma linha de produção em série de pseudo-profissionais.

Estarei sendo injusto? Sim, se não ressalvar os bons e dedicados professores quase invisíveis.

É só olhar para o nível da mão-de-obra ofertada ao mercado de trabalho. Quem faz recrutamento e seleção de pessoas em empresas ou agências de emprego vê todos os dias que estou certo.

Quantos alunos dedicam o tempo mínimo que é requerido de um completo ignorante para dar o primeiro passo nesta longa jornada de conhecimento em que consiste cada disciplina de qualquer curso superior? Estes minimamente dedicados tendem a ser o supra-sumo da liderança empresarial de sua geração, pois, relativamente, são os que mais sabem. A esmagadora massa de diplomados mal-preparados que vão na garupa destes, sairá num combate degradante pelas poucas e mal remuneradas vagas, com baixíssimas perspectivas de crescimento.

Por conta disto, as empresas que os empregarem terão que arcar com investimento milionário em treinamento para complementar a deficiência dos entrantes em seus quadros. Só assim terão assegurada a integridade de seus processos contra a inépcia de "burros com iniciativa".

Jornalistas que não sabem escrever. Engenheiros que desconhecem cálculo. Contadores que só o serão, basicamente, após a terceira ou quarta especialização. Médicos carniceiros. Financistas que ignoram matemática financeira. Dentistas, administradores, arquitetos e tantos outros que, sem competência sequer para a leitura pública de uma estória infantil, são verdadeiros analfabetos funcionais – lêem, mas não entendem o conteúdo. Nesta horda incompetente estão incluídos os próximos professores, os próximos a enaltecer seus pupilos por esforços e sacrifícios despendidos na conquista de seus diplomas.

Cegos guiando cegos? Até quando? O que porá fim à indústria criminosa de diplomas? E quem fará valer qualquer critério? Humanos, não. É tarefa só possível a anjos guerreiros.

A fome pelos rendimentos deste fabuloso negócio é tamanha que, não contentes com a receita dos cursos regulares, desenvolvem novas propostas de produtos. Entre eles, as famosas "pós-graduações" – algo comparável somente à esperança de um messias. "Entrei na faculdade. Pago as mensalidades em dia. É claro que vou passar. Ninguém é de ferro. Vou cair na balada. Sem problemas. Depois do canudo, faço uma pós, e tudo bem. Sairei vice-presidente de uma grande companhia. Se não, ponho uma empresa e em cinco anos terei meu próprio helicóptero!!!" Isto é o que pensa a maioria dos estudantes de hoje.

Naquela cerimônia dos infernos, eu já me perguntava:"O que é um formando? O que significa um diploma? O que é esforço? Oh D-us, estarei enlouquecendo? Já não sei mais nada! Emburreci! Talvez por isso eu mereça "ganhar" um novo diploma". Na minha alucinação, tive de me conter para não começar a gritar desesperado: "Eu imploro: discursos não, discursos não!!!"
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Tem resultados na interação entre as áreas de vendas e marketing. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473