Artigo publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, em 11/02/2013, na coluna ABRAHAM SHAPIRO, em Empregos e Concursos.
ABRAHAM SHAPIRO
A vida de hoje em dia é feita em grande parte de polaridades. No ritmo alucinante com que tantos homens e mulheres de negócios levam sua existência, as questões mais difíceis de resolver recaem sobre aqueles que desejam manter alguns valores vitais – especialmente os que “não têm preço”. A maior de todas elas é: “Como posso me dedicar com a mesma intensidade à empresa e à família?”
O modo como um líder administra suas polaridades é o que finalmente determinará o veredito entre ter sido ele ‘grande’ ou ‘banal’ no discurso póstumo que lhe farão, e não o volume patrimonial que ele juntou!
Nas empresas familiares, no entanto, a pergunta acima é definitiva num contexto ainda pouquíssimo considerado. Ela é, na verdade, o núcleo psicológico da sucessão, do êxito e da continuidade saudável dos negócios.
Veja este cenário. O pai implantou sua pequena empresa com grande sacrifício. Trabalhou doze, quinze horas por dia, sete dias por semana, por anos e anos. Saía de casa quando ninguém havia acordado, e retornava quando todos já dormiam. O negócio desenvolveu, tornou-se potente e dominou seu setor. A família enriqueceu. Seus bens garantem, hoje, a sobrevivência tranquila das três ou quatro gerações seguintes, pelo menos. Chegou a hora de passar o bastão. Movido por uma imagem bíblica ou da história feudal, o pai acredita que o filho será a sua perfeita continuidade negocial e ideológica.
História bem conhecida! Ela talvez seja o resumo de 99% das organizações familiares do país. O que, no entanto, ela contém de extraordinário é algo que pouquíssimos pais imaginam, e que, a qualquer momento, será o núcleo decisivo central do processo de continuidade de seus negócios. Algo tão simples quanto passível de desprezo pelos verdadeiramente culpados deste mal. O filho vê a empresa como sua grande concorrente ao amor do pai. Sua tendência natural será a rejeição ou eliminação sumária de sua grande “inimiga”. Mas ele – o filho – deve cuidar das aparências sociais. E, além disso, a empresa é seu grande meio de obtenção de sustento – ou luxo. Ele poderá assumir sua direção, sim. Contudo, não terá dedicação. Será frívolo e motivado somente pelo lucro.
Existe uma acusação inconsciente na mente do filho. Seu pai tanto fez pela empresa que se esqueceu de dar a ele o devido e necessário tempo. Seus anos de infância e adolescência se converteram em peso ou angústia ao ver o pai endeusar os negócios em detrimento do relacionamento familiar.
A lição? Qualquer sucessão futura depende infinitamente mais dos valores intangíveis cultivados hoje do que dos lucros financeiros reais transferíveis de amanhã.
Direi o que devia ser dito. Equilíbrio é a palavra chave. Mais que isso. Não importa por quanto tempo você tenha acreditado estar apenas na riqueza monetária o bem-estar que você sempre sonhou legar à sua família. “Equilíbrio” é a senha que inequivocamente lhe dará acesso total e irrestrito a isto. E a muito mais. ______________________
Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é simplicidade. É autor do livro "Torta de Chocolate não Mata a Fome - Inspirações para a Vida, o Trabalho e os Relacionamentos", Editora nVersos, 2012. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473