1 de fev. de 2009

UMA HISTÓRIA DE SABEDORIA

ABRAHAM SHAPIRO

Jerusalém sempre foi a "cidade do coração" do povo Judeu. No passado foi muito mais famosa que hoje. Sua fama se fazia no mundo inteiro. Jerusalém de ouro! Respeitada e honrada por todos os povos. Era celebrada não só por sua beleza, mas também pela sabedoria de seus filhos. Quando um jerusalemita aportava a qualquer lugar, recebiam-no com honrarias e, de todos os lados, acorriam para ouvir sua sabedoria. Vale transmitir um exemplo.

Sucedeu que um cidadão de Jerusalém, muito honrado e rico, foi passar algum tempo na província. Enquanto lá estava, adoeceu de repente, ficando à morte. Antes de expirar, porém, chamou o dono da hospedaria, entregou-lhe todo o dinheiro que possuía e lhe disse:

- Se porventura o meu filho e herdeiro vier de Jerusalém procurar o dinheiro, não lhe dês nada, a não ser que te apresente três idéias sagazes.

O ricaço morreu e foi enterrado. Decorreu algum tempo, até que chegou o filho.

Ora, na cidade fôra combinado que ninguém mostraria ao forasteiro a casa de qualquer pessoa por quem perguntasse. Ao adentrar no portão, o heredeiro viu um homem no mercado, carregando um feixe de lenha.

- É para vender? - perguntou o recém-chegado.

- Sim - respondeu o carregador.

- Aqui está o preço da lenha. Agora tu deves levá-la a Fulano. - E deu o nome do estalajadeiro.

O carregador de lenha seguiu à frente e o herdeiro atrás, até chegarem ao pátio da casa que ele procurava.

- Oh, Fulano, aqui está tua lenda - gritou o lenhador ao dono da casa.

- Que lenha? - perguntou este, admirado. - Não te mandei trazer lenha.

- Não mesmo. Quem mandou trazê-la foi este homem que vem atrás de mim - disse o carregador.

O dono da casa deu então as boas-vindas ao hóspede, desejando-lhe Shalom Alêihem. Tendo recebido o Alêihem Shalom de retorno do rapaz, levou-o para dentro de casa.

- Quem é o jovem? - perguntou ele.

- Eu sou o filho daquele homem que morreu em tua hospedaria.

A tais palavras o dono da casa recebeu-o muito bem e preparou-lhe uma refeição. Em torno da mesa, sentou-se toda a família: o pai, a mãe, dois filhos e duas filhas. Sirviram-se cinco frangos assados e o anfitrião concedeu ao hóspede a honra de reparti-los. Este se negou a fazê-lo. Todavia, diante da insistência do estalajadeiro, o convidado fez-lhe a vontade e repartiu os frangos: colocou um entre o marido e a mulher, outro entre os dois filhos, o terceiro entre as duas filhas e os dois restantes avocou para si. Todos comeram sem comentar a estranha partilha.

Ao jantar serviram à mesa uma galinha recheada. O hospedeiro voltou a rogar ao herdeiro que a repartisse. Este concordou novamente e fez a seguinte divisão: deu a cabeça ao dono da casa; os miúdos à mulher; as duas coxas aos dois filhos; as duas asas às duas filhas e ficou com o corpo inteiro da galinha.

A essa altura, o estalajadeiro não se conteve e perguntou-lhe:

- Peço desculpas, jovem, mas nào é uma maneira estranha de repartir? Esse é o costume da tua região?

- Claro, meu senhor - respondeu o hóspede, solícito - sabes muito bem que nas duas vezes recusei-me a fazer a partilha, pois, a falar a verdade, não competia a mim. No entanto, julgo que, em ambas as vezes, reparti devidamente. Na primeira vez, trouxeram-me cinco frangos: entreguei um para ti e tua esposa, formando três no conjunto. A teus filhos dei um frango, constituindo novamente três. Tuas duas filhas receberam igualmente um frango: três, portanto. E, quanto a mim, fiquei com dois frangos, também formando nào mais que três. Por quê? Por acaso tirei parte de outrém? Quanto à galinha recheada, a cabeça te coube, por seres o cabeça da casa. Os miúdos à tua mulher: do seu ventre saíram os filhos. As duas coxas aos teus filhos: eles são os pilares da casa. As duas asas às tuas filhas: amanhã, se Deus quiser, elas casam e "voam" daqui com seus maridos. E finalmente quanto a mim peguei o "barco": num barco vim e num barco irei embora. Portanto, devolve-me o dinheiro que meu pai deixou contigo e permite que eu parta.

Depois destas três ideias sábias do herdeiro, o estalajadeiro nada mais disse, devolveu-lhe logo o que era seu e deixou-o ir em paz.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Tem resultados na interação entre as áreas de vendas e marketing. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473